Cenário típico: no final do dia, o pai ou a mãe vão buscar o filho à escola e a caminho de casa a conversa é mais ou menos assim: ‘Então, como foi a escola?’ ‘Boa.’ ‘Gostaste?’ ‘Sim.’ ‘O que fizeste?’ ‘Não me lembro.’
Se já está a sentir-se irritada, é normal. Ninguém gosta de se ver na pele de um interrogador policial. Janine Driver, especialista em linguagem corporal, mãe de um rapaz e autora do livro ‘You Can’t Lie to Me’ (qualquer coisa como ‘não me podes mentir’), lembra que é natural que depois de um dia inteiro a seguir diretrizes de professores as crianças sintam resistência a continuar no mesmo esquema com os pais.
Por outro lado, ainda estão a aprender a expressar-se, a perceber o que pensam e sentem, precisam de ajuda, mas muitas vezes os pais não têm verdadeira disponibilidade para ouvir, falam para ocupar os silêncios e as crianças percebem e acabam por se fechar…
– Experimente conversar ao mesmo nível da criança, seja agachando-se ou elevando-a. Janine Driver conta como todos os dias tinha um ritual com o filho de quatro anos: assim que chegava da escola, sentava-o no tejadilho do automóvel e falavam 5 minutos. O facto de ele estar numa posição mais elevada dava-lhe um sentimento de importância que o levava a falar mais facilmente.
– Seja criativa. Em vez de perguntar ‘Tiveste um dia bom na escola?, pergunte ‘Qual foi a coisa mais divertida que fizeste hoje?’. Ou, ainda, ‘Se o génio da lâmpada aparecesse agora e te desse três desejos, o que pedias?’, ‘E se ele pudesse apagar três coisas que não gostaste hoje, o que pedias?’… As respostas podem ir do mais tonto e divertido ao mais surpreendente.
– Demasiado empenho pode ser contraproducente. Algumas crianças podem ficar intimidadas com o olhar fixo e inquisitivo dos pais. Nesse caso, o melhor é falar enquanto se conduz ou faz o jantar, sugerem Adele Faber e Elaine Mazlish no livro ‘How to Talk So Kids Will Listen and Listen So Kids Will Talk’.
– Experimente a abordagem indireta. Em vez de começar com perguntas, partilhe algo sobre o seu dia. Conte um episódio, diga como se sente. Por vezes é mais fácil contarmos uma coisa se nos contarem outra primeiro. Se às vezes não contarem nada, não é dramático. Pode não lhes apetecer porque estão cansados ou serem mais introvertidos e levarem algum tempo a elaborar. Mostre-se disponível e não pressione muito.
– Se eles partilharem um episódio desconfortável, como algum incidente com um amigo, não dê logo conselhos. Em vez disso, explore com eles o que sentem. Se colocar o que eles disseram noutras palavras, vão sentir-se compreendidos e podem abrir-se mais. Exemplo: ele diz ‘ninguém me veio buscar para brincar’; em vez de responder ‘oh, isso é horrível’ ou ‘porque não foste tu chamar alguém?’, experimente: ‘Então sentiste-te triste porque ficaste sozinho, foi?’. É quase certo que pega na deixa e continua.
– Esteja a par do universo deles. Conheça os desenhos animados que veem e os livros que leem, assim como o que estão a dar na escola. Desta forma, pode fazer perguntas mais informadas e direcionadas e eles não vão sentir que vive noutro planeta.