Teresa Freitas de Sousa, mais conhecia pelo seu nome artístico Da Chick, antes de escolher os looks, na loja vintage ‘A Outra Face da Lua’, que irá usar para o seu próximo concerto dia 21 de dezembro no Musicbox, dispensou meia hora do seu tempo para falar um pouco com a ACTIVA e, após uma conversa amigável e divertida, ficámos a conhecer melhor esta funky girl que está a dar que falar tanto em Portugal como lá fora.
Foi entre várias peças vintage, onde não faltavam lenços, chapéus exóticos, camisolas com pérolas, que Teresa Sousa, a jovem artista portuguesa de 27 anos, começou por nos contar como nasceu o nome Da Chick.
“Foi um nome que tive de arranjar porque, quando fiz uma música, que por acaso correu bem, queria mostrá-la às pessoas e, nessa altura, ainda havia o myspace, e precisava de um nome para a publicar, e então pensei em Da Chick.”
Teresa continuou a revelar a origem do nome:
“Foi um pouco inspirado num dos filmes que gosto muito do Quentin Tarantino, que é o ‘Death Proof’, e e uma das músicas da banda sonora é ‘Chick Habit’. É também inspirado nesse ‘mood’ de girl power que está muito presente nesse tema”, confessou.
Fomos um pouco ao passado da música e trouxemos para a mesa o tema do Funk, um género musical que James Brown revolucionou e levou mais além. Quisemos saber o que levava Da Chick a caracterizar a sua música e a sua alma como funk. De sorriso nos lábios e nos olhos, respondeu “é uma boa pergunta”, e continuou a sorrir. Disse acreditar que o Funk possui uma irreverência, uma alegria e uma espontaneidade que sobressai essencialmente ao vivo.
“O Funk é uma coisa que geralmente sentes já em álbum, tem muito power, e ao vivo torna-se ainda mais evidente o que está à nossa frente” explicou. “Não é só a música, mas também o que se passa visualmente, e nesse sentido identifico-me muito por ser um estilo que vive muito da música ao vivo e da festa que se cria naquele momento, que é uma coisa que nem sempre é fácil de recriar em álbum ou em estúdio. Ao vivo é essencial e, nesse sentido, acho que tenho todos esses pontos, ou alguns, para me considerar uma girl do funk”.
Para Teresa Sousa estar em palco é algo muito positivo e que não a assusta, referindo que o único concerto em que se sentiu nervosa foi mesmo o primeiro de todos.
“A atitude com 100 pessoas ou com uma ou duas mil pessoas à minha frente é exatamente a mesma. É fazer a festa, é ouvir o que é bonito, mas o mais bonito é ver essas pessoas a aderirem e a mostrarem que estão a gostar, e dançarem e a mexerem-se, e a serem totalmente livres para fazerem o que quiserem”.
Da Chick não conseguiu dizer qual foi a sua melhor atuação até ao momento.
“É muito complicado! Este ano houve concertos muitos bons, o ano passado também houve, é muito difícil”, reforçou a afirmação a sorrir. “Houve uma altura em que conseguia dizer isso, agora já está dificil dizer qual é. Pois destes concertos todos surge um leque de bons e grandes momentos; todos os concertos têm um carinho e uma cariz especial por serem onde são; as salas também ajudam a ter bons concertos ou não e o público também contribui imenso para um bom concerto”.
Perguntámos à artista o que esta tem para nos contar sobre o seu álbum de estreia ‘Chick to Chick’. Teresa Sousa respondeu que um projeto que queria concretizar já há algum tempo era trazer o seu lado mais soul, o lado Da Chick, para a ribalta, esse que quase ninguém conhece, e mostrar a sua faceta de festa, que é aquela com que a maioria das pessoas está familiarizada.
“Este álbum mostra um bocado a bipolaridade que eu tenho”, desabafou Teresa Sousa. Não há aqui um assunto especificio, mas o conjunto do álbum está repleto de metáforas, de coisas que lhe vão surgindo e que pretende transportar para um mundo que não é real.
“E depois, com o lado novo, trago assuntos muito mais sérios, com músicas mais calmas, a falarem da minha alma, do que não gosto, de coisas que vivi, coisas que se calhar fizeram-me ser assim, e a ter momentos mais sérios, mas no geral é da chick all over”.
