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Nos tempos de namoro, ele aparecia com flores, chamava-lhe fofinha, levava-a a jantar fora e mal podia esperar por abraçá-la num fim-de-semana a dois. Depois do ‘sim’ oficial, beijos apaixonados, nem vê-los; o paradigma da ternura conjugal é ele chamar-lhe ‘ó filha’ e fins-de-semana apaixonados a dois são fantasia de cinema. Será que o amor muda assim tanto depois de assinarem os papéis?

“Mostra-me o teu lado lunar”

João Lima e Margarida Vieitez, psicólogos e terapeutas familiares no Espaço Família, estão habituados a lidar com casais em apuros e revelam que são as mulheres quem mais procura ajuda especializada quando algo vai mal. “Vivem mais intensamente a relação e apercebem-se mais depressa de que algo não está bem”, diz Margarida Vieitez.

“Não é o assinar de um papel que faz com que as pessoas mudem. A relação conjugal permite mostrar o melhor e o pior de cada um de nós”, diz Margarida. Durante o namoro, fazemos tudo para agradar e, como diz o Rui Veloso, mostramos apenas o ‘lado solar’ da nossa personalidade. “Por isso, algumas relações constroem-se sob falsos alicerces. O tempo de namoro e de paixão é um tempo de ilusão e idealização do parceiro. Mas idealiza-se demais”, observa Margarida Vieitez. “

Os primeiros anos são de adaptação difícil; surgem as primeiras divergências e conflitos que, geralmente, não apareceram no namoro. Temos tendência a querer mudar o outro à nossa imagem, a querer que ele pense, decida e sinta como nós.”

“Há mais estabilidade emocional”

Cristina Costa tem 41 anos e está casada há 13. Os primeiros seis anos foram um idílio de amor… e liberdade. “Foi bom podermos viver juntos e acabar aquela clandestinidade dos encontros, que nos deixava desconfortáveis. Não passava um dia sem que ele não me dissesse como eu era bonita. Saíamos com amigos, íamos ao cinema, jantávamos fora, namorávamos muito.”

Sandra Susano, 28 anos, casada há três e meio, sentiu o mesmo. “Há mais estabilidade emocional. E, como ela afecta o cérebro, há uma tendência ligeira para engordar”, brinca. “É melhor agora: já não andamos a fazer testes e a ‘ver se dá’. Não existem apenas os meus problemas e os dele, mas os ‘nossos’.” Mas estabilidade também significa que os desatinos da paixão acabam. “O sabor dos primeiros beijos deixa muitas saudades.”

Paulo Figueiredo tem 41 anos. Com horários loucos e muitas viagens a trabalho, consegue a proeza de estar casado há 19 anos. “Sou uma anormalidade”, ironiza. Quando começou a namorar coma actual mulher, andava na tropa e vinha de propósito de Mafra para Lisboa, dormir a casa, para poder estar com ela.” Casaram um ano depois. Mas a rotina e as exigências laborais não se compadecem com o amor. “A paixão assolapada tem prazo de validade mas é substituída por algo muito melhor: amor e amizade.”


O terapeuta João Lima confirma esta tendência para o esmorecer do romance. “Deixa de haver o elemento surpresa dos encontros de namoro. O dia-a-dia é tão preenchido que não temos tempo nem para olhar para o outro”, observa João Lima.

Mas Paulo Figueiredo não se rende ao fim da aventura: “Noto, agora, uma maior necessidade de termos tempo só para nós. Recuperamos o elemento-surpresa, quando planeamos um fim-de-semana a dois, sem filhos. Contamos os dias e as horas até lá., como dois namorados Quem nos vê, nessas alturas, pensa sempre que somos amantes e não marido e mulher”, sorri.

“O sexo é melhor agora”

Nem toda a paixão esmorece no pós-casamento. Pelo menos é esta a opinião tanto de Sandra Susano como de Mónica Santos, esta última casada de fresco há três meses após um ano de vida em comum em união de facto. Ambas assumem que o sexo melhora quando se reparte a cama com alguém. Mónica defende que, agora, ela e o marido vivem uma intimidade mais intensa. “O sexo ficou melhor depois de começarmos a viver juntos. E isso é um ponto de união entre o casal.”

Sandra sente o mesmo. “A intimidade é maior agora. Depois de algum tempo a viver juntos, começamos a saber de que é o outro gosta no sexo e estamos mais à vontade para fazer coisas mais loucas. É preciso treinar a criatividade, fazer uma ginástica mental nesse sentido que um solteiro, se calhar, não faz.”

Mas é precisamente no capítulo sexo que homens e mulheres não estão muito sintonizados. No gabinete do terapeuta de casal, elas a eles queixam-se de coisas diferentes. “Apesar de usarem a mesma expressão: falta de atenção”, diz João Lima. “Elas queixam-se de falta de afectividade, cumplicidade, partilha, interesse.” Para eles, falta de atenção prende-se com pouco interesse sexual por parte das companheiras.

“Juntei-me ao clube dos amigos casados”

Quando casou, Sandra Susano comprou casa longe dos amigos dos tempos de solteira, mas depressa fez novas amizades. “Com o casamento, acabam-se muitas borgas fora de casa. Juntamo-nos mais com amigos em casa. Descobri que havia um clube de amigos casados e com filhos que só se dão uns com uns outros. Agora, que engravidei, sinto uma proximidade ainda maior por parte deles.”


