O grito de revolta de Carolina Deslandes acontece devido à publicação de um artigo de opinião no jornal Observador, escrito por dois professores do ensino básico. Nele, Alberto Veronesi e Susana Mendes falam abertamente de um caso específico de uma menina nepalesa que foi colocada numa escola primária portuguesa, ao abrigo daquilo que apelidam como “a inclusão pedagogicamente ‘assassina'”. Os dois professores discorrem numa enumeração de supostos maus comportamentos da criança e, só no fim do texto, explicam que é uma menina com perturbação de espectro de autismo. Perante a linguagem utilizada e a forma pouco empática como se referem a esta criança e aos seus comportamentos, Carolina Deslandes decidiu partilhar algumas opiniões:
“O Alberto e a Susana estão muito indignados porque foi “despejada” uma criança nepalesa na escola, criança essa que tem uma perturbação do espectro do autismo e morde, bate, e não consegue estar dentro da sala de aula. Dizem que a “inclusão” desta menina está basicamente a destruir o ambiente escolar e que a própria “inclusão” é uma modernice de um ministro “que esse sim é que deve ser autista”. SÓ PARA QUE CONSTE – o autismo não pode ser usado como ofensa. Já isto é inadmissível.
Vamos por partes :
– em primeiro lugar o Observador a dar palco a uma coisa destas, é no mínimo lamentável. Provavelmente não estão próximos de nenhuma criança no espectro e isto dá-lhes igual ao litro.
– a exposição violenta e altamente descritiva desta criança é absolutamente inadmissível. Se fosse minha filha, estavam os dois em tribunal. É vergonhoso.
– terceira, lidar com crianças no espectro é um desafio. Se vos incomoda a vocês, imaginem o que é não suportar certos tipos de luz, de som. Imaginem o que é não se conseguirem integrar. Imaginem o que é não conseguiram aprender ao mesmo ritmo dos outros e imaginem o que é ser julgado e excluído pelos PRÓPRIOS EDUCADORES.
É uma vergonha. Todos os dias temos um caminho de pedregulhos e avalanches para a inclusão, para o respeito, para a integração. Integrar uma criança do espectro numa escola é a coisa mais difícil a que já assisti na minha vida. Requere um esforço colectivo muito grande e coordenado. São dias, anos de trabalho.
Ganhem vergonha do que acabaram de fazer. A criança problemática é sempre filho do outro até ser o nosso. Volto a repetir – espero que os pais desta criança vos ponham em tribunal. Uma vergonha Obrigada à equipa multidisciplinar que todos os dias ajuda à integração e desenvolvimento do nosso filho”.
Recorde-se que Santiago, o filho mais velho de Carolina Deslandes e de Diogo Clemente, tem uma perturbação do espectro de autismo e, desde que recebeu o diagnóstico, que o ex-casal tudo faz para combater o preconceito associado a esta doença. Este grito de revolta da cantora é um exemplo desse caminho que percorre diariamente, em prol da empatia e da aceitação.