Entre o barulho da máquina do café a trabalhar e o cheiro da cafeína no ar, Da Chick realçou que, fora a música, o que de mais importante tem são os amigos e a família.
“Eles são tudo! Porque tirando a música é isso que uma pessoa tem, não é?” exclamou a cantora. “Tenho a felicidade de ter muitos amigos. Sou uma pessoa muito seleta em alguns aspectos, sei distinguir bem as coisas, mas sou super feliz por ter tanta gente à minha volta”, desabafou. “Também este mundo da música ajudou-me a conhecer muitas mais pessoas, e pessoas conhecem outras pessoas, e portanto o meu núcleo de amigos é vasto e rico”.
Teresa Sousa desabafou sobre como foi complicado abrir horizontes no seu núcleo familiar.
“Venho de uma família muito conservadora, nada relacionada com artes, portanto sempre fui a artista da familia; o resto da familia são pessoas muito sérias, no sentido de economistas, farmacêuticos…. Foi um bocado difícil fazer com que as pessoas acreditassem naquilo que quero fazer, mas, com o tempo, comecei a crescer e as pessoas perceberam que aqui há uma vontade que pode chegar a algum lado, e tem sido interessante ver isso. Mas tenho um carinho enorme pelos meus pais e pelo meu irmão. A família e os amigos são tudo para mim”.
Da Chick falou da conjuntura atual e lembrou que, antigamente, os artistas podiam viver somente da música porque o mercado e as editoras eram diferentes, e agora existem novas formas de fazer dinheiro.
“Mas esta geração de músicos novos até está a ter uma altura bastante interessante, em que se vê muito mais coisas a acontecer, mais apoios, mais festivais; há cinco anos nem sequer haviam festivais de inverno e as pessoas não investiam em musica, agora estamos a viver uma altura muito boa da musica”, realçou levantando uma outra questão no ar: “agora continua a não ser fácil, mas o problema não é da música, mas sim da cultura em geral, em Portugal é dificil…”
Da Chick gostava de ir uma temporada para os Estados Unidos da América, mas não quer viver lá porque adora Lisboa e Portugal.
“Adorava ir para Nova Iorque, trabalhar com músicos, expandir a minha carreira e ganhar experiência. Tenho um carinho espcial pelos Estados Unidos porque sinto que a minha música tem muita influência da cultura americana. E nesse sentido gostava de viver isso, porque canto isso, mas na verdade nunca o vivi, portanto é um bocado a ilusão daquilo que vejo nos filmes, aquilo que oiço, e que de certa forma vivo e tenho que transpor para este mundo”, desabafou a cantora.
A moda e a música são duas formas de artes distintas, mas que quando se juntam fazem ‘magia’.
“A minha música não era a mesma coisa se eu fosse para lá vestida ao calhas, de calças de ganga. Eu costumava vir aqui à loja ‘A Outra Face da Lua’ e numa altura que não me apetecia vestir a mesma coisa em palco (irritava-me com isso), criei uma parceria com a loja. Uso um look num concerto, devolvo algumas peças, outras não consigo. Escolho uma peça que gosto muito e depois faço uma brincadeira com a banda e vejo o que eles podem vestir também. E isto para mim dá mais vida, dá mais festa, dá mais cor à atuação, e sim a música e a moda estão muito relacionadas”, rematou a artista.
Para terminar a entrevista, fomos recordar a edição deste ano do festival Vodafone Mexefest onde cruzámos com Da Chick antes da atuação da cantora brasileira Mallu Magalhães, e perguntámos como foi dar voz ao texto ‘Still I Rise’ de Maya Angelou no Vodafone Vozes da Escrita.
“Custou-me muito mais esses cinco minutos do que uma hora de concerto, a sério, estava tocada”, desabafou continuando que foi interessante e foi uma experiência diferente e única. “Fui falar de um dos meus poemas favoritos, e de uma poetisa por quem tenho muito respeito (…) Maya Angelou fala de todas as coisas más por que passou mas também das coisas boas. Por isso é que gosto ler os textos dela e achei que foi uma bela oportunidade para também deixar ali uma mensagem positiva. Mas foi complicado mais no sentido que tive ali um nervosismo que não costumo ter nos meus concertos.”
A artista finalizou a sua resposta e a entrevista de alma alegre, de sorriso nos lábios e nos seus grandes olhos castanhos.