Todos temos aquele amigo ou familiar que está sempre bem-disposto. É aquela pessoa leve, de quem gostamos de estar perto. Porém, são também muitas vezes essas mesmas pessoas a sofrer de problemas como a depressão, por exemplo. E a explicação é simples.
Vivemos numa era em que a ansiedade atinge picos históricos, mas em que também há um forte apelo ao bem-estar, ao relaxamento, à meditação, ao afastamento da negatividade. Só que isto torna-se perigoso, a partir do momento em que nos deparamos com quadros de positividade tóxica.
Isto é, estamos tão focados em ver o copo meio cheio que chegamos a ignorar ou bloquear emoções negativas. E isto pode trazer graves consequências à saúde, já que “todas as emoções que reprimimos são somatizadas, expressas através do corpo, muitas vezes na forma de doença. Quando negamos uma emoção, ela econtrará uma forma alternativa de se expressar“, diz Antonio Rodellar, psicólogo, em conversa com a BBC.
Tal como Mark Manson escreve em “A Arte Subtil de Saber Dizer Que Se F*da”, “qualquer tentativa de escapar do negativo falha. Evitar o sofrimento é uma forma de sofrimento“. E Rodellar concorda, ao afirmar que ignorar emoções negativas só aumenta a atenção que lhes direcionamos, tornando-se algo insustentável, a longo prazo. Pode mesmo refletir-se em problemas de pele ou Síndrome do Instestino Irritável.
Além disto, o psicólogo explica que, ao focarmo-nos apenas no positivo, tornamo-nos mais vulneráveis, quando nos deparamos com situações negativas e difíceis. A psicopedagoga Teresa Gutiérrez vai mais longe, referindo que acredita que o positivismo tóxico “tem consequências psicológicas e psiquiátricas mais graves que a depressão“, já que “se não houver frustração e fracasso, não aprendemos a desenvolver-nos nas nossas vidas“.
No geral, os psicólogos acreditam que o ideal é aceitar cada emoção que nos chega. E isso não implica ser demasiado extremo em relação à mesma. Isto é, não devemos pensar que estamos perante uma situação dramática, nem que vai tudo ficar perfeitamente bem. Devemos, sim, reconhecer aquilo que nos está a acontecer, e usá-lo para nos tornarmos mais resilientes.
Stephanie Preston, professora de psicologia, deixa ainda um conselho: quando alguém partilha sentimentos negativos connosco, em vez de dizermos que vai ficar tudo bem, devemos fazer um esforço para ouvir realmente a pessoa. “Estar numa situação emocionalmente difícil já faz as pessoas sentirem-se sozinhas e isoladas. Quando outros tentam silenciar essas emoções, dói muito. Ouvir alguém que está a sofrer pode fazr uma grande diferença na vida da pessoa“, explica.
Em resumo, não se trata de não se dever ter uma atitude positiva. Trata-se sim, de não nos forçarmos a sentir algo que, na realidade, não sentimos. Importa validar cada sentimento e aceitar que não há problema nenhum em não estar bem. Importa também passar menos tempo nas redes sociais, que nos dão uma falsa imagem da realidade, e participar em conversas honestas sobre as nossas emoções.
Nota: em casos de instabilidade na saúde mental, importa procurar sempre ajuda de um especialista, como um psicóloco. Quando existem casos de depressão, este acompanhamento é essencial para evitar a progressão da doença.