INQUÉRITO: QUAL A MELHOR DECLARAÇÃO DE AMOR QUE JÁ LHE FIZERAM?

Como será uma relação no tempo do ‘Homo Internauticus’? O casamento, sobrevive? E o amor romântico? E como é que vamos encontrar a alma gémea? E será que ainda haverá, almas gémeas? Hmmm. O que eu queria mesmo era um caso com um androide.

Chamo-me Kattaryyyna e estou no ano 2070. Vivo sozinha mas tive um casamento que acabou (ele passava o tempo no FaceCoiso com mais 3000 faceamiguinhas e eu sou moderna mas não tanto), uma relação que se mantém apesar de ela (sim, ela) viver no Zimbabué (comunicamos por skype) e mais ou menos cinco relações paralelas extra-skype com quem faço variadas atividades, desde danças de salão até sexo selvagem, consoante a disposição e o dia da semana

Hmmm. Será assim amar no futuro? De repente só me lembro do ‘Blade Runner’. Será o futuro amar um, o que é que era a Sean Young e o louro, um ciborg? E à chuva? ‘Mamã, o meu namorado é um androide?’ A Net, por uma vez na vida, não ajuda. Esta gente sem imaginação não está preocupada com o  que pode vir (temos tanto com que nos preocupar agora…)

O mais que encontro são fragmentos: um artigo sobre o futuro do amor na ‘Psychology Today’ da terapeuta Randi Gunther: “Se somos constantemente empurados para ter a última inovação tecnológica, como podemos não querer a mesma coisa nas nossas relações pessoais? E como podemos mantê-las se a novidade da descoberta esmorece rapidamente? Parece que as relações ‘de porta giratória’ se vão tornar  as novas experiências que mantêm o nosso interesse.”

Um futuro de ‘porta giratória’? Não é melhor que amar um androide…

Mas há quem veja a luz ao fundo do túnel: no site www.thepilgrimage of love.com, outra psicóloga, Anaiya Prakash: “O amor em todas as formas está a tornar-se no próprio tecido da nossa vida. O amor está a acontecer em todas as formas for a do casamento, em grupos, em amizades, em relaxões sexuais,  na Internet.”

Claro que, com tanta atividade, só resta uma solução de futuro: “O paradigma do casamento tem de ser ou dissolvido ou radicalmente transformado: para mim, a monogamia em série resulta bastante bem.”

O amor romântico vai morrer?

Portanto, até agora, duas ideias de futuro que me parecem com muito pouco… futuro: relações ‘de porta giratória’ e a morte do casamento.

Ó céus. Será mesmo assim? Vou procurar a psicóloga Clara Soares, que junta ao conhecimento clínico das relações humanas uma imaginação futurística. Fico mais calma: não, diz ela, o casamento não vai acabar. O que acontece é que vamos ter muitas formas de amar. “O que vai acabar é o conceito da cara metade. Aquela relação que não nos traz nada, tipo ‘eu, tu e a nossa relação morta no sofá’, acabou.”

A antropóloga Helen Fisher, especialista no estudo das relações amorosas, concluiu que, apesar de todas as mudanças no mundo moderno, os nossos três sistemas cerebrais – sexual, romântico e vinculado (relações duradouras) – vai manter-se. Razões a favor, explica Clara: “A taxa de divórcios está a estabilizar, o Viagra e a terapia de substituição hormonal ajudam a um futuro de relações íntimas de qualidade.” Apenas um senão: “O consumo de antidepressivos altera a química cerebral: aumentam a serotonina mas matam a libido e põem em risco o amor romântico. É por isso que nunca houve tanta falta de líbido como hoje.”

