Estes dados, que constam do III Inquérito FutURe, realizado pela Merck, mostram que quase metade desta população refere que frequentemente não se sente bem, o que pode indiciar, que não estamos a falar de um momento, mas sim dum continuum.Sofrimento emocional na Geração Z e Millennial: um alerta urgente
E se enquanto profissional da área da saúde mental, são dados que não me surpreendem, parece-me urgente que possamos refletir e perceber este alerta. São muitos, os jovens, que podem estar em sofrimento psicológico e precisam de apoio.
Este estudo, identifica também, os fatores que mais afetam a saúde emocional dos jovens – e o que surge “na primeira linha” são as questões económicas/situação financeira (64%). Podemos pensar nesta realidade conhecida (e vivida) por muitas pessoas, as dificuldades que existem em encontrar emprego ou um emprego que permita responder às necessidades destas gerações – e como se relaciona esta condição com a crise de habitação, que tem vindo a condicionar a decisão de “deixar o ninho”. Os dados do Eurostat, o Gabinete de Estatística da União Europeia, também reforçam esta ideia: em Portugal, de acordo com a informação mais recente, isso acontece, em média, por volta dos 30 anos.
Há ainda a incerteza sobre o planeamento familiar futuro, no qual as exigências económicas têm também um papel, tal como as decisões ou oportunidades profissionais, que levam os jovens a adiar o desejo de constituir família. E mais uma vez, esta dificuldade em planear as suas vidas, poderá ter muitas consequências negativas ao nível da saúde psicológica e emocional. Devemos realçar um aspeto importante que foi abordado pelo Inquérito FutURe, que contribui também para este sofrimento emocional: a falta de literacia em saúde na área da fertilidade. Alguns jovens sentem que, perante as dificuldades atuais, não conseguirão reunir condições ‘em tempo útil’ para atingir alguns objetivos, como serem pais, o que é agravado pela falta de conhecimento sobre alternativas à fertilidade, como a conservação de gâmetas, que podem preservar o potencial reprodutivo para fases mais tardias do ciclo vital.
Por fim, outra questão que surge é a da remuneração/condições de trabalho, que contribui também para este mal-estar emocional, os jovens precisam de melhores rendimentos, no entanto, também valorizam e procuram melhores condições de trabalho – cada vez mais valorizaram empresas com ambientes de trabalho mais saudáveis, que permitam maiores equilíbrios em todas as áreas importantes da vida (ex. pessoal, familiar), empresas que valorizem e promovam a saúde mental das pessoas, que “ofereçam” benefícios de saúde ou mais flexibilidade (…).
É muito positivo ver uma crescente valorização do bem-estar emocional entre os jovens, que indica uma mudança positiva de paradigma, havendo hoje uma consciência crescente da importância dos cuidados pessoais e do tempo livre, com a tónica cada vez mais colocada na qualidade de vida, no equilíbrio entre a vida profissional e familiar e no ambiente. O caminho que temos feito nos últimos – no sentido de se falar de saúde mental e da sua importância – está a chegar onde desejamos, os jovens estão mais alerta, sabem mais e procuram cuidar-se melhor. No entanto, é essencial que a sociedade reconheça essa importância e que os governantes e as empresas implementem medidas eficazes para apoiar a saúde emocional dos jovens, porque sem saúde mental, não há saúde.
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