As notícias sobre os surtos de meningite meningocócica têm desassossegado muitos pais em Portugal. Desde o início do ano e até ao final do mês de Maio a Direcção-Geral de Saúde registou 98 casos de meningite em Portugal, seis dos quais mortais. Mas que doença é esta, como se propaga, o que fazer para a tratar? Como damos por ela a tempo?
A meningite é uma infecção das meninges, as membranas que envolvem e protegem o cérebro, e que pode ser provocada por vírus ou bactérias, os agentes causadores mais comuns, mas também pode ser originada por fungos e até parasitas, como a amiba, embora sejam extremamente raros. Se não for tratada a tempo, pode causar danos cerebrais irreversíveis e até a morte. Os casos mais noticiados estão relacionados com a meningite meningocócica em crianças, mais vulneráveis à doença, mas os adultos também podem contrair esta e outras formas de meningite. ‘A variante meningocócica é mais frequente no Inverno e na Primavera’, explica o pediatra Luís Pinheiro, que afirma não ser exagerado dizer que este ano já passámos por surtos da doença. ‘Por definição, surto é a ocorrência de um número de casos superior ao esperado. Ou seja, três ou mais casos num município, bairro ou qualquer área delimitada (creche, escola, alojamento, quartel, prisão) num período de 30 dias.
AS MAIS COMUNS
Conheça as formas mais preocupantes desta doença.
Meningite meningocócica
Causada pelo meningococo, bactéria que existe normalmente na orofaringe, mais especificamente na garganta. Só muito raramente consegue vencer as defesas do corpo e desencadeia a infecção. Calcula-se que 10% a 25% das pessoas sejam suas portadoras naturais, sem adoe-cerem pensa-se até que as suas defesas imunológicas aumentam. Há cinco estirpes: A, B, C, W135 e Y. Todas se transmitem por via aérea, nas gotículas de saliva presentes nos espirros, tosse ou até num beijo. O período de incubação é de 2 a 10 dias. A bactéria não vive muito tempo fora do organismo e não se transmite em piscinas, pelo ar condicionado ou mobílias de um local onde houve algum caso. Para além da meningite, o meningococo também pode desencadear uma forma de septicemia, a septis meningocócica, se começar a reproduzir-se no sangue, atingindo órgãos internos antes de chegar às meninges. Pode até dar-se o caso de as duas infecções ocorrerem ao mesmo tempo. A septis meningocócica é muito mais perigosa do que a meningite e pode ser fatal.
Meningite pneumocócica
Causada pela bactéria estreptococos pneumoniae ou pneumococo, é uma das formas mais perigosas, sendo mais frequente em crianças pequenas e em idosos. Também acarreta mais riscos de desenvolver danos neurológicos irreversíveis, surdez ou epilepsia. O habitat natural da bactéria é o aparelho respiratório superior, mas pode passar para a corrente sanguínea através de uma infecção no ouvido médio ou se houver uma pequena fractura ou defeito no revestimento do cérebro.
Meningite por hemofilus influenza tipo B (Hib)
Esta bactéria pode provocar infecções em crianças com idade inferior a quatro anos. Muito dificilmente aparecem casos em idades superiores a esta. A sua vacina já pertence ao Plano Nacional de Vacinação e reduziu imenso o número de casos.
Meningite viral
São mais frequentes do que as bacterianas, mas menos perigosas. Transmitem-se através das gotículas de saliva presentes nos espirros e na tosse ou por hábitos de higiene deficientes. O período de incubação pode ir até três semanas. As dores de cabeça resultantes podem durar meses.
TRATAR E VACINAR
As meningites bacterianas e a septis meningocócica precisam de tratamento hospitalar imediato. Os casos confirmados são internados em unidades isoladas, para evitar o contágio. É preciso começar a tomar antibióticos o quanto antes (ou antivirais, no caso de ser provocada por vírus). Quem tenha estado em contacto directo com pessoas infectadas com meningite meningocócica ou HIB no espaço de sete dias anteriores ao início da doença deve contactar de imediato o seu médico. Para se conhecer o tipo de agente causador responsável e começar a tomar o antibiótico adequado recolhe-se líquido da coluna vertebral um processo chamado punção lombar. Algumas pesquisas sugerem que os não fumadores e as suas famílias têm menos hipóteses de contrair meningite, segundo o instituto inglês Meningitis Trust.
Em Portugal, a vacina contra a bactéria hemofilus influenza inclui quatro inoculações em crianças até aos 18 meses. Existe também vacina contra a variante pneumocócica, recomendada a idosos, pessoas com sistema imunitário deficiente e crianças a partir dos dois meses.
Quanto à meningite meningocócica, só existe vacina gratuita para a estirpe C, que foi recentemente integrada no Plano Nacional de Vacinação. Requer três inoculações, aos 3, 5 e 15 meses de vida. Até ao fim de 2006 prevê-se vacinação para crianças até aos 9 anos (inclusive) e em 2006 e 2007, até aos 18. Existe alguma altura do ano mais apropriada para vacinar as crianças? ‘Qualquer altura é boa e desde que as crianças estejam na idade, independentemente da altura do ano’, explica o pediatra Luís Pinheiro. ‘As únicas contra-indicações são a existência de febre ou alguma doença activa intercorrente, nomeadamente do foro infeccioso, tal como nas vacinas em geral.’
FIQUE ATENTA AOS SINTOMAS!
Reconhecê-los logo pode ser um problema, pois, de início, são iguais a tantas outras viroses. Não existe uma ordem para o seu aparecimento. Os mais comuns são febre, náuseas e vómitos, dores de cabeça e fadiga extrema. Esteja atenta a outros sinais:
crianças até dois anos
Pescoço rígido; Erupções da pele; manchas ou pequenas hemorragias parecidas com picadas de pulga, que crescem rapidamente e não desaparecem quando submetidas à pressão de um copo de vidro ou pelo esticar da pele; Febre acompanhada de ‘mau ar’, com pés e mãos frios; Recusa alimentar; Letargia ou sonolência excessiva; Olhar vago ou fixo; Choro alto ou gemido constante; Pele pálida; Irritabilidade; A ‘moleirinha’ muito rígida.
adultos e crianças acima dos dois anos
Febre, mãos e pés frios; Erupções da pele; manchas ou pequenas hemorragias parecidas com picadas de pulga, que crescem rapidamente e não desaparecem pela pressão feita por um copo de vidro ou pelo esticar da pele; Vómitos ou diarreia; Dores de cabeça muito fortes; Pescoço rígido e impossibilidade de tocar com o queixo no peito; Confusão ou desorientação; Sensibilidade intensa à luz; Sonolência; Convulsões.