Ai ai ai, desculpem lá mas isso é que não pode ser. O casamento que vá à vida, mas o amor romântico? “Não vai morrer, mas vai tornar-se diferente”, defende Clara. “Se eu me apaixonar por alguém, há uma necessidade exclusiva de estar com esta pessoa porque a paixão ativa os centros cerebrais da dependência. Esse tipo de relação vai continuar, porque estamos evolutivamente programados para isso. E o facto de se ter mais oportunidades até vai fazer com que provavelmente aconteça mais vezes. Portanto, amor romântico continuará  a ser o motor das relações humanas. Agora, a manutenção deste amor é que vai ser mais complicado. Vai obrigar as pessoas a fazer mais trabalho de casa.”

Cada vez mais diferentes

O desafio será saber se estamos dispostos a investir tempo e paciência numa relação que coexistirá com possibilidades de gratificação imediata: “O amor instantâneo – os speed datings, os sites de encontros, o ‘fast love’ – pode desgastar, minar a confiança e trazer o desapontamento. O risco é saltar de flor em flor sem nunca se ter o jardim com que sempre se sonhou.”

A estabilidade está ameaçada? “A estabilidade não estará na estrutura, mas em nós.” Ai explique lá. “Quando todas as estruturas caem – e hoje já estamos a assistir a isto –  a estrutura que resta sou eu. Se eu, estruturalmente, estiver baseada na questão do ter – quero, posso, tenho – consumindo aparelhos e parceiros, este tipo de estrutura é falível, provisória, transitória. Se eu tiver uma estrutura de valores em que vou trabalhar aquilo que quero para mim, posso construir uma vida à minha medida. Uma vida personalizada, relações personalizadas. Ou seja, quanto mais desenvolvermos as nossas singularidades, mais fácil se vai tornar encontrar par. Já hoje existe uma diversidade de nichos, e vai haver muito mais no futuro, que será muito mais complexo do que o modelo tradicional do bairro.”

Então mas, no futuro, não vamos todos ser um bocado iguais uns aos outros? A tendência não é a normalização? “A tendência é exatamente a inversa. Para uma relação que terá mais desafios, que terá de suportar eventualmente a distância (pode estar cada um na sua casa, por exemplo), os abalos do quotidiano, a diversidade de oportunidades, é fundamental cada um ser o mais diferenciado possível enquanto pessoa”, defende Clara.

Ao contrário do que se pensa, não estamos a ficar cada vez mais iguais. (Iupi!) “Repare que hoje em dia, nem na moda se tem standard. Somos cada vez mais individuais, só que ninguém fala nisso, porque não interessa aos media nem às estruturas de poder nem às grandes marcas. Por que não? Porque a diferença não é explorável… Não posso vender em massa a pessoas que não são… uma massa.”

O poder feminino vai ganhar terreno

Bem, aqui estou de volta ao futuro, uma bela androide totalmente diferente de todas as outras androides.

Problema: como é que vou encontrar outro  (ou outra) androide à minha altura para relação provisória imediata com futuro incerto mas promissor? Uma coisa é certa: as mulheres vão ser (ainda) mais exigentes: o poder feminino vai ganhar ainda mais terreno. Mais instruídas, mais independentes, as mulheres vão tornar-se também – adivinhem lá – mais exigentes. “Menos tolerantes que as mães e avós, elas vão querer companheirismo e relações paritárias. E isso significa desafios mais complicados para os homens, pouco preparados para tanta mudança.”

Ou seja, se o Manel não me dá o que eu quero, vou virar-me para o João, ou o Tomás, ou o Vasquinho, conheço tantos nas redes sociais…

Vai haver mais gente sozinha (individualismo oblige…) mas também vai haver mais formas de as pessoas se encontrarem, defende Clara. “Regras para o amor, acabaram. Aquela coisa do ‘namoro-amor romântico’, casamento-amor construido, já não existe. As redes sociais como o Facebook vão continuar a forma principal das pessoas se conhecerem, mas a forma como a relação evolui desde aí, vai ser outra coisa.”

Além disso, o que hoje é indesejável, amanhã pode vir a ser a nova tendência social, porque as pessoas terão cada vez mais portos de abrigo onde encontrarem outras iguais a elas. “As portas vão ser mais”, prevê Clara. “Mas como na história do Barba Ruiva, tenho que ter cuidado com a porta que abro…   E se calhar as pessoas que estão sozinhas são as que não querem entrar no jogo de abrir portas, e fecham a delas.”

