Pode parecer estranho, mas falo do Natal desde finais de outubro, data em que os hipermercados começaram a disponibilizar bolo-rei para venda e muitas pastelarias acharam oportuno vender sonhos, rabanadas, azevias e demais fritos natalícios.

Na consulta, o tema é recorrente, quer nos pedidos de receitas (mais) “saudáveis”, quer no aconselhamento de estratégias a adoptar na quadra festiva, supostamente, mais problemática do ano.

Tenho repetido consecutivamente a seguinte frase: O Natal celebra-se nos dias 24 e 25 de dezembro. Não é Natal em outubro, nem em novembro, nem nas primeiras semanas de dezembro, e aqui reside o cerne da questão. O Natal não é problemático mesmo com os excessos em açúcar e gordura naturais desta quadra. Nem a semana que antecede o Natal ou a festa de Reveillon. Esta ingestão farta dificilmente criará problemas a adultos saudáveis e activos que se alimentem de forma equilibrada durante o ano e pontualmente se permitam a excessos. Até para quem está acima do peso, estes dois dias não têm o impacto que lhes é erradamente atribuído. O problema são os outros 363 dias do ano em que há um desequilíbrio energético e a ingestão calórica supera as necessidades diárias. De forma muito simplista, engordamos porque comemos mais calorias do que o necessário para a altura, idade, sexo e actividade física.

É no entanto necessário dizer, que apesar de o Natal em si não problemático, os eventos que o antecedem e toda a oferta comercial existente dificulta muitíssimo o processo de gestão do peso. Como disse no início deste artigo, os doces associados a esta quadra começam a ser comercializados cada vez mais cedo. À disponibilização precoce de chocolates e restantes doces natalícios, junta-se uma lista interminável de eventos com lanches/jantares associados no mês de dezembro: jantar de Natal da empresa, do ginásio, do grupo de voluntariado, do grupo de amigos, o lanche da creche, da paróquia, etc. O adensamento de eventos potenciadores de excessos deve ser muito ponderado. As estratégias deverão ser individualizadas pois dependem das particularidades de cada pessoa. Muitas preferem selecionar um ou dois eventos e comer sem restrições. Outras comparecerão a todos e serão muito disciplinadas em cada um. Há ainda as que esquecem qualquer restrição no mês de dezembro sem que isso seja um problema nos meses seguintes.

Claro que quem já tem excesso de peso/obesidade, diabetes, dislipidemia ou outra patologia crónica deverá fazer mais restrições de modo a não piorar a sua condição. Não menosprezando jamais a componente social da alimentação que abordo adiante, cada um deverá em consciência fazer as suas escolhas segundo as suas necessidades e prioridades.

Se desejar minimizar o impacto dos múltiplos jantares de Natal, as estratégias são muito semelhantes às descritas num artigo já publicado (Diz quem sabe: Como comer de forma saudável fora de casa), mas resumem-se a comer sopa e salada/legumes em porção generosa, moderar entradas, principalmente o pão, eventualmente cortar outras fontes hidratos de carbono (ou não!) e abdicar de uma sobremesa doce. Prefira água ou um sumo natural em detrimento de refrigerantes ou bebidas alcoólicas e escolha se possível algo com pouca gordura, embora neste tipo de jantares o menu esteja já definido.

Quanto à ceia de Natal, se desejar fazer restrições as estratégias são muito semelhantes. Quando me são pedidas receitas (mais) “saudáveis” para esta data, confesso não ter muitas soluções! Por norma, os pratos tradicionais de Natal têm um teor elevadíssimo de azeite e alterar a receita pode não ser viável. O melhor e mais saudável prato natalício é sem dúvida o tradicional “Bacalhau cozido com todos”. Moderando a quantidade de azeite adicionada no prato, doseando correctamente a batata/grão e com hortícolas em porção generosa, terá a mais saudável ceia de Natal possível! Ou não! Ou cozinhe aquele prato de bacalhau que leva muito mais azeite mas que confecciona apenas 1 vez por ano. Não há uma estratégia totalmente certa ou errada!

O mesmo é aplicável aos doces natalícios. A alteração de receitas tradicionais é também inviável na maioria dos casos, por isso evite doces nas semanas anteriores e nos dias 24 e 25 coma aquela rabanada feita por uma avó ou tia que é deliciosa e evoca as suas memórias mais queridas. Não obstante, a fruta poderá coexistir abundantemente na sua mesa.

Ser moderado, nesta e em qualquer ocasião, não é mais do que comer conscientemente e fazendo escolhas. Se já comeu uma fatia de bolo-rei, não precisa comer a segunda. Se já comeu polvo, não coma bacalhau (ou coma metade de cada). Se bebeu 2 copos de vinho, não beba o terceiro. Há inúmeras estratégias que pode adoptar se desejar minimizar o impacto dos excesso natalícios, sem fazer “dieta” ou grandes restrições.

A componente familiar e social da alimentação não só é desejável, como é potenciadora de momentos maravilhosos. Somos mais felizes à mesa junto das pessoas que nos são queridas, a comida une-nos num momento de prazer que gravamos como uma doce memória. Em grande parte, toda a magia do Natal reside nesta união familiar em torno da mesa e de uma refeição. E é por isso que este momento tão caro e único é a data em que nos permitimos a excessos que não devem constar do nosso quotidiano. Guarde-se efetivamente para o Natal, seja selectivo nos eventos que o precedem e muito moderado na ingestão dos “pecados” espalhados por toda a parte. Dia 24 e 25 de dezembro faça escolhas mas coma, viva e seja muito feliz junto de quem ama.

Feliz Natal! Próspero 2020!

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