Nunca se falou tanto em saúde mental como nos dias de hoje, mas estamos perto de acabar com ideias pré-concebidas que já estão enraizadas na sociedade? Ainda não. A complexidade do nosso cérebro merece bem mais atenção do que aquela que lhe damos e temos de cuidar daquela que é a base da saúde.
Uma constipação é uma coisa que todos podemos ter e não acarreta estigma algum. Aliás, o inverno é sinónimo de gripes e constipações e, todos os anos, estamos preparados para elas. Já a depressão, por exemplo, que é considerada ‘a constipação da saúde mental’, por ser uma coisa comum e que todas as pessoas podem ter, está associada a um estigma e até mesmo a um sinal de fraqueza. Assim sendo, muitas pessoas não procuram tratamento.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que existem 300 milhões de pessoas com depressão em todo o mundo. Atualmente, Portugal é o quinto país da OCDE que mais consome ansiolíticos e antidepressivos, atingindo já uma taxa que duplica a de países como, por exemplo, a Holanda, Itália e Eslováquia. Não está comprovado que a pandemia veio agravar esta situação, mas nos primeiros três meses do ano foram vendidas mais 400 mil embalagens do que no mesmo período em 2019.
Entre março e junho de 2020 foram vendidas mais de 5 milhões de embalagens de ansiolíticos e antidepressivos do que em 2019. A saúde mental dos Portugueses está deteriorada e “abandonada”.
Sintomas Adormecidos
No que diz respeito ao tratamento, sabe-se que os antidepressivos são vistos como o “elixir” contra a depressão. Ano após ano, o consumo deste tipo de fármaco em Portugal tem tendência a aumentar cada vez mais, mostram dados recentes do Infarmed. Isto indica que andamos a “adormecer” ou a “esconder” uma doença que, por si só, nos mata lentamente, adormecendo à boleia dos seus sintomas muitas vezes mascarados e camuflados.
Embora os portugueses estejam cada vez mais informados sobre os problemas psicológicos e as suas consequências, pouco se fala e não há muita divulgação acerca dos tratamentos. Prova disso é que quando falamos em depressão, pensamos automaticamente na intervenção medicamentosa. Os medicamentos podem melhorar, sim, a qualidade de vida do paciente, mas não resolvem o problema; apenas o adormecem. Uma realidade que aumenta o risco de o quadro se tornar crónico e recorrente, porque a causa da patologia não foi tratada. E é aqui que entra o acompanhamento psicológico, de forma a tratar a real causa da patologia de foro psicológico, e não só os sintomas que a patologia provoca.
Caso não exista uma intervenção psicológica atempada e contínua, as consequências a nível da saúde física e mental são graves, podendo haver o desenvolvimento de uma psicose ou outras perturbações mais graves e irreversíveis. É necessário ter em conta que, na maioria dos casos, os problemas psicológicos se manifestam de forma gradual e silenciosa, ao ponto de a pessoa não assumir que tem um problema para resolver, sendo, muitas vezes, aqueles que lhes são próximos a darem o primeiro sinal de alerta ao paciente.
A realidade que vivemos hoje leva-nos a tomar cuidados e medidas reforçadas de cuidados médicos. No entanto, não podemos descurar os cuidados de saúde mental. Nesse sentido, deixo-lhe três “regras de sobrevivência”:
- Peça ajuda, nomeadamente, psicológica. Lembre-se de que o primeiro passo para que possa melhorar a sua condição é aceitá-la, olhá-la de frente e erguer-se perante ela;
- Procurar manter sempre a calma e, por muito difícil que seja, substituir os seus pensamentos negativos por pensamentos positivos;
- Não se isole!