A comparação é humana, mas os filtros não. Numa era dominada pelas redes sociais, o espelho foi destronado pelo telemóvel. Pegamos no telemóvel para ver se o batom está. Tiramos uma selfie com as amigas com o filtro da moda. Na pausa do café visualizamos uma imensidão de stories com fácies distorcidos por filtros. Pobre espelho… que saudades dos tempos em que se perseguiam ideais de beleza apenas inatingíveis! Agora, a tendência é perseguir padrões completamente irreais
Os filtros vieram para ficar. Trata-se de ferramentas automatizadas de edição de imagem obtidas através de inteligência artificial aparentemente simples, mas de génese complexa. Ao lado destes, o Photoshop é apenas um menino. Deixámos de ver os grandes fails do Photoshop como cinturas de pilão prestes a partir e paisagens onduladas ressaltando curvas corporais manipuladas para vermos rostos padronizados, Kendall Jenner-like. Assisto curiosa à evolução dos tempos, pois não sei o que mais poderá ser inventado para nos destruir a autoestima.
A verdade é que nem todos os que estão expostos a estas bizarrias têm estrutura mental para lidar com o assunto. Os jovens, que passam bastante tempo em redes sociais, acabados de sair de anos de pandemia que lhes roubaram tempo de convívio presencial, são os primeiros a demonstrar falta de autoestima, sintoma depressivos e ansiosos, transtornos dismórficos corporais e perturbações alimentares. Verem-se a si e aos outros completamente distorcidos no seu meio preferencial de convívio e encararem a triste realidade de, afinal, terem manchas, poros dilatados, acne e um nariz “largo” é duro demais para quem não viveu o cara-a-cara como deveria.
Mas não são os mais jovens as únicas vítimas deste flagelo. Diariamente, nos consultórios de cirurgia plástica e medicina estética, chegam pedidos inspirados nas redes sociais, muitas vezes acompanhados pela própria selfie modificada por um filtro. A demanda são lábios mais carnudos, queixos mais proeminentes, narizes mais estreitos, maçãs do rosto mais pronunciadas e uma pele sem imperfeições. Um estudo de 2017, nos EUA, revela que 55% das pessoas submetidas a rinoplastias fazem-no pelo desejo de ficarem melhor nas selfies.
Muitas pessoas vencem até o receio de recorrerem a procedimentos estéticos após ensaiarem como ficariam com os lábios mais preenchidos. Como é natural, muitas das vezes é tecnicamente impossível reproduzir o que foi elaborado por um computador, principalmente porque falta a terceira dimensão da vida real. E mesmo que fosse, queremos mesmo ter um rosto desenhado por um robot?
Atualmente, a medicina estética apresenta várias soluções para harmonizar em vez de desconfigurar o rosto. Falamos da harmonização facial, o conjunto de procedimentos que visa destacar as feições de cada pessoa de forma realçar o que considera mais belo. Poderá ser contornar a mandíbula, afinar um pouco mais o queixo, destacar as maçãs do rosto, projetar mais os lábios, elevar as sobrancelhas…enfim, um autêntico processo de alfaiataria personalizado a cada rosto que poderá ser executado com a maior subtileza e bom senso, sem retirar a expressão, sem padronizar e, acima de tudo, sem ser demasiado evidente. É tida em conta a personalidade, profissão, preferências e inspiração. Também importante é a melhoria da qualidade da pele através da prescrição de uma rotina de cosméticos adaptada às suas necessidades e rotina e de procedimentos como peelings, mesoterapia, microagulhamento que deixam a pele mais saudável de forma a potenciar e prolongar os resultados.
Quando optar por cuidar de si, verá que não há necessidade de filtro. Em vários casos as mulheres prescindem até da maquilhagem. Muitas vezes as soluções para determinada preocupação estética são bem simples, acessíveis e fáceis de resolver. Está na altura de a gente ser gente, pois a nossa melhor versão será sempre #semfiltro.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a ACTIVA nem espelham o seu posicionamento editorial.