Voltámos a casa. Voltámos às experiências culinárias, às séries sem parar, às conversas por videochamada e às rotinas de exercício físico. Ou não. Este período de confinamento está a ser mais duro do que o outro – talvez por já termos tido um cheirinho de liberdade – e começam a faltar-me as ideias.
Dei por mim a pensar que, lá para finais de março ou inícios de abril de 2020, a motivação era outra. Experimentei várias receitas diferentes, mantive-me fiel ao compromisso de continuar ativa e, no geral, consegui distrair-me mais. Agora, parece que já não me sei distrair tão bem.
Mas se os hobbies me vão falhando, ao mesmo tempo há algo que parece ter um efeito de relaxamento imediato: comprar roupa (que superficial!). Não falo de um vício obsessivo ou de uma prática insustentável. Falo de comprarmos, consoante as nossas possibilidades, peças que saibamos que nos façam sentir bem.
E a verdade é que, se comprei recentemente alguns conjuntos confortáveis para vestir por casa, também escolhi várias peças que sei que não vou usar nos próximos meses. Falo de vestidos, de camisolas exterior-friendly (nem sei se este termo existe), botas ou mesmo calças de ganga.
Foram compras conscientes. Mas porquê? Bom, cada um lida com o stress gerado pelo confinamento de formas bastante diferentes. Eu percebi que ter roupa por estrear me dá alguma segurança – afinal, há-de chegar o dia em que as poderei usar – e um certo entusiasmo – típico de quem quer usar algo novo.
É claro que este é um hábito que pode não funcionar com todos. Mas como em qualquer coisa que façamos, é impossível chegar a todo mundo de igual forma. Se é algo superficial? Talvez. Mas tempos incertos exigem técnicas inusitadas. E esta não nos impede de ler, de ver filmes ou mesmo de investir na nossa formação também.
Por isso, se puderem, comprem aquela peça, mesmo sabendo que só a vão usar daqui a um tempinho. Planeiem como a vão usar e em que circunstâncias. Talvez o tempo custe menos a passar. E, se isto não funcionar, não deixem de procurar algo que vos faça bem.
Consumam cultura, consumam notícias, consumam gastronomia, consumam o que quer que seja que torne a situação que vivemos mais aceitável. Porque cuidar na nossa saúde mental deve ser sempre uma prioridade. Afinal, estamos todos no mesmo barco – e este nem sempre é o mais equilibrado.