No espaço de pouco mais de um ano, a vida de Lupita Neyong’o, de 31 anos, mudou completamente. Tornou-se a menina de ouro da indústria da moda e os seus primeiros passos no mundo cinema bastaram para vencer um Óscar, o mais desejado prémio de qualquer ator que se preze, pela sua interpretação no filme ’12 Anos Escravo’. Para colmatar esta temporada de grande sucesso, a modelo e atriz, posou para a última capa da edição norte-americana da Vogue, tornando-se assim a segunda mulher africana de sempre a fazê-lo.
A sessão fotográfica para a capa da Vogue decorreu no passado mês de maio, em Marraqueche, cujas misteriosas ruas, independentemente das elevadas temperaturas, se enchem de vendedores, encantadores de cobras e contadores de histórias. Aqui a beleza única de Lupita, sob o fundo do luxuoso spa Ksar Char-Bagh, criou as condições necessárias à realização de um editorial exótico, num étnico mosaico de tons terra.
Na entrevista realizada para a Vogue, Lupita falou da sua experiência como uma das atuais faces da Lancôme, afirmando que aprecia o facto das embaixadoras da marca, que correntemente inclui nomes como Julia Roberts, Kate Winslet e Penélope Cruz, serem“mulheres muito diferentes e únicas – não se trata de conformar a uma ideia pré-estabelecida do que é a beleza, e eu gosto disso.” Lupita tem ativamente manifestado a sua visão de beleza, defendendo a ideia de que todas as mulheres são bonitas à sua maneira e que devem abraçar as características que as tornam únicas, mesmo que estas não se insiram naqueles que são os típicos padrões estéticos aceites pela sociedade. No entanto, Lupita não pensou sempre desta forma. No seu discurso para o Hollywood Lunchean da Essence Black Women recordou: “lembro-me de uma altura em que, também eu, não me sentia bonita.” A sua perspetiva, relativamente à sua aparência pessoal, acabaria por mudar nos anos noventa, quando a sudanesa Alek Wek começou a dar cartas no mundo da moda, ajudando Lupita a progressivamente rejeitar as inseguranças que sentia quanto à cor da sua pele e aos seus traços africanos.
A modelo afirma que sempre gostou de moda, e que desde cedo, no Kenya, começou a desenhar muitas das suas próprias roupas, incluíndo o seu vestido para o baile de finalistas quando terminou o Ensino Secundário em Nairobi, “porque era mais barato que comprar nas lojas”. Contudo, foi enquanto se preparava para uma série de eventos de promoção de ’12 Anos Escravo’, que se apercebeu que precisava de abordar com maior ponderação as suas escolhas de guarda-roupa. Nesta altura desenvolveu uma amizade com Michelle Dockery, a Lady Mary de ‘Downtown Abbey’, que por sua vez, a apresentou à sua atual estilista Micaela Erlanger. Recordando o momento em que se reuniu com Erlanger pela primeira vez, Lupita admite que levou consigo um álbum do Pinterest, repleto de ideias de moda, onde se evidenciavam “cores arrojadas, padrões interessantes, silhuetas interessantes”, traduzindo um visual “simples mas arquitetónico e feminino”. Segundo Erlanger, Lupita criava assim um look “elegante, mas com sentido de humor” Apesar de conservar o mesmo corte de cabelo desde os seus dezanove anos de idade, Lupita compensa com escolhas de maquilhagem corajosas, funcionando como uma espécie de acessório virtual, que complementa com o seu guarda-roupa.
Em relação às mudanças que o sucesso induziu repentinamente na sua vida, Lupita diz: “Parece que a indústria do entretenimento explodiu na minha vida. Pessoas que pareciam tão distantes de repente estavam mesmo à minha frente e reconheciam-me, mesmo antes de eu reconhecê-las!” Apesar de Lupita, aparentemente, lidar bem com a fama, encarando o público e os media sempre com tranquilidade, confessa à Vogue que “águas paradas, correm em profundidade”, revelando quanto às experiências vividas no tapete vermelho, que este “é uma zona de guerra”.
Os últimos projetos confirmados para Lupita incluem a participação na série ‘Game of Thrones’ e no próximo filme da saga Star Wars, a estrear em 2015. A este respeito, a atriz admite que embora sejam ambos formatos muito diferentes do filme ’12 Anos Escravo’, de Steve McQueen, “esse tipo de diversidade é do que são feitos os sonhos.”
Lupita tem sido uma inspiração para muitas mulheres em todo o mundo, incentivando-as a acreditar mais na sua unicidade e potencial. A Vogue reconhece, com esta capa, não só, a beleza de Lupita, e o seu destaque no mundo do entretenimento, mas também, a influência e o impacto que exerce socialmente, mexendo com os estereótipos atuais da beleza feminina.