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Maus namorados já quase toda a gente teve. Há quem tenha sobrevivido ao topo da escala das agressões, e há quem se queixe apenas daqueles pormenores que não matam mas moem (lembra-se do Carlos Jorge, que fazia barulho a comer a sopa? Do Tozé, que embirrava com todas as suas amigas? Do Paulo, que insistia em passar todo o fim de semana a jogar Playstation?) 
Claro que as mães não têm culpa de tudo, mas há muito que podemos fazer para criar um homem do qual uma mulher se possa vir a orgulhar. “Não há uma receita, mas há sempre medidas que se podem tomar desde muito cedo na educação de uma criança”, nota a psicóloga clínica Íris Martins, do centro de atendimento da Associação de Mulheres Contra a Violência. “Acima de tudo, os rapazes têm de ser educados para o respeito, para a não banalização da violência, e isto vê-se em situações muitas vezes comezinhas. Se os irmãos se batem, toda a gente acha normal, e não é. Uma criança levantar a mão aos adultos, por exemplo, é um comportamento frequente, sim, mas que deve ser falado e discutido para que as crianças não se habituem a viver através da violência.”
Ou seja, regra n.º 1: habitue-o desde pequeno a encontrar formas ‘criativas’ de resolver os seus problemas que não sejam o estalo ou o ‘chamar nomes’. “Se a criança se habitua a resolver os seus problemas porque levanta a mão e é o mais forte, não desenvolve ao longo da infância competências sociais e sentimentais que o vão ajudar a ter uma vida saudável”, diz Íris Martins. 

“Mas onde é que ele aprendeu aquilo?”
Muitas vezes, não é dentro da família que os rapazes aprendem a violência.   “Fazemos muito a pergunta ‘Mas onde é que ele terá aprendido isto?’ e esquecemo-nos de que muita coisa é passada culturalmente, sem sequer ser dita”, lembra a psicóloga. 
Os pais e família têm um papel muito importante, mas têm de se lembrar de que nem tudo depende deles: “Toda a sociedade está organizada em torno da banalização da violência, num mundo em que os papéis masculinos e femininos continuam estereotipados. Os mais pequenos são esponjas sociais, absorvem mesmo aquilo que não é dito: as diferenças de género, a ideia de que os rapazes são mais fortes, por exemplo. E estas diferenças são interiorizadas quer pelos rapazes quer pelas raparigas.”
A família não pode imunizar totalmente a criança, mas pode oferecer-lhe qualquer coisa importantíssima: a autoestima. “Um menino seguro de si não vai precisar de agredir, diminuir ou controlar a namorada, uma menina confiante consegue contar às amigas ou aos pais que o namoro está a correr mal sem se sentir posta em causa. Uma menina mais insegura tem dificuldade em aceitar que a relação não está a correr bem, que escolheu mal, que não era aquilo que queria.” 

Guia para a autoestima
O que fazer para criar esta autoestima de que tanto se fala mas que tanto falta? Começar por dizer diariamente aos nossos filhos que gostamos deles é um bom princípio, embora pouco seguido. 
Sim, é óbvio que eles sabem que gostamos deles, mas as crianças precisam de ouvir o óbvio. Quando foi a última vez que lhe disse ‘adoro-te, és importante para mim’? 
“Nós ainda temos muita dificuldade em elogiar uma criança”, diz Íris Martins. “Claro que não é elogiá-los a torto e a direito ou quando eles fazem um disparate, mas mesmo nessa altura é possível criticar pela positiva: ‘Tu és tão esperto e tão bom rapaz, como é que foste fazer uma coisa destas, vamos lá guardar, arrumar, ajudar’. Portanto, a forma como ralhamos também é importante na forma de passar a mensagem.”

Falar de coisas difíceis
É verdade que muitas vezes não damos aos mais novos os melhores exemplos porque a vida também não nos ajuda a conter a nossa agressividade. “Aliás, se compararmos a descontração das nossas rotinas quando tínhamos 6 anos com a dos nossos filhos, tudo mudou radicalmente. As crianças já nascem em stresse.” 
Precisamente por isso é que é tão urgente ajudá-las a lidar com a vida da melhor maneira, sem que a agitação seja uma desculpa para atos violentos.  
E 3.º aspeto importante: a educação sexual deve iniciar-se em casa. “Eles começam desde cedo a fazer perguntas, e é muito importante falar com eles”, defende Íris Martins. Mas a educação não é só saber o que entra onde e por onde sai o bebé, também é ensinar a respeitar o outro, ensinar que o sexo é algo que se faz apenas quando os dois querem. “Aprender a pôr o preservativo e onde entra o quê, eles aprendem na net, mas a educação sentimental sim, é difícil. ‘Eu não quero dormir com o meu namorado, mas ele pressiona-me, o que é que eu faço?’, questões destas podem ser complicadas de gerir. O que é importante é haver abertura para que isto seja discutido. Se os pais querem ter filhos com capacidade para se confrontarem com problemas que podem surgir – e as estatísticas dizem que uma em cada quatro raparigas já esteve exposta a uma situação de violência – têm de se habituar a discutir situações difíceis desde muito cedo.”