Margarida Vieitez confirma a tendência de isolamento do casal logo nos primeiros tempos. Mas isso é tudo menos saudável “Quando a relação acaba, sentem-se perdidos e sem o apoio dos amigos porque não investiram neles durante anos.” É isto que Mónica, tem medo que aconteça ao marido. “Quando começámos a namorar ele criou atritos com alguns dos melhores amigos deles e adoptou os meus”, conta. “Agora, cada vez que combino qualquer coisa com os meus, ele também vem. Não consigo estar sozinha com eles. Irrita-me um pouco. Já lhe disse que, se um dia nos separássemos, ele ia sentir-se desamparado porque não tinha ninguém da rede dele. Os antigos amigos dele não lhe iriam perdoar isso.”

“Eles carregam a mãe para o casamento”

O terapeuta João Lima confirma os nossos piores receios: “Os homens procuram, com o casamento, alguém que lhes preste cuidados. Ainda carregam a mãe às costas para o casamento”, diz com um sorriso.

Rute Alves já o sentiu na pele. Tirando a desarrumação do marido, a sogra é única fonte de discussões entre ambos. “Mete-se na nossa vida, tem sempre opinião em relação ao nosso filho e só falta acusar-me de que ele está magro por minha causa”, brinca. “Ele cresceu num ambiente familiar em que a mãe era o homem da casa. Mas ela não o preparou para o que o esperaria depois do casamento e de começar a trabalhar.”


Foi na altura em que começaram a viver juntos que Mónica Santos percebeu o mesmo em relação ao marido. “Ele era um bocadinho menino da mamã e estava habituado a que a ela lhe fizesse tudo. Teve de aprender a ajudar em casa, a arrumar o que desarrumava.”

Cristina Costa sabia que o então namorado também sofria do síndroma-mamã e por isso, aconselhou-o a comprar casa e ir viver sozinho por uns tempos, antes de darem o nó. Foi remédio santo. “Isso ajudou muito. Aprendeu a cozinhar, a limpar, a arrumar. Quando casámos, dividiu logo as tarefas caseiras comigo.”

“O primeiro filho mudou a relação”

Uma das fases mais problemáticas acontece quando nasce o primeiro filho. “São os homens quem mais se queixam; sentem-se negligenciados em favor dos filhos”, confirma Margarida Vieitez. Cristina passou por isto. “As coisas mudaram entre nós quando o meu filho nasceu, ao fim de seis anos de casamento. Foi uma criança muito desejada mas muito difícil, porque não dormiu nos primeiros dois anos e meio. Não tínhamos tempo para nós. Senti uma separação grande entre mim e o meu marido.”

A privação de sono trouxe-lhe alguma irritabilidade que só ajudou a abanar ainda mais a relação. Dois anos e meio mais tarde, quando filho começou a dormir, o marido queixou-se de falta de atenção que sentia por parte dela. Retomaram as rotinas românticas aos poucos: já saem de novo juntos, ainda andam de mão dada, de vez em quando, e procuram arranjar tempo para estarem sozinhos. “Mas o carinho extremo dos primeiros tempos perdeu-se”, confirma.

Rute teve um filho há oito meses e sabe que é uma fase muito exigente: o papel de mãe sobrepõe-se sempre ao de mulher. “Desde que o Guilherme nasceu ainda não tivemos muito tempo para estarmos sozinhos mas já conseguimos ir uma ou duas vezes ao cinema e jantar fora. Não sou mãe-galinha e consigo deixar o meu filho em casa de família se nos apetecer fazer qualquer coisa a dois. Não morremos para o mundo só porque temos um filho.”

Margarida Vieitez realça a importância dessas rotinas. “É preciso que o casal continue a namorar, a sair, a viajar. Mas, para isso acontecer, é preciso que tenha apoios.”

“O meu território agora é o nosso”

Quando começamos a viver com alguém acaba-se o espaço que antes era só nosso e onde tudo seja feito à nossa maneira. Sandra lidou bem com essa perda. “Acho o máximo haver gavetas no meu quarto que não são minhas. Mas, quando me chateio com ele, custa-me o facto de não ter um espaço isolado só para mim, um refúgio. Mas nunca dormirmos chateados.”

Rute Alves, de 30 anos, deparou-se com esta situação após casar: “Antigamente, quando nos chateávamos, ia cada um para seu lado. Agora, temos de lidar com o facto de estar na mesma casa com alguém com quem se acabou de discutir. Ele sempre teve de dormir sobre o assunto, eu sempre tive que o resolver na hora. Resultado: no dia seguinte ele está bem, eu estou mal porque não consegui resolver o que queria. Mas fui eu que tive que aprender a ceder nesse campo.” Rute também percebeu, depois de casar, que havia uma característica do marido que a enervava. “Durante o namoro, era tudo fantástico, ele era muito cuidadoso, pensei que ajudasse muito em casa. Depois, constatei que era muito desarrumado… e eu chego a ser paranóica com a arrumação.”

Mónica passou pelo mesmo. “Faziam-me confusão coisas como o pijama em cima da tampa da sanita, os ténis no chão da casa de banho. Era um ponto de atrito porque gosto das coisas feitas à minha maneira. Mas também ganhamos consciência que temos hábitos que enervam o parceiro.”

Da roupa pelo chão aos grandes desafios do matrimónio, é preciso conhecer o parceiro, chegar a compromissos mas também aprender a fazer um auto-exame de consciência. “Ou então, nunca nos achamos responsáveis por aquilo que correu mal”, diz João Lima. Margarida Vieitez acrescenta: “As pessoas casam-se à espera que o outro as faça felizes. Ninguém tem obrigação de fazer ninguém feliz à excepção de nós próprios.”

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