A bater recordes de temperatura máxima e com temperaturas mínimas altas, este verão tem sido marcado por um calor extremo e persistente, bem como pelos baixos níveis de precipitação. Se durante o dia podemos sentir o ar muito quente e seco, as noites chegam também sem dar tréguas, o que acarreta perigos para a nossa saúde. Nestas condições, é importante alertar que os cuidados a ter para nos mantermos saudáveis devem incluir a nossa pele.
A pele é o maior órgão do corpo humano e soma inúmeras funções. Ao ser a separação entre o nosso organismo e o meio ambiente, a pele tem um papel protetor, ao defender o corpo contra traumatismos e microrganismos patogénicos, ajudando ainda na manutenção da sua temperatura e no equilíbrio de fluidos corporais.
Caracterizada pela secura extrema da pele, a xerose cutânea lesa particularmente a camada mais externa da epiderme, o estrato córneo, que funciona como uma barreira na qual reside a capacidade da pele de reter a água, o que contribui para a sua hidratação e elasticidade. Esta condição surge quando existe uma perturbação no “sistema” da pele responsável por assegurar a hidratação e manifesta-se sobretudo nas pessoas mais idosas ao nível dos membros inferiores. Uma vez que para a retenção da humidade intervêm as substâncias que constituem o Fator Natural de Hidratação (FNH) e a matriz lipídica, a carência de lípidos ou de outros fatores naturais de hidratação (como a ureia) estão entre os principais problemas de pele que podem desencadear a xerose cutânea.
A existência de um historial familiar deste problema, o envelhecimento da pele (idade), as alterações hormonais associadas à menopausa, uma dieta desequilibrada, o stress, fármacos/tratamentos que podem secar a pele e algumas patologias estão entre os fatores que podem ativar alterações na sua camada mais externa. Sobre os fatores externos que podem levar a mudanças fisiológicas e causar uma pele seca encontram-se as temperaturas extremas, a falta de humidade no meio ambiente, a exposição excessiva à água, o tabaco e o contacto com produtos químicos, detergentes ou cosméticos inadequados/agressivos.
Com um desenvolvimento insidioso, importa enumerar as principais manifestações da xerose cutânea. Ao nível dos pés, os sintomas iniciais são uma pele baça e sem brilho, rugosa e áspera ao toque. Com o tempo, a pele pode escamar e ficar irritada, surgindo fissuras na planta dos pés e nos calcanhares, com risco de formação de feridas.
Por estar a pele sem flexibilidade e elasticidade, a pessoa pode experienciar uma sensação de prurido e repuxamento. Propensa a situações de inflamação, pode verificar-se uma diminuição das funções protetoras da pele, uma vez que as gretas e fissuras podem funcionar como uma porta de entrada a agentes causadores de infeções.
No verão, se por um lado, as altas temperaturas e o clima seco favorecem as perdas excessivas de água por evaporação, a luz solar pode provocar a secura da pele, pelo que se torna necessário evitar a exposição prolongada dos pés ao calor e ao sol, o que acontece quando usamos calçado aberto ou quando andamos descalços nas praias e piscinas.
Assim, devemos procurar sombra/abrigo nas horas de maior perigo e aplicar protetor solar, com fator elevado de proteção, nos pés, bem como optar por não utilizar diariamente chinelos de dedo. Paralelamente, e porque o contacto prolongado com a água contribui para a remoção dos óleos naturais da pele, é importante evitar os banhos demorados. Dado que o cloro das piscinas também pode provocar irritação, prurido e secura intensa da pele, depois de um mergulho devemos tomar um duche com água doce.
Controlar a exposição dos pés aos fatores externos é assim uma das medidas a ter para assegurar a integridade da pele dos pés, no entanto, também os maus hábitos de higiene a podem prejudicar. Neste sentido, e também quando a xerose cutânea se instala, é crucial lavar os pés diariamente com água não muito quente e com um sabão de pH neutro que não desidrate a pele.
Logo após o banho, devemos aplicar um creme hidratante nos pés, uma vez que a pele estará limpa e os seus poros dilatados, o que facilita a sua absorção. Procurar beber água em quantidades suficientes e preferir meias de materiais naturais, como o algodão que não irrita a pele, são também cuidados a ter para prevenir e aliviar os sintomas associados a esta condição.
Contudo, a xerose cutânea não é um problema exclusivo dos meses quentes, pelo que os comportamentos a seguir para manter o bem-estar da pele devem ser tomados durante todo o ano. Até porque, no inverno, o frio também pode favorecer alterações na sua composição.
O podologista, profissional habilitado na prevenção, diagnóstico e tratamento das patologias do membro inferior, nomeadamente do pé e das suas repercussões no organismo humano, poderá atuar no sentido de impedir, acompanhar e tratar eventuais complicações, que se podem desenvolver como consequência deste problema.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a ACTIVA nem espelham o seu posicionamento editorial.