‘Ele quis um Nenuco, e eu comprei-lho’
“Ainda não sabiam pronunciar o próprio nome e já os meus filhos diziam ‘se faz favor’ e ‘obrigada’. Aliás, eles até diziam “obrigada” (com o género trocado) pelo hábito de ouvir a mãe dizer”, conta Ana Isabel Antão, diretora comercial, mãe do Dinis, 12 anos, e do Vicente, 7. Parece um pormenor, mas Isabel acredita que é por aí que se começa: educar no respeito e na atenção aos outros. 
“Aqui em casa só há filhos meninos, mas há uma ‘princesa’ adulta que acredita em amores para a vida. E os amores para a vida trabalham-se desde tenra idade. Os meus filhos já sabem que em matéria de afetos não existem barreiras, preconceitos ou limitações e cedo aprenderam que mimos em ‘excesso’ é um disparate inventado por adultos confusos.”
Isabel esforça-se por combater os preconceitos que rodeiam a educação de um rapaz. “Há uns anos, o Vicente quis ter um Nenuco, e eu comprei-lho. Lembro-me de pensar: porque não? Também ele terá de saber mudar fraldas um dia, alimentar a sua cria, desenvolver o instinto paternal… Claro que há certas coisas que ainda prefiro manter ‘à moda antiga’: o cavalheirismo, os pequenos gestos de segurar uma porta, oferecer o casaco à namorada que está com frio, levar o pequeno almoço à cama.” Ou seja, ser um bom namorado não é apenas não agredir. É também não ter medo de mimar os outros. 

A facilidade do preconceito 
Mas um filho quase adolescente é um desafio para uma mãe apostada em lutar contra o preconceito, ainda por cima quando se é rapaz e se é ao mesmo tempo sensível: “Agora discuto muito com o Dinis a questão dos rótulos e dos estigmas porque ele está numa idade em que os miúdos descobrem a sua identidade sexual e têm muitas dúvidas. E é muito fácil caírem gratuitamente em preconceitos.”
Educar contra a corrente não é fácil, mas Isabel orgulha-
-se de, pelo menos, tentar. Ou seja: “Mais do que preparar o namorado que toda a menina tenha orgulho em apresentar à avó, quero preparar o ser humano que valoriza o próximo pela sua bondade e caráter. Quero que os meus filhos possam amar uma mulher ou um homem sempre que isso for coerente com os seus sentimentos.”

E se tiver filhas?
Uma menina é igualmente sensível à imagem masculina associada a comportamentos agressivos. 
Ora, então, o que é que a minha filha deve saber? “Deve saber, entre outras coisas, o que é um namoro saudável”, nota a psicóloga Íris Martins. “Um namoro saudável exige que a pessoa seja tratada com carinho e respeito. Deve escolher os seus amigos e roupas, e ver os amigos quando quiser, por exemplo. O controlo leva sempre à violência, seja física ou psicológica ou sexual.” 
Terminar o namoro também é um direito, até porque muitos rapazes mantêm uma situação de ‘stalking’, ou perseguição,  e não é fácil quebrar a relação. “As meninas têm de se saber defender e não guardar estas situações para elas próprias, mas falar com alguém: pais, um professor, um tio, um treinador.” O problema é que elas não identificam muitas destas situações como violência! “Acham que muitos destes comportamentos controladores, como o ciúme, são provas de amor. Ainda por cima, na adolescência as pessoas têm muita necessidade de se sentirem aceites e fazem tudo para serem parte do grupo. Ter um namorado, para algumas, é uma forma de serem aceites.” 
Conclusão: rapazes e raparigas devem saber que amor não significa agressividade ou controlo. E os pais têm de dar uma ajuda e conversar sobre o assunto… 

O que um namoro não deve ser
Mais de metade dos rapazes e das raparigas acha normal proibir a namorada/o de vestir certas roupas e de sair com determinados amigos: foi uma das conclusões de um questionário feito a uma amostra de 885 alunos de escolas de Porto e de Braga no âmbito do Projeto Mudanças com Arte da UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta). 5% dos rapazes considera ainda que agredir a namorada ao ponto de deixar marcas não é ser violento. 25% dos rapazes e 13,3% das raparigas entendem que humilhar a namorada/o é legítimo e que ameaçar é normal… 

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