Por desvalorização dos sintomas, desconhecimento dos mesmos ou maior resistência à dor, as mulheres tendem a não prestar atenção aos sinais da Síndrome Coronária Aguda, que podem originar enfartes ou outras complicações cardíacas. A solução passará pela prevenção, valorização dos sintomas e procura de cuidados especializados para diminuir os riscos e complicações da doença.
A doença das artérias coronárias mantém-se como uma das principais causas de morte na mulher. Na era contemporânea, os registos das sociedades científicas continuam a evidenciar assimetrias no tratamento e no prognóstico do enfarte agudo do miocárdio – atualmente designado como Síndrome Coronário Agudo – SCA, entre homens e mulheres.
A ideia de que o sexo feminino tem um risco muito mais baixo de desenvolver doença das coronárias está errada, em particular na sociedade atual em que muitas mulheres acumulam funções profissionais e de gestão familiar, que geram elevados níveis de stress. Para além disso, muitas mulheres são portadoras dos fatores de risco para problemas nas coronárias, como hipertensão arterial, colesterol elevado, diabetes, menopausa, tabagismo, excesso de peso e sedentarismo. Nunca é demais, ainda, alertar que nas mulheres mais jovens o uso simultâneo da pílula e tabaco aumenta significativamente o risco de problemas cardiovasculares e cerebrovasculares.
Que soluções temos para lidar com a assimetria no diagnóstico e tratamento da doença das coronárias na mulher?
Grande parte da solução passa por consciencializar e alertar a população e os profissionais de saúde para esta problemática. O subdiagnóstico e o diagnóstico tardio nas mulheres poderão ocorrer devido à maior dificuldade que as mulheres têm em identificar e transmitir os sintomas: muitas vezes não sentem uma dor tão intensa ou são capazes de a suportar por mais tempo, reportam apenas um desconforto localizado ao peito, região do estômago, maxilar inferior ou braços, ou sentem-se invulgarmente cansadas, com falta de ar, nauseadas, indispostas. É frequente vermos doentes com situações cardíacas agudas que tardaram em procurar ajuda por interpretarem as queixas como ansiedade ou cansaço por excesso de trabalho. Estes sintomas, quando persistentes, devem ser analisados por um especialista para despiste de Síndrome Coronário Agudo.
Os dados do Registo Nacional de Cardiologia de Intervenção, desenvolvido pela Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular (APIC), indicam que, em 2020, foram realizadas 3.817 angioplastias primárias para o tratamento do enfarte agudo do miocárdio, um aumento de 2,5 por cento, face ao ano anterior. Cerca de um quarto dos doentes tratados foram mulheres com uma média de idade de 68 anos.
O que podem então fazer as mulheres para reduzir o seu risco? Antes de mais seguir uma estratégia de prevenção, adoptando um estilo de vida o mais saudável possível e controlando os factores de risco cardiovasculares acima descritos. Por outro lado, quando apresentam sintomas não os devem desvalorizar ou atrasar a procura dos serviços de saúde. Entre a promoção da saúde e o acesso a cuidados de diagnóstico e terapêutica adequados é possível reduzir significativamente o risco da doença e das suas complicações no sexo feminino.