Toda a gente diz que a arte da sedução, tal como a bolsa de Tóquio, está em queda. Que agora já nem sequer há tempo para isso. Nem material que valha a pena atacar. Que os menores de 23 anos (e sabe-se lá se não mesmo os menores de 49) acham que se resume a um SMS de paixão directamente proporcional à ausência de vogais.
Mas a verdade é que eles andam aí. Os sedutores e sedutoras. Nem sequer tem que ser uma Nicole Kidman. Não, são os que andam aí ao pé de nós. A nossa melhor amiga. O carteiro. A prima Joana, que é horrorosa mas que tem admiradores a cair-lhe na caixa do correio como a nós cartas do banco. A gente olha e olha e não consegue descobrir onde está o segredo. Parece que têm íman incorporado A gente quer copiar mas connosco, não se sabe porquê, não funciona. Elas falam das férias na Carrapateira e batem a pestana e o gajo cai. A gente fala nas férias na Carrapateira e bate igualmente a pestana e o gajo desata a perseguir o empregado dos petit-fours. Porquê?
Decidimos tomar uma atitude e seguir a máxima: se não sabe, pergunte. Fizemos entrevistas exaustivas a algumas cobaias cuidadosamente selecionadas, que responderam prestimosamente na condição de se manterem anónimas (não se sabe porquê, talvez porque uma sedutora ainda tem laivos de bruxaria?) e aqui vos apresentamos os segredos de toda essa gente que anda por aí a arrancar corações como quem arranca a azeitona do vermute.
Entrámos logo a matar: imagine que eu não dou uma para a caixa com os homens e quero ser sedutora. Que conselhos é que me daria? Há sempre desmancha-prazeres. “Nenhuns. Quando não se dá uma para a caixa com homens não adianta fazer nada a não ser esperar que apareça algum que ache graça a uma tipa que não dá uma para a caixa com os homens…” Eh…Pois… E se eu não quiser esperar?
Sair de casa é o primeiro passo, foi logo o primeiro conselho. Olha, obrigadinha. Mas admitamos que já estou em pleno bar numa sexta feira à noite farta de bater a pestana a torto e a direito à espera de um gajo que ache graça a uma tipa que (como é que era?) e nada. E então? Primeiro conselho: “Ser sedutor é uma característica, por isso dificilmente se pode ensinar alguém a sê-lo. Ou se é ou não se é.” Ai que bom. Mal abri a loja vou já fechá-la.
Passo a outra cobaia: “Sê tu própria e naturalmente seduzirás alguém.” Ah sim? Então por que é que até agora a coisa tem corrido tão mal? “O segredo está em gostares de ti própria, penso. É cliché, mas é verdade.”
Fim da psicanálise. Conselhos concretos, não há? “Ter cabelo comprido e se possível louro. Eles são muito básicos e não resistem a uma loura.” Estou a ficar um bocado desanimada com a perspectiva de obrigar as minhas sobrancelhas a enlourarem, mas enfim.”Usar óculos escuros porque dá um ar misterioso, não rir histericamente em público, não parecer mais inteligente do que eles, desprezá-los: não telefonar no dia seguinte, nunca dar o primeiro passo, dizer que se vai ‘sair com uns amigos’, mostrar um ar blasé mas também não demasiado blasé, porque senão a caça pode fugir.”
Ai meu Deus. A caça? Não ser mais inteligente? Loira? Mas afinal estamos em que século? “Cavernas”, respondeu-me logo uma. “Eles ainda não sairam das cavernas.”
Mas não há ninguém que me diga qualquer coisa que não inclua prantar-me dez horas no cabeleireiro e sair um clone da Marisa Cruz (com sorte)? “Primeiro tens de gostar deles. Dos homens. Eles não significa eles todos. Tens de gostar do género masculino.”
