Atualmente, as doenças cardiovasculares nas mulheres já ultrapassaram as estatísticas de cancro da mama e de cancro do útero. Segundo dados recentes da OMS, as doenças cardiovasculares são responsáveis por um terço das mortes, no mundo. Em 2019, foram responsáveis por 35% das mortes femininas. Estes dados revelam que, embora as mulheres estejam alerta para a importância do diagnóstico precoce de doenças ginecológicas, ainda cuidam pouco do seu coração.
Mulheres com história familiar de doença cardíaca antes dos 50 anos, história pessoal de distúrbios hipertensivos na gravidez, ansiedade e depressão, diabetes, endometriose, síndrome dos ovários poliquísticos, fumadoras e com um baixo nível de atividade física correm um maior risco de desenvolver doença cardíaca, pelo que devem estar mais atentas a possíveis sintomas e garantir uma vigilância regular e precoce junto do médico.
Os fatores de risco tradicionais, como a diabetes, colesterol elevado, excesso de peso, obesidade e o tabagismo, representam um risco substancialmente mais elevado de doença coronária nas mulheres, comparativamente com os homens. Além disso, existem antecedentes exclusivos das mulheres, como pré-eclâmpsia ou eclâmpsia, hipertensão e diabetes durante a gravidez, que se associam a maior risco de desenvolvimento futuro de hipertensão arterial, doença coronária e acidente vascular cerebral.
A mulher pode desenvolver doença cardíaca em qualquer idade, mas o risco aumenta substancialmente no período perimenopausa. Isto acontece devido à redução da produção de estrogénios, uma hormona com papel protetor na doença cardíaca.
Após a menopausa, a síndrome coronária aguda, mais conhecida como ataque cardíaco, assume um papel de destaque. Tipicamente, acontece quando uma das artérias coronárias fica entupida, comprometendo o fornecimento de sangue ao músculo do coração. Além dos sintomas mais comuns, como dor ou pressão no peito, que pode irradiar para o pescoço, braços e parte superior do abdómen, as mulheres podem ter sintomas mais atípicos de síndrome coronária aguda, como mal-estar inespecífico, desmaios e falta de ar, que fazem com que seja, muitas vezes, confundida com outras
doenças. Esta sintomatologia atípica leva ao atraso no diagnóstico e, consequentemente, a um pior prognóstico, com maior mortalidade nas mulheres.
Esta desvantagem face aos homens deve-se, por um lado, a uma comum desvalorização do risco cardiovascular e dos sinais de alerta, mas também ao menor reconhecimento e intervenção por parte dos profissionais de saúde. É, assim, necessário consciencializar a população feminina para a importância da prevenção da doença coronária, através da identificação e tratamento precoces dos fatores de risco cardiovasculares. No que respeita aos profissionais de saúde, importa que haja maior representação das mulheres em ensaios clínicos, mais informação e formação nas doenças típicas das mulheres.
No caso específico das grávidas, as doenças cardiovasculares são, também, a principal causa de mortalidade materna, nos países ocidentais. De acordo com os dados mais recentes, cerca de 1 a 4% de todas as gravidezes complicam-se devido a doenças que afetam o coração. Nos últimos anos, este número tem aumentado, devido à tendência para engravidar em idade mais tardia, a uma maior prevalência de fatores de risco cardiovascular nas mulheres em idade fértil e ao número crescente de mulheres com doenças cardíacas congénitas corrigidas que atingem a idade adulta.
É fundamental que seja feita uma avaliação de risco cardiovascular a todas as mulheres que desejem engravidar e, em casos de doença cardíaca conhecida ou suspeita, que sejam devidamente acompanhadas, antes de engravidarem, de forma a anteciparem-se os cuidados necessários, durante toda a gravidez e no momento do parto.
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