
A hiperactividade é uma perturbação do comportamento, que, segundo os dados internacionais, afecta entre 3 a 7% das crianças em idade escolar.
Actualmente, há 400 milhões de crianças que sofrem de Perturbação de Hiperactividade com Défice de Atenção (PHDA) e estima-se que em Portugal existam perto de 50 mil, sendo os rapazes 4 a 9 vezes mais atingidos do que as raparigas.
De acordo com Linda Serrão, Presidente da Associação Portuguesa da Criança Hiperactiva (APCH), ela própria hiperactiva e mãe de três rapazes com a mesma patologia, “uma criança com défice de atenção e índice de hiperactividade é, quase sempre, uma criança muito activa, muito impulsiva e com dificuldades de concentração”.
Sinais identificáveis de falta de atenção
. As crianças têm dificuldade em manter a atenção ao executar tarefas ou actividades.
. Evitam tarefas que requerem esforço mental persistente.
. Distraem-se facilmente com estímulos irrelevantes.
. Parecem não ouvir quando se lhes dirigem directamente.
. Perdem objectos necessários a tarefas ou actividades que têm de realizar.
. Mexem permanentemente os pés.
. Levantam-se na sala de aula em situações em que se espera que estejam sentadas.
. Correm e saltam excessivamente em situações inapropriadas.
. Falam alto e em excesso
. Respondem antes da pergunta ser completada.
. Apresentam dificuldade em esperar pela sua vez.
Insucesso escolar
Por todos estes factores acima referidos, a hiperactividade é considerada uma das principais causas do elevado insucesso escolar que actualmente se verifica nas escolas e também contribui para a difícil integração social destas crianças.
“O momento mais complicado é a entrada para o ensino básico (5º ano), porque as crianças vêm da primária e são confrontadas com um universo maior e com mais perigos, como a droga, o tabaco, a prostituição. Por serem muito vulneráveis, os hiperactivos deixam-se levar facilmente, uma vez que confiam em tudo e em todos. Os pais têm de ter um papel fulcral nesta altura, inclusivamente na escolha dos amigos dos filhos”, explica Linda Serrão.
As crianças com PHDA são vulgarmente vistas como crianças mal-educadas, impacientes, desconcentradas e impulsivas e, na escola, têm resultados fracos. No entanto, a presidente da Associação Portuguesa da Criança Hiperactiva defende que “essas crianças não têm de ser rotuladas pelo seu lado pior”.
Acompanhamento e medicação
De acordo com os dados recolhidos pelos psicólogos e neuropediatras que acompanham estas crianças, o diagnóstico atempado e o consequente controlo da sintomatologia são fundamentais, como forma de prevenir situações de depressão profunda e eventuais problemas de marginalidade na idade adulta.
É aqui que entra o papel da medicação. Ao contrário daquilo que parece mais lógico, os pacientes tomam estimulantes que vão funcionar no cérebro como calmantes. Dentro das poucas limitações que têm estas crianças, uma delas é a alimentação, uma vez que não podem consumir alimentos que contenham cafeí-na (café, coca-cola, chocolate, etc.), que, como se sabe, é um poderoso estimulante.
Falta de meios
As crianças hiperactivas têm necessariamente de ser acompanhadas por pediatras do desenvolvimento ou pedopsiquiatras. O problema é que, como explica Linda Serrão, apesar de existirem alguns hospitais no País com consulta de desenvolvimento, “neste momento, um pai que queira levar o filho tem mais sucesso se for ao privado. Por exemplo, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, há dois anos que a consulta está fechada”. Tudo isto se torna muito mais grave quando os pais não têm meios financeiros para recorrer ao médico particular, onde as consultas superam os cem euros. Por isso, há muitas crianças sem fazer uma avaliação e que não estão a ser tratadas nem acompanhadas. Linda Serrão remata que algo tem de ser feito, já que “o não acompanhamento da hiperactividade pode condicionar o futuro da criança, que tem de ser ajudada o mais possível”.