Todas nos lembramos do tempo em que éramos crianças e recebíamos algumas das ordens mais irritantes de todos os tempos. As nossas mães, preocupadas com a nossa saúde, pediam-nos para nos agasalharmos, para comer canja quando estávamos do-entes, que não víssemos televisão de luz apagada, que nos calçássemos sempre que punhamos o pé fora da cama. São regras que foram passando de mãe para mãe e, hoje em dia, nós próprias as queremos, aplicar nos nossos filhos. Mas nem tudo o que se diz é verdade. Há mesmo certos procedimentos que além de inúteis, podem causar aborrecimentos às crianças.
‘NÃO RESPIRES PELA BOCA’
Respirar pela boca pode ser sinal de algum problema de saúde. As crianças constipadas ou que apresentam um cres-cimento anormal dos adenóides, muitas vezes vêem-se obrigadas a respirar pela boca. Obrigar o seu filho a não respirar pela boca não vai solucionar o problema que ele tem e vai agravar o seu mal-estar. Se constatar que a criança respira pela boca sem estar constipada, leve-a ao pediatra para avaliar a situação.
‘VAI JÁ TOMAR BANHO’
A higiene tem vindo a ganhar verda-deiros contornos de obsessão à medida que os produtos, tanto para a limpeza da casa como do corpo, se refinam e prometem destruir todas e mais algumas bactérias e micróbios.
A questão está exactamente no tipo de banhos que se tomam. Os produtos bacte- ma imunitário, que assim se vai defender ricidas não devem ser usados pelo menos nos primeiros anos de vida. Tudo porque o sistema imunitário se vai desenvolven-do à medida que contacta com os mais variados micróbios, bactérias e vírus. A ausência de micróbios descontrola o siste-de agentes inofensivos como o pó, o pólen ou os pêlos dos animais. Para um bom desenvolvimento do sistema imunitário, habitue a criança a um banho diário, mas se houver necessidade de voltar ao duche, não use detergentes mais de uma vez por dia. E não se preocupe demasiado com as bactérias que existem no chão da casa. Elas também ajudam a que o organismo da criança se aprenda a defender.
‘COITADO, TEM PÉ CHATO’
Há crianças, e até adultos, com pés completamente planos e não vem daí mal ao mundo. Aliás, muitas crianças têm pé chato, mas ao porem-se em bicos de pés arqueiam a planta.
Nem sempre é preciso fazer trata-mentos para o pé chato. Não é preciso andar a caminhar pela areia nem evitar sítios planos. As palmilhas ou calçado especial só devem ser usados caso o mé-dico o determine. O melhor é consultar o pediatra, porque a dor ou desconforto algumas vezes manifestados ao andar podem dever-se a algum problema nas ancas e nada ter a ver com o pé chato.
VAIS FICAR MARRECO’
A coluna torta deve-se, na maior parte das vezes, à escoliose idiopática, ou seja, a escoliose sem origem definida. Claro que a postura incorrecta não ajuda e pode mesmo originar dores nas costas. A es-coliose deixa de se desenvolver quando pára o crescimento, mas não tem cura. Aliás, nem a ginástica correctora nem a natação vão impedir que a coluna entorte, apesar de contribuírem para melhorar a postura. Até lá, devem ser feitos contro-los do estado da coluna, nomeadamente através de radiografias. Em colunas com mais de 25º de desvio recomenda-se o uso de um colete ortopédico que evita que a coluna entorte ainda mais. Para um desvio superior a 50º poderá ser ne-cessário proceder a cirurgia. Mas como cada caso é um caso só o ortopedista o poderá decidir.
A PÃO E ÁGUA
Se a ele não lhe apetece comer, não force. Ele é que sabe se tem vontade de comer ou não. Mas às vezes, para acabar com a má disposição, o seu filho vai precisar de calorias e muitos líquidos. Não vale a pena estar a dar-lhe só arroz e cenouras cozidas, apesar de ajudar.
Deixe-o comer normalmente, mesmo que o faça em menor quantidade. É na-tural que, se está mal disposto, a comida o enjoe. Tente dar-lhe pequenas quan-tidades dos seus alimentos preferidos. Se ainda for bebé e só estiver a tomar peito, deve continuar a amamentá-lo. Se come papas, dê-lhe papas. Dê-lhe sempre bastante água para não desidratar e tente evitar os antidiarreicos. De qualquer das maneiras, não deixe de pedir a opinião de um pediatra, porque há situações em que uma pausa alimentar é indispensável.
‘AGASALHA-TE, SE NÃO AINDA TE CONSTIPAS’
Apesar do nome, os resfriados não se apanham porque se esteve ao frio ou dormiu destapado. Claro que um golpe de frio é um stresse para o organismo e facilita a infecção, principalmente no Inverno, quando os vírus estão mais à solta porque as pessoas estão fechadas nos -seus locais de trabalho, casa e transportes públicos. Mas deixe de andar a toda a hora atrás dos miúdos e a pôr-lhes casacos e gorros em cima. O máximo que vai conseguir é que fiquem cheios de calor. Lembre-se que, mesmo em pleno Inverno, os futebolistas continuam a treinar de manga curta e calções. O único que tem manga comprida é o guarda-redes e porquê? Porque se mexe menos! Por isso, se o seu filho é muito activo, não tente abafá-lo. Há mães que agasalham as crianças em excesso, esquecendo-se que elas nunca estão paradas.
‘CALÇA-TE, JÁ!’
Pensando bem, os sapatos têm alguma utilidade: servem para não pisarmos por-carias que estão no chão e para não nos magoarmos.
Aliás, o ideal quando se pensa num sapato é que ele não nos lembre que existe, que possa ser usado sem ser sen-tido, que deixe o pé ‘respirar’ e que não force os ossos nem as unhas. Isto numa criança pequena é ainda mais verdade. Ao contrário do que algumas pessoas ainda pensam, os sapatos não servem para ajudar a formar o pé. É tão ridículo querer usar sapatos especiais para formar o pé, como querer arranjar umas luvas que ajudem no desenvolvimento das mãos.
Por isso, deixe de criticar os miúdos sempre que os apanha descalços. Opte por lhes calçar meias com anti-derrapante, quando andam em casa. Mas obrigue-os a calçar chinelos junto de piscinas e em balneários públicos. Os sapatos devem ser maleáveis, de materiais naturais, como o couro ou a lona. Os dedos devem ter espaço suficiente para movimentar-se, por isso em crianças pequenas prepara-se para visitas regulares à sapataria.