Sábado à noite é quase sempre sinónimo de festa e saídas com os amigos até tarde. O seu filho adolescente não deve ser diferente dos outros milhões de jovens portugueses, e também gosta de se divertir. E em festa que se preze, o álcool tem quase sempre entrada garantida. Mas eles não bebem da mesma maneira nem pela mesmas razões que um adulto: enquanto os mais velhos bebem um copo de vinho ou de cerveja às refeições, os adolescentes bebem aos fins-de-semana, mas quando o fazem, ingerem grandes quantidades.
Na maioria dos casos não é preocupante; trata-se apenas de uma fase de experimentação e demarcação da fase infantil. Mas é necessário estar alerta, pois os efeitos do álcool podem deixar sequelas bem mais graves que uma bebedeira.
Os primeiros copos
Porque começam os jovens a beber desde tão cedo? Porque é uma droga lícita, barata, disponível em qualquer esquina, socialmente aceite e, em alguns casos, até encorajada. A publicidade constante que bombardeia os mais novos com apelo ao consumo de cerveja, bebidas destiladas como vodka e rum, ou o aparecimento dos ‘ices’ (misturas de bebidas destiladas com refrigerante), incentiva-os ainda mais ao consumo, com mensagens apelativas de descontração, aventura e climas amorosos.
É por volta dos 14 ou 15 anos que muitos jovens começam a sair à noite e percebem que o efeito inebriante da substância, os deixa mais socialmente mais soltos e descontraídos face aos amigos e ao sexo oposto. A experiência alcoolica é quase sempre colectica, feita entre amigos da mesma idade, e encarada como um ritual iniciático.
Não é raro ouvir ainda, em alguns circuitos familiares, os pais encorajarem os filhos, desde muito cedo, a beberem um copo de vinho ou cerveja porque ‘já estão uns homens’. Uma criança que cresce a ver os pais beber com frequência assume quela atitude como padrão de comportamento normal entre um adulto e uma rotina a imitar.
Perigos reais
Helena Fonseca, especialista em Medicina da Adolescência e autora do livro ‘Coompreender os Adolescentes’ (Editorial Presença), refere nesta mesma obra um estudo realizado pela Organização Mundial de Saúde em Portugal, o Health Behaviour in School-aged Children (Comportamento de Saúde em Crianças de Idade Escolar). Este estudo foi realizado em Portugal, em 1998, em 191 escolas e responderam a ele 6903 alunos 6º, 8º e 10º anos, de 11, 13 e 16 anos. Neste inquérito, concluiu-se que os jovens portugueses "que já exprimentaram, assim como os consumidores regulares ou abusivos, apresentam um perfil de afastamento em relação à família, à escola e ao convívio com os colegas na escola", e referem ainda "experimentação de tabaco e drogas ilícitas, lutas e situações de violência na escola, vêem televisão quatro ou mais horas por dia e, em geral, praticam menos actividades físicas." Segundo autora, estes jovens afirmam-se, ainda, menos felizes e apresentam mais sinais de mal-estar físico e psicológico, bem como um maior desagrado com o próprio corpo e uma alimentação menos saudável. Helena Fonseca adverte, também, para uma lista de efeitos nocivos para a saúde. "Se o álcool for consumido num padrão diário, de habituação, eles tpassam a ter mais dificuldades de aprendizagem, reflexos retardados e dificuldades de concentração, já que a substância interfere com o sistema nervoso central. Num adolescente mais jovem, a metabolização do álcool no fígado não se faz da mesma maneira, e o consumo regular pode deixar sequelas mais graves que num adulto. Quanto ao consumo esporádico, o pior são as ressacas do dia seguinte, a maior propensão de acidentes de toda a ordem e a maior probabilidade de acontecer uma relação sexual não protegida."
Mais vale prevenir…
A repressão e o excesso de zelo não costumam funcionar: só tornaram o fruto proíbido mais apetecido. Mas importa conhecer algumas estratégias de prevenção, pois há consequências bem sérias que uma bebedeira.
– Os pais não devem incentivar crianças e jovens ao consumo de bebidas álcoolicas. "O exemplo é muito importante. Não adianta proibir, para depois eles verem que os pais também fazem. Eles devem perceber que os pais quando vão a festas também bebem, mas com conta, peso e medida. E que quem beber, não vai conduzir", lembra Helena Fonseca.
– O jovem pode divertir-se sem beber ou abusar da bebida. "Os pais devem sensibilizá-los que não faz muito sentido beber só pelo acto social e que devem manter a sua personalidade, não procurando popularismo por essas medidas mais fáceis. É frequente eles nem sequer sentirem prazer no consumo, nas primeiras experiências", lembra ainda esta especialista.
– Previna-o de que não deve aceitar boleias de colegas que tenham bebido álcool. É sempre preferivel dividirem um taxi até casa ou combinarem conduções rotativas (quem conduzir não pode beber).
– Dizer que o vai buscar, de madrugada ao bar para onde foi não é boa ideia. Além disso é uma escravatura paterna, levantar-se ás cinco da manhã para ir buscá-lo à discoteca.
– Não adianta recriminar o seu filho quando ele chega a casa embriagado. Helena Fonseca incentiva ao diálogo aberto entre pais e filhos: "Enquanto ele está alcoolizado não vale a pena dizer nada, mas no dia a seguir deve existir uma conversa, sem tom de recriminação, onde podemos dizer que ficámos muito impressionados com a forma como ele chegou a casa na véspera, deixar claro que isso nos entristeceu e perguntar porque resolveu o jovem fazer aquilo e se planeia repetir."
– Repetidas bebedeiras de fim-de-semana podem ser o sinal de alerta de que o seu filho precisa de ajuda médica. Alterações nas rotinas habituais, como perda de rendimento escolar, faltas à escola, perda de capacidade mental e aumento da agressividade devem também ser tidas em conta. Um psicólogo, ou o médico de família, poderão avisá-lo sobre as mudanças que o álcool trouxe à saúde e identificar as verdadeiras causas que o levam a beber. O álcool pode funcionar apenas como meio de camuflar os verdadeiros problemas que o afligem.