Certamente já se terá cruzado com protetores solares minerais. Mais do que isso, estou certa de que já se cruzou com múltiplas informações acerca de protetor solar mineral. Também aposto consigo que 90% das informações que leu ou ouviu sobre protetor mineral estão erradas. Então, o que é que é real no protetor solar mineral? Quais são os mitos e os factos sobre este tipo de protetor?
O que é protetor solar mineral e como é que é diferente do protetor químico?
O protetor solar mineral ou inorgânico, erradamente conhecido como protetor físico, é um protetor que contém um ou dois filtros (óxido de zinco e dióxido de titânio). Estes dois filtros solares são comercializados sob o formato de pó e têm outros usos na cosmética. Nomeadamente, o óxido de zinco é usado em pomadas reparadoras e o dióxido de titânio aparece em fórmulas como pigmento branco. Todos os outros filtros solares no mercado são filtros orgânicos, também erradamente conhecidos como filtros químicos (porque tudo é químico exceto o vácuo). Então, porque é que uns se chamam minerais e os restantes orgânicos? Por uma simples questão de química básica: moléculas com carbono são orgânicas, moléculas sem carbono são inorgânicas. E é precisamente daqui que vem a diferenciação feita entre os dois tipos de filtros.
Os protetores orgânicos (ou químicos) tendem a ser mais fáceis de espalhar, a não deixar um efeito branco na pele e a serem mais compatíveis com peles escuras. Isto acontece porque, ao contrário dos minerais que são em pó, geralmente os filtros orgânicos são líquidos.
Por uma questão de simplicidade de texto, iremos utilizar o termo “protetor solar mineral” ao longo deste artigo, porque é o nome mais comum deste tipo de protetores.
Como funciona o protetor solar mineral?
Protetor solar físico: Protetor solar mineralProtetor solar químico: Protetor solar orgânico
Poderá ter dado conta de que mencionei que o protetor solar mineral é erradamente conhecido como protetor físico. Estou aqui pronta para explicar o porquê desta afirmação.
Quando o protetor solar mineral surgiu, pensava-se que funcionava principalmente como uma barreira contra o sol. Pelo facto de serem filtros em pó, os filtros minerais tendem a dar origem a protetores espessos, difíceis de espalhar, e que deixam um efeito branco na pele. É certo que os protetores minerais com fórmulas mais recentes e com maior tecnologia já não têm esta dificuldade no espalhamento, mas a questão mantém-se principalmente no efeito branco. É daqui que vem esta noção de efeito barreira, ou de uma proteção física contra a radiação do sol.
Contudo, nos anos 90, cientistas começaram a contestar esta ideia. Não só começaram a contestar, como conseguiram evidência sólida de que os filtros minerais não funcionavam apenas como uma barreira contra o sol. Pelo contrário, absorviam e transformavam a radiação, tal como os filtros orgânicos.
Foi apenas em 2016 que se conseguiu quantificar quanta radiação estes filtros refletem, e quanta radiação absorvem. E, para espanto de muitos, percebeu-se que os filtros minerais apenas refletem 5% da radiação total.
Portanto, quando 95% da radiação é absorvida, faz sentido dizer que estes protetores funcionam como uma barreira? Não faz, de todo. Especialmente considerando que esta descoberta tem quase 10 anos e ainda menos se considerarmos quando ela começou a ser contestada (há mais de 30 anos). Infelizmente, esta informação errada ainda é transmitida por muitos profissionais de saúde e no currículo de muitas escolas da área da saúde.
Quais os benefícios do protetor solar mineral?
Devido à sua existência ao longo de múltiplas décadas, estes protetores têm larga evidência e apresentam um perfil de segurança muito bem estudado. Por outro lado, a intolerância a estes filtros, embora exista, é muito rara.
Assim, os protetores solares minerais são habitualmente recomendados em bebés até aos 2 anos e em pessoas que são intolerantes a filtros orgânicos.
Se já leu por aí que os filtros minerais são melhores para os corais, tenho a dizer-lhe que não. Os estudos atuais não nos permitem concluir nada acerca do impacto real dos filtros solares na vida marinha, mas indicam que tanto os protetores orgânicos como os minerais têm o mesmo efeito no branqueamento de corais em condições laboratoriais.
Se tende a preferir ingredientes naturais e também já leu que os protetores minerais serão melhores por isso, lamento desiludir. Não só os filtros minerais não são naturais, como estariam contaminados com metais pesados e seriam possivelmente letais se fossem usados no seu estado puro. Aproveito para deixar a nota de que os produtos naturais não são melhores do que os sintéticos, mas isso fica para outra altura. Neste momento, posso dizer-lhe que não existe um único filtro solar que seja natural.
Protetor solar mineral em grávidas
Se está grávida, sei que já pesquisou online acerca dos ingredientes cosméticos que deve evitar e ficou com a sensação de que nada é seguro. Não só essas listas são habitualmente infundadas, como promovem o mau uso dos cosméticos. Uma recomendação típica dessas listas é que a grávida só deve usar protetor solar mineral.
