Para infortúnio dos simplistas, a resposta a esta pergunta é a mesma do que para a grande maioria das perguntas generalistas, no que aos cuidados de pele diz respeito. Pode ou não usar retinol no verão? Depende. E depende de quê? Depende de várias coisas. É sobre elas que vamos falar.
Porque é que o retinol está tão na moda?
O retinol está na moda e, para muitos, é a estrela das rotinas de beleza noturna. Toda a gente fala dele, toda a gente quer usar. Antes de outra coisa, paremos para perceber porquê.
Quando falamos em retinol e em todas as moléculas da família dos retinóides (retinol, retinal, ácido retinóico e retinil palmitato), falamos em ingredientes muito eficazes na prevenção e correção (mantendo as expectativas realistas) dos sinais de envelhecimento. São também um bom aliado no tratamento da acne e na melhoria da homogeneidade do tom e da textura da pele. É um todo-o-terreno dos cuidados de pele. Consegue todos estes feitos porque atua promovendo a renovação celular da pele.
São tudo rosas? Não são tudo rosas. Quando a esmola é grande, o pobre desconfia e, com retinol, temos de ter noção de que toda esta aceleração na renovação celular deixa a pele mais sensível – e daí haver todo um processo para introduzir o retinol na rotina e a ideia generalizada de que, com retinol, muito provavelmente tudo piora antes de melhorar.
Posso usar retinol no verão?
“Não é contraindicado utilizar retinol no verão”, diz-nos Georgeta Munteanu, fisioterapeuta dermatofuncional, especializada em Cosmetologia Avançada, “mas é necessário ter cuidados acrescidos”. Começa por nos explicar que “não há evidência que o retinol diminua a dose necessária de radiação para a pele queimar”. Apesar de “não ser, teoricamente, fotossensibilizante”, o retinol pode, efetivamente, ter uma ação sensibilizante na pele, uma vez que aumenta a renovação epidérmica. “A pele escama, renova mais rapidamente, e a camada que vem de baixo pode queimar com mais facilidade.”
Ora, ter uma pele sensibilizada e somar a altura do ano onde se dão as maiores agressões a que está sujeita (sim, estamos a falar das radiações solares), pode ser uma má ideia. Mais com mais é mais. E, neste caso, mais problemas. O retinol e sol nunca vão ser amigos. A questão é quão amiga do sol a leitora é.
Quais são os riscos
Os riscos do uso de retinol no verão dependem essencialmente “da pessoa, do seu estilo de vida, se usa ou não protetor solar e se já usava retinoides”, enumera Georgeta.
Vamos imaginar que a leitora é como eu. Foi benzida com uma tensão baixíssima e tolera sol tanto como tolera discursos machistas. Se calhar dá um bocadinho igual. Se sabe que não vai ter longos períodos ao sol, se utiliza a quantidade de protetor solar recomendada (2 mg/cm2), se é melhor amiga das sombras e, por si, a temperatura nunca passava dos 22 graus… Pode, sim, continuar a utilizar retinol. Se a sua pele o tolera, não há porque parar.
Agora, se me diz que tenciona fazer praia durante os próximos 15 dias, o cenário é um bocadinho diferente. “Se a pessoa vai de férias e sabe que vai apanhar muito sol, aí mais vale não usar”, aconselha a especialista. Quando sabe, de antemão, que vai sujeitar a sua pele a radiação solar intensiva – mesmo com todos os cuidados – a última coisa de que precisa é de a comprometer ainda mais, usando um ativo tão poderoso como o retinol.
“Também depende se a pessoa já esta habituada ao uso de retinol”, acrescenta Georgeta. Nesta última variável há que ter em consideração que se “uma pessoa que nunca usou retinoides e vai começar no verão… Claro que não faz sentido”.
À partida, se o retinol já faz parte da sua rotina, não há uma força maior que proíba a sua utilização, desde que com todas as precauções. Precauções essas que, na verdade, deve considerar, utilizando ou não produtos com retinol.
Quais são os cuidados
O problema no uso do retinol no verão está proporcionalmente ligado com o nível de exposição solar a que a pessoa se sujeita. “Se souber gerir o uso do retinol com a sua vida, está tudo ok”, remata Georgeta. Tendo os princípios da proteção solar em dia – evitando a exposição solar nas horas de maior calor, aplicando uma camada generosa de protetor solar, reaplicando de duas em duas horas no caso se exposição prolongada, fazendo uso de chapéus, venerando as sombras e fugindo de solários -, não terá problemas.
Lembrando que o retinol deve ser usado à noite, uma vez que, por ser fotossensível, é degradado pela ação da luz. E, claro, a sua utilização reforça a necessidade da utilização de um protetor solar na manhã seguinte. A luz solar é a maior fonte de envelhecimento precoce da pele. Não usar protetor solar, mas insistir na utilização de retinoides é uma perda de tempo… e de dinheiro.
Se tem indicações médicas para interromper a sua utilização, ignore-me redondamente. Em princípio, um dermatologista que a siga vai ter sempre mais legitimidade para a aconselhar do que qualquer outra pessoa.
Agora que tem os factos do seu lado, pode fazer uma decisão consciente e informada, sem discursos empolados pelo medo. Sim, há riscos associados ao uso de retinol, mas não vale a pena fazer deste ativo um bicho-de-sete-cabeças. Tem obrigatoriamente de parar o uso de retinol durante o verão? Não tem. Vale a pena usá-lo durante os 15 dias que faz de praia? Não vale. Sabe que é uma amante hábil de banhos de sol e aproveita cada bocadinho livre para bronzear, nem que seja na varanda? Guarde o retinol e, por favor, use sempre protetor solar.