Estou a ver. De facto, eu é mais espinafres. Mas subitamente, começa a fazer sentido. “Não é evidente que a maioria das mulheres gostem do género masculino. A maioria quer um namorado ou um marido, mas não tem paciência para as coisas tipicamente masculinas. Gostar do género é gostar do que eles são: voz grossa, pêlos, músculos.”
Pois. Cavernícolas. “O passo indispensável: olhá-los nos olhos. A maioria das pessoas baixa os olhos – apaga a magia – e termina ali o que poderia ser o começo de qualquer coisa muito divertida. Se sentires impacto, sorri. Com os olhos. Deixa que ele veja, porque o jogo da sedução é acima de tudo linguagem não verbal. É necessária empatia e química. Por outro lado, não se consegue seduzir sempre que se quer. Acontece.”
Ó meu Deus, obrigada! Uma profissional! Adeus loirice! Adeus Marisa Cruz! Afinal tudo está dependente de meus magníficos olhos! (Pena não serem azuis…)
Agora que estou devidamente endoutrinada, aproxima-se o primeiro passo. Que emoção. Imaginem que vejo o loiro e o loiro já me viu, e mercê do meu olhar magnético e da minha subtil adoração de pêlos e músculos, consegui que não fujisse atrás do senhor dos petit-fours. E agora?
“Sobretudo, há que perceber que género de pessoa é a ‘vítima’. É do tipo que aprecia uma graça? – se bem que a experiência me diz que não há um homem que não aprecie uma mulher com humor – é do tipo que aprecia o mistério? É do tipo que aprecia a mulher discreta? Dependendo dele, eu assumo o papel e depois é só lançar charme.”
Assumir o papel? Então e se ele for do estilo de apreciar pegas de caras e eu for vegetariana? Isto é mais complicado do que eu estava à espera.
“Acima de tudo, não começar a imaginar que bom seria ter um marido assim e se os filhos vão sair ao pai ou à mãe. Não compliques, não penses, não hesites. Pensa só no agora.” Não sei se consigo. Não pensar é muito complicado, já dizia o Fernando Pessoa.
“Ele voltou a reparar em ti? Olha-te?” Não! Ameaça voltar-se e perguir o homem dos petit-fours! “Aproxima-te mais ainda.” Mais só se lhe saltar para o colo… “Diverte-te”. Não sei se consigo. “Diverte-o”, Porquê? Não sou o Circo Chen…
“O olhar nos olhos é fatal mas geralmente dá asneira: ou se atrai um homem igualmente forte com quem se choca ou um xoninhas que precisa de uma rocha a quem se agarrar.” Ai. Então? Já não sei se hei-de olhar para o loiro ou para o canapé de caviar. “Queres um conselho?” Sim, mas depressa que vem lá o carrinho dos doces. “Des-sexualiza a sedução. Queres mais sedutora que o sorriso do bebé para a mãe?” Descaio-me e faço beicinho. O loiro imaginário lança-me olhar horrorizado e foge entre a multidão.
Antes de escolher outro alvo, vamos ouvir o resto da dissertação que eu interrompi. Dizíamos então que a sedução não é necessariamente sexual. “Não te esqueças que fazemos isso diariamente com os nossos pais, amigos, chefes, com o homem do talho, o desconhecido ao telefone. É uma questão de sobrevivência social, afectiva, profissional, política. A sedução é apenas uma competência social que se adquire.” Pois, então porque é que toda a gente me ama, os meus amigos são dedicados, o meu chefe me adora, o homem do talho escolhe para mim os melhores bifes mesmo sendo eu vegetariana, e o loiro me foge?
Aprender com Sherezade
Vamos voltar atrás. Tragam-me lá o loiro outra vez. Tragam também a cobaia experiente de há bocado, lembram-se, a dos espinaferes? O que ela diz é o seguinte: “Quando te sentes atraída, o jogo deve ser muito subtil. Não entres no território dele. A sensação de ameaça é tremendamente assustadora para eles.” Ai coitadinhos. “Tu não queres casar, ter filhos, arruinar a conta bancárai dele.” Só se não puder. “Tu estás ali a dizer com o olhar que ele é o homem mais atraente do mundo”. Se conseguir esquecer-me do george Clooney e do Brad Pitt e daquele, como é que ele se chama, o do ‘Titanic’. “Mas não vais entrar no território dele. Estás ali e ele vai poder conquistar-te e tu brincando foges. Nada pode ser sério. Deve-se despertar o instinto de caçador dele, dar espaço ao sonho e à imaginação.”
