Taylor Swift fez 30 anos no passado dia 13 de dezembro. Este é um marco na vida de qualquer pessoa, especialmente das mulheres: é nesta altura que muitas esperam ter todas as respostas para as perguntas que se impõem na casa dos 20 e, acima de tudo, ver a sua vida corresponder de alguma forma ao que sempre idealizaram.
Embora as gerações mais novas estejam a distanciar-se de expectativas comuns para esta idade como, por exemplo, “assentar”, comprar uma casa e ter filhos, a verdade é que a pressão de se sentirem realizadas (muitas vezes, impostas por terceiros) ainda as assombra. E Swift não é exceção. Entre as várias mensagens de parabéns que a cantora recebeu nas redes sociais, destaca-se uma que deambula sobre a linha ténue que pode separar um elogio de um insulto.
Vergonha Alheia
Stefan Molyneux, um autodenominado filósofo que papagueia ideias de supremacia branca no seu canal de YouTube, reagiu ao aniversário eminente da estrela com um louvor ambíguo, que tem tanto de impróprio como de invasivo e sexista.
“Não consigo acreditar que a Taylor Swift está prestes a fazer 30 anos – ela ainda parece ser tão jovem! É estranho pensar que 90% dos seus óvulos já foram à vida – será 97% quando ela chegar aos 40 – portanto espero que ela pense em ter filhos antes que seja demasiado tarde! Ela seria uma mãe divertida,” escreveu Molyneux no Twitter.
Nestas alturas, valha-nos a sinceridade acutilante de Chrissy Teigen, que parece ter sempre a habilidade de dizer em voz alta aquilo que nos vai na cabeça: “És a p***a de um asno,” respondeu na mesma rede social.
Uma Questão de Inconveniência
Esta não foi a primeira ocasião em que Taylor foi alvo de um comentário do género. No passado mês de maio, quando questionada sobre o 30º aniversário e se estava pronta para dar o próximo passo na relação com o namorado, o ator britânico Joe Alwyn, pôs rapidamente os “pontos nos is”.
“Acredito mesmo que não fazem essa pergunta aos homens quando eles chegam aos 30,” começou por dizer à agencia noticiosa alemã Deutsche Presse-Agentur. “Portanto, não vou responder a essa pergunta agora.”
Mais recentemente, condenou observações como a de Molyneux e a suposição de que as mulheres têm de ter filhos numa determinada altura da vida.
“Quanto mais as mulheres forem capazes de verbalizar o seu desconforto em situações sociais, mais se tornará uma norma social que as pessoas que fazem perguntas em festas como ‘Quando é que vais começar uma família?’ assim que alguém faz 25 anos sejam vistas como um pouco rudes,” afirmou à revista “People”, no início de dezembro. “É bom que possamos dizer ‘Só para que saibas, somos mais do que incubadoras,'” continuou. “Não têm de perguntar isso a alguém só porque está na da casa dos 20 e é do sexo feminino.”
Cada Caso é um Caso
Se por um lado, geralmente falando, é verdade que a fertilidade da mulher diminui nos trintas, por outro, também não podemos ignorar que isto, além de ser um tema sensível e privado, varia de caso para caso. Pressionar as mulheres a (re)organizarem a sua vida em torno da gravidez não só é uma forma gritante de sexismo, como implica que o seu valor está diretamente relacionado com a capacidade de conceber.
Felizmente, as respostas dos fãs ao tweet do canadiano Stefan Molyneux refletem bom senso. Os internautas sublinharam que existem mulheres que não querem ter filhos ou têm dificuldade em engravidar, e que muitas outras optam por começar uma família mais tarde, quando têm estabilidade financeira e se sentem emocionalmente preparadas – uma escolha facilitada por novos métodos e tecnologias.
O YouTuber de extrema-direita defendeu-se, dizendo que a sua publicação original tinha o objetivo de celebrar “as alegrias da maternidade”, e considerou que as críticas vinham de pessoas “histericamente raivosas”. E não ficou por aí. Mais tarde, chamou “indecente” a Swift por, alegadamente, influenciar as suas admiradoras de uma forma negativa.
“Ela está a ajudar a programar jovens mulheres – a maioria das quais não têm os seus talentos, fortuna e fama – para rejeitarem a maternidade,” escreveu.
Uma Carreira Para Lá de Fértil
Taylor Swift ainda é jovem, especialmente se tivermos em conta que já ganhou 10 Grammys, lançou o álbum mais premiado da história da música country (“Fearless”, 2008) e quebrou o seu próprio recorde com a Reputation Tour, de 2018, tendo a digressão encabeçada por uma mulher mais rentável da década nos Estados Unidos da América, entre muitos outros feitos.
Apesar de a estrela somar tantas conquistas numa fase em que muitas de nós apenas estamos a começar a sentir-nos confortáveis com a idade adulta, ainda há quem considere que a sua janela de oportunidade para alcançar a “maior de todas” está a fechar-se, ignorando que cada um tem as suas prioridades e sentido de timing.
Este é um lembrete de que a fertilidade de Swift – ou de qualquer outra mulher, já agora – não é da nossa conta.