Em 2003, a revista TIME publicou na capa o tema de que a doença cardiovascular é a maior preocupação das mulheres, o que revelou uma grande chamada de alerta para o mundo em geral, mas também para a comunidade científica.
De facto, os dados são reveladores: 1 em cada 3 mulheres morrem de doença arterial coronária (angina de peito ou enfarte agudo do miocárdio-EAM) sendo esta a principal causa de morte ou incapacidade no mundo ocidental, ultrapassando todos os cancros (1 em cada 31 mulheres pode morrer de cancro da mama).
É importante difundir a informação de que os sintomas habituais de EAM podem ser mais frequentemente atípicos nas mulheres, dificultando o diagnóstico precoce e as intervenções terapêuticas em tempo mais útil.
Muitas mulheres reportam sintomas de cansaço generalizado, dor mandibular, falta de ar ou dores nas costas no momento do EAM, mimetizando outras situações clínicas. Estima-se ainda que quase metade das mulheres, aquando do aparecimento de um EAM, nunca tiveram sintomas prévios sugestivos de doença arterial coronária, e uma percentagem não menosprezável têm como primeira manifestação de cardiopatia isquémica a morte súbita.
Estes dados epidemiológicos e de grandes ensaios clínicos, reforçam a necessidade em realizar alertas (sem alarmismos excessivos) para a população e para todos os profissionais de saúde.
Cuidados a ter:
# em primeiro lugar, estar atento aos sintomas supra-descritos
# controlar os fatores de risco cardiovascular clássicos modificáveis: o tabagismo, a diabetes, as alterações do colesterol, a hipertensão arterial, o excesso de peso e obesidade, o sedentarismo, a depressão e o stress excessivo. A história familiar de doença aterosclerótica em idades precoces é outro fator de risco importante.
# Por outro lado há, factores de risco inerentes ao sexo feminino como a hipertensão arterial ou a diabetes gestacionais,a maior prevalência de doenças auto-imunes, a cardiotoxicidade de algumas terapêuticas para as neoplasias, nomeadamente da mama e obviamente a menopausa com decréscimo de níveis hormonais como os estrogéneos, que são protetores para doença arterial coronária.
Todavia, não podemos esquecer, embora menos frequente, que a doença das artérias coronárias e o EAM podem ocorrer antes da menopausa.
Estudos realizados há alguns anos sobre o impacto da terapêutica de substituição hormonal como prevenção primária na menopausa (entre os 50 e 79 anos de idade), como o Women Healh Initiave, vieram a demonstrar que a terapêutica com estrogénios, com ou sem progesterona, (comparativamente com placebo), ao fim de um seguimento de 5.6 anos, aumentava o risco de eventos cardíacos isquémicos ou acidente vascular cerebral.
Além disso, dava-se ainda um aumento do risco da neoplasia da mama, mas acarretando também benefícios como a redução da osteoporose e o risco de fracturas, aliviando os sintomas associados à menopausa: flushing, alterações do sono ou do humor.
Obviamente que a introdução ou não destas terapêutica deve ser individualizada de acordo com a idade em que surgiu a menopausa, os sintomas associados e o perfil de risco, devendo ser discutida na ligação médico-doente as vantagens versus os inconvenientes.
Em suma, a doença cardiovascular na mulher é um tema muito relevante e actual, as mulheres devem estar atentas aos sintomas e procurar ajuda médica logo que necessário,
uma vez que o diagnóstico e o tratamento precoces são fundamentais para a redução do risco, benefício prognóstico e melhoria da qualidade de vida.
O controlo rigoroso dos factores de risco e a instituição de estilos de vida saudáveis (não fumar, perder peso, alimentação equilibrada, gestão do stress) devem ser interiorizados e vividos como aspectos fundamentais para evitar as doenças do coração.