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*artigo publicado originalmente em janeiro de 2016
Já lhe chamaram ‘a fada do sono’: Filipa Sommerfeldt Fernandes é especialista em ritmos do sono do bebé e da criança, e autora do bestseller ’10 Dias Para Ensinar o seu Filho a Dormir’ (Esfera dos Livros), da novidade ’10 Histórias para Adormecer sem Medos nem Birras’ (Ed. Manuscrito) e da página de Facebook ‘Sleepy Time’. Dá consultas em várias clínicas, lida diariamente com mães cujos filhos dormem pouco e sabe o quanto isso afeta as suas vidas. Mas defende que é possível descansar, e que ensinar um bebé a dormir é uma questão de educação e organização.
1. Afinal, porque é que um bebé não dorme?
“Há crianças naturalmente mais agitadas do que outras, e há problemas fisiológicos que afetam o sono. Mas normalmente, os problemas de sono somos nós que os criamos”, defende Filipa Fernandes. Famílias com logísticas contrárias ao sono dos bebés alteram os seus ritmos e ‘baralham’ as suas horas de descanso. “Naquelas queixas típicas de crianças que acordam de hora a hora, há quase sempre questões de ambiente que podem ser resolvidas.”
2. A rotina é importante?
“Para um bebé, sim. E é importante não deixar passar a sua ‘janela de sono’ e não o deitar mais tarde na esperança que ele durma até de manhã.” Os bebés têm uma ‘janela’ de sono muito curta, ou seja, temos de apanhá-los logo que começam a ter sono. “Quando os pais dizem ‘deito-o mais tarde, ou não o deixo fazer a sesta para ele chegar cansado à noite e adormecer mais depressa, ou ‘passou o dia todo a andar de bicicleta, que bem que vai dormir’, estão a tomar o caminho totalmente oposto ao sono do bebé. Porque o bebé, quanto mais cansado estiver, pior dorme. Eles têm de dormir durante o dia, e têm de ir para a cama à hora certa.”
3. Quando é a hora certa para deitar um bebé?
Temos de aprender a distinguir os sinais de sono: esfregar os olhos e a cara, pegar nas orelhas, ou quando começam a ficar irritados. Mas não se deve esperar até chegarem à irritação: deve-se deitar a criança logo que começa a ter sono. Ou seja: quando eles parecem ‘ligados à corrente’ é porque já estão demasiado cansados. “Claro que a hora depende da idade, mas eu defendo que se deite uma criança em idade pré-escolar por volta das 8h30. É na altura em que o sol se põe que está mais disposto a dormir. E não adianta deitá-lo mais tarde, porque vai acordar à mesma hora…”
4. Como conciliar uma vida caótica e um bebé?
Com organização, defende Filipa. “Quando chegamos a casa estamos tão cansadas que só queremos ‘despachar’ os miúdos e eles andam atrás de nós enquanto tentamos resolver o máximo de tarefas. O que eu proponho, se for possível, é que se adie as tarefas que podem ser feitas depois e se dedique mesmo que pouco tempo ao bebé. Sente-se no chão um bocadinho, sem televisão, sem Ipad, sem jogos, com calma. Mais vale meia hora de sossego do que duas horas com eles stressados à nossa volta. E isso faz toda a diferença na hora de deitar. O deitar é visto como uma separação, e tem de ser um momento tranquilo.”
![Livro Filipa Sommerfeldt.jpg](https://images.trustinnews.pt/uploads/sites/4/2019/07/8148950Livro-Filipa-Sommerfeldt.jpg)
“10 histórias para adormecer, sem medos nem birras”, Filipa Sommerfeldt Fernandes, Manuscrito, €13,90
