Aos 50 anos, Bárbara Guimarães acaba de lançar “Tempestade Perfeita”, o seu primeiro livro. E a história partilhada é lhe muito especial porque é a sua e é real. É a história de uma mulher, mãe e profissional, que em 2018 foi confrontada com um diagnóstico de cancro e logo numa das piores fases da sua vida. Na altura, depois de terminado o seu casamento com ex-Ministro da Cultura Manuel Maria Carrilho, pai dos seus dois filhos, a apresentadora da SIC lutava em tribunal para provar que tinha sido vítima de violência doméstica.
“A realidade como esse casamento terminou é pública e justiça foi feita no local apropriado: nos tribunais. (…) A minha vida íntima foi partilhada sem pudor, por ser possível ter as audiências em tribunal abertas ao público. Os detalhes publicados na imprensa eram como uma ferida aberta. Fui ouvida 11 vezes, recordo isso como um filme de terror. (…) A justiça fez-se, ao fim de dez anos. Foi morosa e teve uma repercurssão sem precedentes na minha vida, na minha saúdem nos meus filhos, na minha família e nos meus amigos”, admite, sem esconder a mágoa.
De seguida, o diagnóstico de cancro surge como uma bala:“Foi numa quarta-feira que chegou o fatídico email. Estava sozinha em casa. Abri o relatório e só me fixei nas palavras ‘carcinoma invasivo’. Isto é um cancro, pensei. Não conseguia imaginar. (…) Não contive as emoções. A vulnerabilidade tomou conta de mim e as lágrimas caíram-me. Foi horrível ouvir aquelas palavras. Ainda ontem, o sol brilhava, e hoje… Comecei a imaginar o processo todo pelo qual passam aqueles que sofrem deste tipo de doença”., recorda no livro.
Ao longo de 181 páginas, Bárbara Guimarães recorda a dura caminhada e como enfrentou cada uma das etapas, fossem elas mais ou menos complicadas:
“Transformei o dia em que rapei o cabelo numa celebração da vida e da amizade. Fiz um belíssimo jantar, um rosbife delicioso. Jantámos e depois fomos todos para o meu quarto de vestir, documentar a sessão. (…) O Rui [Canento, cabeleireiro] usou primeiro uma tesoura para cortar os pedaços maiores. Brincámos um pouco com as madeixas que caíam; eram tão grandes que as transformei num bigode. Depois, usou a máquina para rapar rente ao couro cabeludo. Ouvia-se apenas o seu ruído e tudo à volta se enchia de mechas. (…) No dia seguinte, quando acordei e fui à casa de banho, soltei um grito quando me vi ao espelho. Assustei-me comigo própria. Achei-me um alien.”, pode ler-se.
Com o cancro veio também uma menopausa precoce, processo que só por si já é difícil de aceitar, quanto mais antes da idade prevista. Mas na verdade, era um mal menor, tal como a perda de líbido:
“Como nunca quis saber todos os detalhes sobre os efeitos secundários dos tratamentos contra o cancro da mama, confesso que desconhecia que sofreria uma menopausa precoce. Poucos meses depois do tratamento, vejo-me perante essa situação. Aos 45 anos, entrei na menopausa. Outros assuntos que não vemos discutidos são, por exemplo, a sexualidade e a falta de libido. Perdemo-la completamente, o que também não sabia. Concentramo-nos tanto no lado mais prátio da doença que acabamos por relegar para segundo plano tudo o resto que faz parte da nossa vida e que pode, e é, afetado pela doença, sejam assuntos do foro físico como do emocional.”, assume sem tabus, num relato emotivo e verdadeiro.
“Tempestade Perfeita”, editado pela Oficina do Livro, foi lançado ontem no Teatro Maria Matos, em Lisboa, na presença dos familiares e amigos da apresentadora da SIC.