Posso dizer-lhe que, a menos que a sua pele faça alergia a todos os protetores orgânicos, nunca será, de todo, a minha recomendação. Na grávida, o risco de desenvolver melasma (manchas escuras) está aumentado, bem como a tendência a sensibilidade da pele. Nestes casos, aquilo que queremos é usar uma quantidade certa de protetor solar, de forma a conseguir proteger a pele de forma adequada.
Já alguma vez tentou usar protetor solar mineral na quantidade certa? Para o rosto, a recomendação é de “dois a três dedos de protetor”, ou de ¼ de colher de chá. Estas são apenas medidas teóricas, já que um protetor solar apenas protege na intensidade comunicada se for usado numa quantidade de 2mg/cm2. Não estou à espera que meça o seu rosto e pese o protetor numa balança analítica – quero apenas que fique com a noção de que a quantidade de protetor solar que devia usar é provavelmente muito superior à que usa, e que está dependente da área em que é usado.
Ora, esta quantidade de protetor é muito mais facilmente atingida se se usar um protetor solar com filtros orgânicos – até porque preferimos evitar ficar com uma máscara branca no rosto.
Protetor solar mineral na rosácea
Outra recomendação muito típica do protetor mineral é em peles com rosácea. Não só não recomendo, como desaconselho vivamente.
O primeiro argumento usado é que, como o protetor mineral reflete a radiação, não transforma a energia em calor como os protetores orgânicos fazem (sendo que o calor é um fator desencadeante de crises na rosácea). Ora, já vimos anteriormente que os protetores solares minerais não funciona através de uma barreira física, portanto este argumento está desfeito. Não só isso, como o calor gerado neste processo é bastante desprezável e não terá tendência a despoletar crises.
Além disso, na rosácea, a manipulação da pele é um fator desencadeante de crises. Assim, queremos evitar a todo o custo protetores que são difíceis de aplicar e de remover, como é o caso da maioria dos minerais. Não só isso, como voltamos à questão de proteger a pele com a quantidade certa de protetor solar.
Nestes casos, o ideal é optar por um protetor solar que tenha sido formulado para pele com rosácea ou vermelhidão. Estes protetores têm uma textura fácil de aplicar e de remover, e contêm ingredientes calmantes de forma a auxiliar no controlo das crises. E, claro, não deixam uma máscara branca na pele, pelo que é fácil aplicar a quantidade certa de protetor de forma a evitar crises despoletadas pela radiação solar.
Por que é que vejo dermatologistas no TikTok a recomendar protetores minerais?
E explicação para isto é longa e de base legal, mas vou tentar encurtar ao máximo. Nos E.U.A. os protetores são considerados medicamentos, o que significa que os filtros solares têm de passar onerosos e extensivos testes. Isso tem como resultado que, até agora e desde o início dos anos 90, não houve um único filtro novo aprovado. Isto significa que os protetores solares americanos estão mais ou menos onde os nossos estavam no início dos anos 90 e usam filtros que praticamente já foram descontinuados por cá. Muitos desses filtros antigos têm um historial longo de alergias e intolerância.
Assim, de facto nos E.U.A. os protetores solares minerais são os melhores em situações de patologia se apenas considerarmos as fórmulas americanas. E é por isto que verão os dermatologistas americanos a recomendá-los em múltiplas ocasiões.
Os melhores protetores solares minerais
A utilização de protetor solar é um passo indispensável na manutenção da saúde da pele. Não só é importante usá-lo frequentemente (há quem recomende utilização diária e quem recomende utilização em índice UVA superior a 3), como usar na quantidade certa. Para isso, é necessário descobrir um protetor de que gostamos e que toleramos utilizar na quantidade certa.
Se a sua pele não tolera nenhum protetor orgânico ou se tem filhos bebés, também não quero que saia daqui a achar que não tem hipótese de encontrar um protetor de que goste. Recomendo-lhe que dê uma olhadela aos seguintes:
- Heliocare 360 Mineral para adultos que querem um protetor que espalhe bem;
- Minerais pediátricos da Bioderma (o clássico e a nova loção compatível com pele atópica);
- Bioderma Photoderm Nude Touch para uma opção com cor;
- ISDIN FusionFluid Mineral para uma opção portátil para bebé;
- Martiderm Mineral para uma opção de rosto em adulto mais acessível;
- Dermalogica Invisible Shield para uma opção elegante de uso diário (neste caso com FPS30).
No campo dos protetores coreanos, pode espreitar o Benton Skin Fit, Suntique I’m Pure Perfect Cica ou o SKIN1004 Madagascar Centella Air-Fit
Gostaria de lhe dizer que estes protetores funcionarão em pele morena ou negra, mas infelizmente é difícil de garantir. Nestes casos, o ideal é procurar um protetor mineral com cor que tenha tons mais escuros, como o Australian Gold Botanical Tinted ou o La Roche-Posay Mineral One.
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a ACTIVA nem espelham o seu posicionamento editorial.