Pronto, despertei a imaginação. E agora? “Tu dás o teu telefone. Mas dizes que amanhã não estás em casa. Tu não lhe telefonas. Vais-te embora logo que a coisa comece a tornar-se interessante. Aprende com Sherezade, a mais sedutora de todas as mulheres: parava a história na parte mais interessante.”
Não sei porquê, mas no que toca à Sherezade acho que devia ter mais a ver com os véus. Quanto a nós, a técnica, pelo menos, já cá canta: “Quando começares a sentir que estás tão interessada nele que vais começar a fazer disparates, imagina que tens outro de quem gostas e a quem estás a trair.” Eu, a trair o George Clooney? Era lá capaz… “Garanto-te que ele vai sentir essa incerteza e isso é mesmo muito sedutor. O pai da Jackie O dizia-lhe que o segredo para ser sedutora era: porta-te sempre como quem tem um segredo.” Ai Meu Deus. Parece que a minha avó regressou do Além de braço dado com o Senhor O. Avancemos uma casa, de qualquer maneira, para ver no que dá.
Ser ou não ser loira
Se calhar é qualquer coisa no meu aspecto. Já lá dizia Alexandre Frota que “quem gosta de beleza interior é decorador.” Afinal, para ser sedutora é preciso ser bela? “Não. É preciso ser loira.” Pronto. Voltamos à vaca fria. “Eles querem todos um troféu para exibir aos amigos, porque odeiam serem passados para trás. Só escolhem uma mulher feia quando são muito inseguros, porque preferem uma feia a não terem ninguém, ou então quando gostam verdadeiramente dela, mas para isso é preciso que a conheçam desde os três anos.”
Estou a ficar cada vez mais deprimida. Mas vem lá pior. “Uma relação assemelha-se muito a uma ida às compras. Quando entras numa loja, eliminas logo o que nunca te iria interessar e deixas em mente aquilo que talvez sim. Geralmente, se já tiveste muita roupa já sabes o que te ica bem e o que não te favorece, o que te aperta debaixo dos braços e o que te faz parecer mal. A vantagem está em escolher qualquer coisa que te favoreça, que seja uma mais valia, e que eventualmente dê para conjugar com outras…”
Ai eu não acredito nisto. É melhor passar a outra área. Quem se deve evitar seduzir? “Uma mulher deve saber reconhecer aquilo a que eu chamo ‘homem com cara de quem bate nas mulheres’. São homens que, não sendo homossexuais, não gostam de mulheres. Também devem evitar os mulherengos, os viciados em shots hormonais ou que precisam intensamente de atenção.”
E um melga. “Um melga não percebe porque é que não seduz, porque não está atento à linguagem não-verbal, ao desviar do olhar, ao sorriso amarelo, à impaciência… O engatatão que tenta caçar quem quer que seja, é um desesperado, e ninguém quer um tipo que quer qualquer pessoa. Também se deve evitar os indisponíveis, os carentes, os que estão à procura de uma mãezinha, o nosso melhor amigo e definitivamente, os que têm mau hálito.”
E o retrato-robot do sedutor? “Confiança. Atitude. Uma voz firme e pausada. Um convite para jantar. Um ‘não tenho pressa’ quando lhe perguntei se não era tarde. O olhar directo. Não ter de lhe explicar tudo. A inteligência. A cultura.”
E que é dele?