Paixão por um écran

Muito bem, teremos então muitas portas onde encontrar um possível par. Mas como é que uma geração educada por écrans vai construir relações fora das ondas virtuais? Clara chama a este fenómeno de gente perdida nas emoções o ‘Lost in translation’: “Se nas tecnologias o código é digital (tudo é imediato, a informação é imediatamente fornecida), nas emoções é o código analógico que conta, e este é mais lento que a banda larga. Por isso é que tantos miúdos criados no Facebook têm tanta dificuldade com as relações cara a cara. Num encontro face a face, este não tem sustentabilidade para além do écran, e eles não conseguem modular as emoções.” Segundo Clara, o futuro vai ter de apostar nas terapias e dinâmicas de grupo para treinar a leitura das emoções…

E a tecnologia, não nos vai simplificar a vida amorosa? “ Claro que não! Já hoje andamos cada vez mais atarefados com todos os blackberrys da vida que nos permitem fazer mais quinhentas mil coisas! A pessoa, neste mundo cada vez mais digital, não se pode esquecer que é orgânica, sob risco de desilusão”. Que é que isso quer dizer? “Que, mais cedo ou mais tarde, a nossa ‘humanidade’ sobrepõe-se à tecnologia porque o organismo não consegue processar tanta coisa.”

Ó céus… Será que isto é o fim do meu futuro caso com um androide?

Conclusão: o amor subsiste, mas as circunstâncias sociais afetam-no. “O individualismo vai ser obrigatoriamente passível de revisão, porque não sobrevivemos assim. Nos loucos anos 20 do século passado, igualmente marcados por depressões e crise, as pessoas começaram a encontrar modos de amar mais informais e mais gregários. Mas reencontrarmo-nos é uma inevitabilidade. A nós próprios em primeiro lugar. E de qualquer maneira, só vamos saber as regras quando começarmos a jogar o jogo.”

As circunstâncias não são favoráveis ao amor romântico, mas essas circunstâncias estão rapidamente a mudar. “O amor construído, com menos regras do que antigamente, vai ser possível. Mas vai haver uma seleção natural das pessoas mais preparadas para o viverem. Construir o amor dá trabalho? Pois dá. Mas o impulso da vida é esforço. Agora e no futuro, isso não vai mudar.”

TENDÊNCIA 1: CASAMENTOS MAIS CURTOS

O casamento tende a manter-se, mas a sua duração é menor. Por outro lado, quem consegue mantê-lo vai ter relações de muito mais qualidade. O futuro é o amor construído, um amor trabalhado, que sobrevive a tudo. A química vai ser intelectual e artística, e vai haver muito mais encontros de almas.

TENDÊNCIA 2: FLEXIBILIDADE DE RELAÇÕES

Boas notícias para o Homo Internauticus, afirma Clara Soares. “A flexibilidade de relacionamentos – incluo os que são à distância, já que a mobilidade será um must – e a capacidade para criar vínculos de acordo com as singularidades de cada um. As amizades vão estar em destaque,  e vai haver milhares de opções a nível público e privado. Todos podem perder-se, mas muitos podem encontrar-se, sentindo-se menos apátridas, menos bizarros. Esperemos para ver.”

TENDÊNCIA 3: BISSEXUALIDADE

Atenção, meninas: o homem da vossa vida pode ser… uma mulher . “A bissexualidade vai subir imenso nas mulheres, porque são muito flexíveis em termos emocionais, ao contrário dos homens, que são rígidos”, defende Clara Soares.  “Os últimos estudos do Instituto Kinsey, dos EUA, sugerem que as relações bissexuais são mais expectáveis nas mulheres: nelas, a natureza do desejo apoia-se numa sexualidade multinível, onde sedução, afeto e sexo se misturam. Para nós, o sexo está de facto no cérebro.”

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