5. Como é que se ensina um bebé a dormir?
“Não sou adepta da teoria do deixar chorar. Até pode ser eficaz, mas eu não o fiz e não aconselho, porque ensinar a dormir não tem de ser feito com sofrimento. O que eu aconselho: primeiro, dê uns miminhos ao bebé e depois ponha-o na cama. Se resmungar, permanecemos ao pé dele. Acalmamos, cantamos, falamos baixinho. Vale tudo para acalmá-lo, menos ir-se embora. Porque eles tiram uma ‘fotografia mental’ ao ambiente antes de adormecer. Se a mãe está ali quando adormecem e não está quando acordam, vão chorar e chamar e o trabalho recomeça e recomeça eternamente. Portanto, durante uns dias aguente-se no quarto até ele voltar a acordar: o ciclo de sono deles dura uns 45 minutos, e ele vai voltar a acordar. Portanto, fique no quarto. Em alguns dias, dependendo do bebé, ele vai perceber, quando acorda, que está tudo igual, e vai readormecer sozinho, sem ser preciso voltar a acalmá-lo. Durante esses dias, tem de estar preparada para passar algum tempo acordada. Mas depois compensa.”
6. Como fazer a transição berço-cama?
Geralmente é muito pacífico. “A idade ideal para fazer isto é por volta dos seis meses, quando a fase inicial das mamadas já passou”, explica Filipa Fernandes. Além disso, é uma idade em que eles ainda não têm muito a noção do seu espaço. Mais tarde, aos dois anos, já pensam ‘espera lá, que eu não sou daqui’ e a transição pode ser mais complicada. “Evite acumular ‘transições’, por exemplo pô-los a dormir sozinhos quando volta ao trabalho ou quando nasce um irmão.” Há truques que evitam o desconforto de uma criança pequenina: “Com o meu filho, reduzi um pouco o espaço da cama de grades colocando uma almofada aos pés, para que ele não tivesse aquela sensação de espaço vazio. A não ser que sejam ‘alpinistas’, aqueles bebés que já estão de perna levantada prontos a evadir-se. A este deve tirá-lo imediatamente da cama de grades. “Deite-o num sítio de onde não possa cair: uma cama de viagem ou uma cama baixinha.”
7. Como lidar com os pesadelos?
Primeiro, não se assustar porque é uma fase inevitável, faz parte. “Há pais que, quando o filho acorda com medo de monstros, dizem ‘isso não existe’. Mas se eu tiver medo de alturas e me levarem para uma varanda e me disserem ‘as vertigens não existem’, eu não vou deixar de ter medo. O medo não é racional, e tentar explicar-lhe que um monstro não existe, não é eficaz. Truque: a luta contra o medo trava-se de dia: trabalhamos para que as crianças se sintam ‘crescidas’ e ‘poderosas’. Damos confiança. Pedimos para desenharem o monstro com que sonharam. ‘Ai que monstro tão feio! Agora vamos cortar o monstro em bocadinhos e deitar no caixote do lixo. Este monstro nunca mais te chateia!’ Ou pôr-lhe na cama um ‘boneco mágico anti-monstro’, ou um spray ‘mágico’. Temos de o ajudar a ‘matar o bicho’.”
8. Porque nos preocupamos tanto com o sono dos filhos?
Porque é uma espécie de barómetro da nossa competência enquanto mães, e porque nos afeta. Mas parece que não foi sempre assim. “Há uns tempos levei o meu filho com 3 meses a uma terra longe de tudo, onde as mulheres se vestiam todas de preto”, lembra Filipa. “E elas diziam ‘ai que menino tão acordado e tão esperto!’ Depois explicaram-me que no tempo delas um bebé de 3 meses estava quietinho dentro de casa. Ou seja, nós queremos ‘estimular’ as crianças desde que nascem. Queremos que sejam génios. Que saibam tudo. Que aprendam inglês, mandarim e sapateado aos três anos. E eles andam entupidos de estímulos.” A ideia também não é voltar ao tempo dos bebés sozinhos e deitados o dia todo. “Mas a conversa e o mundo que veem já é estímulo suficiente. Não precisamos de guizos, de rocas, de bonecos pendurados à frente. Isto resulta num excesso de cansaço acumulado que não os deixa adormecer.” Depois, a vida das mulheres hoje não se compadece com noites mal dormidas. “Nós trabalhamos no dia seguinte, e se eles não dormem, enlouquecemos. Tenho mães que batem com os carros porque andam mortas de sono. E isto é muito desvalorizado. Mas também odeio a teoria do ‘aguenta, se não quisesses ter trabalho, tinhas um Nenuco.’ A maternidade é muito cansativa, mas se tivermos informação e vontade de a pôr em prática, tudo se resolve.”