Numa altura em que o drama da guerra na Ucrânia marca a atualidade, os adultos tentam processar as notícias avassaladoras que chegam da Europa de Leste. Mas não são os únicos: esta realidade também afeta os mais novos.
Assim sendo, os pais têm de estar prontos para falar com os filhos sobre o conflito armado. Quem o diz é a médica e especialista em parentalidade Deborah Gilboa, sublinhando que o assunto só deve ser abordado se as crianças fizerem perguntas — ou se esta crise implicar diretamente o bem-estar de amigos ou familiares.
“É melhor envolver crianças dos oito anos para cima”, diz a perita à plataforma TODAY. “Mas, se elas ouvirem falar do tema noutro lugar, é melhor falar com elas em qualquer idade”.
A médica diz ainda que os pais devem tomar algumas decisões antes de falarem com os filhos. “Pense no que quer que eles aprendam. Qual é a mensagem que quer transmitir juntamente com os factos”, recomenda. As mensagens podem consistir em, por exemplo, “A guerra é longe e estamos seguros” ou “A política é realmente muito importante nas vidas das pessoas e temos de votar“.
Eis os conselhos da Dra. Gilboa sobre como é que se explica uma guerra aos mais novos em diferentes faixas etárias:
Infantário — 8 anos
Para as crianças mais novas, Gilboa recomenda dar-lhes informações factuais com, pelo menos, um valor pessoal. A mensagem deve ser curta e clara como, por exemplo: “Há uma guerra longe, onde não há militares portugueses. Estamos seguros, mas é algo sério”.
“Se elas fizerem mais perguntas, responda de forma simples e reforce o seu valor”, acrescenta. Então, se uma criança perguntar “porque é que eles estão a lutar?”, os pais podem dizer “Eles estão a lutar para decidir quem deve estar no poder, mas é longe daqui“.
É primordial que os pais tranquilizem os filhos e mantenham um diálogo aberto. “É muito útil dizer ‘Quando tiveres mais sentimentos sobre o assunto, podes vir falar comigo’. Não ‘se’, mas ‘quando’. O ‘quando’ deixa a porta mais aberta do que o ‘se'”.
Entre os 8 e os 10 anos
Novamente, Gilboa apela a que os pais mantenham a mensagem simples e partilhem uma lição sobre o que é importante para a família. “Pode parecer que na sua vida ou na vida do seu filho a mensagem é sobre segurança ou ser patriota”.
Quando as crianças surpreendem os pais com perguntas sobre a guerra, não há problema se eles não estiverem prontos para abordar a questão. Porém, devem reconhecer que ela foi colocada em cima da mesa e revisitá-la mais tarde. Dizer algo como “Sou a pessoa certa para perguntares isso” ajuda os mais novos a entenderem que os pais são fontes confiáveis.
“Dê espaço a si mesmo para decidir qual é a lição”, aconselha a especialista, acrescentando que embora as perguntas possam apanhar os progenitores de surpresa, também lhes dá uma vantagem: eles sabem o que preocupa a sua prole.“Sabe quais são as respostas que eles procuram”, sublinha.
Estudantes do 2.º e 3.º ciclos
Os pais devem começar por perguntar aos filhos o que é que eles sabem sobre a guerra. Depois, podem responder a perguntas específicas.
“Tendemos a partir do princípio que os nossos filhos se sentem de uma determinada forma e, muitas vezes, estamos errados”, diz a perita. “Isto permite-lhes começar no nível em que estão, em vez de no nível em que pensamos que eles estão”.
Fazer perguntas também permite que os pais instiguem os filhos em relação aos factos. “Podemos corrigir quaisquer ideias erradas”.
Se os pais não souberem a resposta para alguma coisa, devem procurá-la com os filhos. Isto oferece o benefício adicional de mostrar às crianças onde encontrar informações confiáveis e como pensar criticamente sobre as fontes. “Quando os vemos a aprender, fazemos parte do processo e da conversa”.
Estudantes do ensino secundário
Os pais devem começar por perguntar aos adolescentes o que é que eles sabem sobre o conflito atual, e partilhar o máximo de informação factual possível, sempre com os próprios valores. Mas também devem perguntar-lhes como é que eles se sentem em relação ao assunto e onde consomem informação.
“Os adolescentes sabem o que os adultos pensam sobre o assunto e são influenciados por isso”, diz Gilboa. “Mas também são influenciados por outras pessoas”. Assim sendo, os pais podem ajudá-los a “pensar criticamente sobre onde vão buscar informação e as suas crenças“.