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Conhecida por ter uma excelente memória, Rita de 32 anos e grávida de 29 semanas senta-se no consultório e confessa-me a medo: “Não sei o que se passa comigo Dra.! Esqueço-me de várias tarefas todos os dias, frequentemente esqueço onde deixo as chaves do carro ou simplesmente entro no escritório e não me lembro do que lá ia fazer…”
Sorrio e explico que é muito comum na gravidez e que não está sozinha. É tão comum na grávida como ter náuseas no primeiro trimestre.
Este fenómeno de “pregnancy brain “ou “mumnesia”, sem tradução direta em português, mas a que nos podemos referir como “cérebro da grávida” ou “amnésia da grávida”, não é Mito… mas Realidade.
Quais as características deste “cérebro de grávida”?
Tipicamente ocorre diminuição da capacidade de concentração e perda de memória a curto prazo, assim como diminuição da memória espacial/visual.
Os estudos realizados ao longo dos últimos anos sobre esta matéria não são conclusivos acerca da etiologia, isto é, da causa por detrás destas alterações.
Pensa-se que existem alterações no funcionamento cerebral, com um aumento da atividade do lado emocional (fundamental para o bonding – envolvimento emocional – com o bebé) com prejuízo da memória a curto prazo. Em resumo será uma adaptação necessária à preparação da mulher para ser mãe. A grávida simplesmente desloca uma percentagem da sua atenção das atividades rotineiras para o novo foco que é ser mãe.
Acredita-se que estas alterações possam ser mediadas pelas alterações hormonais que ocorrem na gravidez, nomeadamente um aumento significativo do nível de estrogénios e progesterona que influenciarão a atividade neuronal.
O Quociente de Inteligência da grávida não diminui, apenas há uma mudança nas suas prioridades. Se imaginarmos que o nosso cérebro é composto por várias gavetas onde organizamos a informação por temas, de repente as gavetas relacionadas com a gravidez e a vinda do bebé vão estar sempre no topo de todas as outras, abertas e desarrumadas.
Obviamente que a diminuição da qualidade e quantidade do sono enquanto grávidas e no pós-parto também contribui para a diminuição da memória e capacidade de concentração.
A importância de apoiar
Quem lida com grávidas sabe, e eu que lido todos os dias com várias sei, que esta perda de memória e dificuldade de concentração é um marco da gravidez. Pessoalmente faço questão de explicar às grávidas e aos maridos (que por vezes estão mais preocupados do que as próprias) que é normal e que eventualmente todas o experienciam.
Com algum humor, costumo rematar que a grávida está a construir todo um pequeno cérebro, parecendo-me natural que o seu próprio cérebro ocupado com tal tarefa diminua a atenção em algumas tarefas do quotidiano. Solicito sempre o apoio dos maridos neste projeto a dois.
O que podemos fazer?
● Tentar descansar e dormir mais e melhor.
● Adaptar-se a esta realidade e fazer listas de tarefas. Vale tudo, no papel, no telemóvel…
● E simplesmente aceitar esta diminuição de “performance cognitiva”, sabendo que vai passar e que é apenas um efeito lateral de algo maravilhoso, que no caso concreto é o de construir uma nova vida.
Qual o prognóstico?
A boa notícia é que ao fim de cerca de um ano pós-parto, se o bebé for calmo e deixar a mãe dormir durante a noite, tudo volta ao normal.
Quem disse que construir pequenos bebés peça por peça é tarefa fácil?
Na verdade, é uma empreitada árdua… mas muito compensadora.
Deixo também uma mensagem a todas as grávidas que, nesta fase de pandemia, é igualmente importante manter a vigilância de rotina e não devem adiar as consultas, a realização de ecografias, de análises e outros exames de rotina. Os hospitais já retomaram a sua atividade programada e têm medidas implementadas para garantir a segurança de todos.