
Toda a gente se lembra dos bolinhos da avó. Das histórias que nos lia o avô. Dos passeios com a tia Joana. Do bigode do primo Zeca. Um dos traços mais positivos e mais tradicionais da família portuguesa são… os outros: aquela legião – ou enfim… grupinho… – de gente disposta a dar tempo, atenção, carinho e Barbies à sua criança. Actualmente, esta família alargada corre o risco de desaparecer: os avós vivem longe ou trabalham ainda mais horas do que os pais, os tios têm a sua vidinha, e os próprios pais, que passam tão pouco tempo com as crianças, também não gostam de prescindir dos fins-de-semana com elas, e não as partilham de boa vontade com outras pessoas que vêem como rivais no afecto dos filhos.
Treinar diferentes afectos
Mas vale a pena lutar pela preservação dessa espécie em vias de extinção – a família alargada – por várias razões.
A primeira: saber que há pessoas à volta com quem podem contar dá às crianças uma enorme sensação de segurança. O desaparecimento dos pais é sempre um fantasma na vida de todas as crianças, e saber que há alguém que toma conta deles se for preciso é um conforto.
A segunda: o amor dos avós, dos tios, dos primos, é muito diferente do amor dos pais, e todas as crianças merecem descobrir isso. Não quer dizer que seja melhor ou pior, é apenas diferente. Ir às compras com a avó não é a mesma coisa que ir às compras com a mãe, simplesmente porque são pessoas diferentes, e isso dá traquejo social e afectivo.
A terceira: o coração é um músculo, também se treina, e as crianças precisam de ‘treinar’ os seus afectos com mais gente do que o pai, a mãe, os amigos da escola. Precisam de aprender que amar é multiplicar, precisam de aprender a ‘ler’ as outras pessoas, precisam de perceber que há regras diferentes em casas diferentes, que na casa dos avó podem saltar em cima do sofá e na casa dos pais nem pensar. Ou vice-versa…
A quarta: As crianças precisam de ser deseducadas, função que não cabe aos pais, coitados. Tenha fé no futuro: ainda há-de ter netos ou sobrinhos para deseducar à vontade.
A quinta: A família alargada é o ‘mapa’ pessoal de uma criança. Graças às histórias dos avós e dos tios, aos álbuns de fotografias, às molduras da sala, eles aprendem quem são, de onde vieram, como eram os pais com a idade deles.
PROMOVA O ESPÍRITO FAMILIAR
– Desenvolver a união da família não é só coisa de festas de anos ou de Natal. Ver os avós ou os tios só nas festas não cria laços entre ninguém.
– Não os ‘use’ só quando lhe dá jeito para ir ao cinema à noite. Deixe que as crianças passem verdadeiro ‘tempo de qualidade’ em casa da avó ou da tia.
– Não abuse. Os avós têm a sua vida e não são ‘babysitters’ de graça.
– De vez em quando, convide a avó ou o tio para um programa consigo e com as crianças.
– Custa-lhe deixar o seu anjinho com a avó? Anime-se: a ele custa-lhe muito pouco lá ficar. Por isso faça as malas e tire um fim-de-semana descansado com o seu marido enquanto o anjinho fica na sala da avó de pés para o alto a comer bolachas de chocolate e a ouvir histórias de quando o tio António era pequenino.