Pensávam que nos estávamos a esquecer deles? Pois não esquecemos. Deixámos para o fim os heróis da fita. Sim, são eles, em pessoa, os sedutores-homens. Pormenor: tivemos muito mais sedutoras confessas do que sedutores. Por que será? Porque eles odeiam falar sobre isso? Porque são supersticiosos? Porque não entregam as armas? Em todo o caso, ainda encontrámos algumas cobaias masculinas que nos contaram alguns truques.
“Em primeiro lugar, não acredito que existam truques de sedução. Acho que é nos pequenos gestos que está a verdadeira essência.”
Pois, mas mais detalhado, se faz favor. “Na maior parte das vezes, uma mulher desinibida deixa um homem pronto a fazer xixi pelas pernas abaixo. Eu pessoalmente gosto, mas a maioria dos homens prefere ser ele a apalpar terreno.”
E não só. Pois, mas o que é que acontece quando eles não se mexem de onde estão? “A pedido de muitas famílias, aqui ficam algumas dicas aos candidatos a sedutores: observar a presa com um olhar fixo mas desinteressado (onde é que nós já ouvimos isto). As primeiras palavras são fundamentais. Convém levar uma primeira frase ensaiada, mas com o tempo pode viver-se da imaginação. Mais fácil será pedir um amigo comum que os apresente, embora retire um certo charme À coisa. No caso da troca de números de telefone, esperar pelo menos três dias até fazer a chamada.”
Ahhhh! Socorro! Npor favor, não façam isto em casa! Estão a ver por que é que os sexos não se entendem? Porque nós ao segundo dia já lhes perdemos o respeito todo e já estamos a achar que eles não têm tomates, e eles acham que três dias é um prazo perfeitamente aceitável para marcar um reles número de telefone!
Enfim. E mais tácticas? “Como dizer o grande Mister Mourinho (já cá faltava) temos de pensar sempre em nós próprios mas adequar a estratégia ao adversário. Jogar contra o real Madrid não será o mesmo que atacar o Carcavelinhos…”
Há quem discorde: “O verdadeiro sedutor não transforma o ritual num safari! O sedutor usa de sinceridade exagerada para atingir os fins. Ataca, mas com um fim honesto.”. Ai se a minha avozinha e o senhor O estivessem aqui para ouvir isto… Nota: se alguém estiver interessada, esqueça. O rapaz é casado e bem casado.
Futebol e poesia
Ser bonita ajuda? “Claro. Mas para mim o verdadeiramente importante é que beba um gin tonic enquanto fala apaixonadamente da filmografia do Tim Burton; que tenha uma voz tão sexy como o corpo da Beyoncé; e que me convide para jantar e prepare uma lasagna de camarão. Com direito a sobremesa…”
Eh… Só isso? E porque é que a maioria dos homens não faz ideia de como se seduz uma mulher? É porque se sentem ridículos, porque estão genuinamente a leste ou porque não precisam?
“Porque partem do pressuposto errado de que o objectivo do jogo é levá-la para a cama. O homem precisa de seduzir porque está na sua natureza, mas está cansado das exigências das mulheres que são funsamentadas pelos anos de repressão que viveram.”
Eh lá. E que dizm os outros? “A maior parte dos homens fala de carros, futebol ou trabalho, as mulheres querem que os homens lhes recitem poesia, escrevam linhas apaixonadas e lhes falem de mundos e sonhos paralelos. Há por aí muitos homens que não têm noção nenhuma disto, mas estes arranjam uma cachopa de aldeia e casam cedo, ou morrem solteiros gastando fortunas em call-girls.”
Conclusão? Como dizia uma cobaia feminina, “eu acho que a sedução mais eficaz aparece sempre como uma surpresa. É quando uma pessoa é apanhada desprevenida que as histórias de amor acontecem. E aí, não tem nada a ver com ser loira ou morena, esperta ou burra, alta ou baixa. É um susto, um ataque de coração. Acontece. Cada vez acho mais que temos é que estar na altura certa no lugar certo.”
E se nesse dia pudermos estar sem borbulhas, melhor.