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Normalmente, somos nós a lançar desafios aos entrevistados, mas desta vez fomos nós a ser postas à prova.Durante um mês mudámos hábitos profundamente enraizados no nosso dia a dia ou ainda decidimos criar outros, mais saudáveis. Pelo menos, tentámos…

Mais ainda que na passagem de ano, setembro, depois das férias, traz uma nova onda de boas intenções. Entre mergulhos e bolas-de-berlim, prometemos deixar o açúcar, fazer exercício o ano inteiro, ler mais e ver menos televisão à noite… Este ano, a redação da ACTIVA decidiu não ficar pelas boas intenções e passar à ação.

E nem sempre somos o exemplo de boas práticas democráticas. Que o diga Patrícia, empurrada para o ginásio à força, depois de uma vida sedentária que nunca a incomodou particularmente. Já Catarina não precisou de ajuda para dificultar a sua própria vida. Ainda lhe sugerimos que passasse a beber mais água, mas ela preferiu levar água ao seu moinho: comprou o passe Navegante e começou a vir de Lisboa para Paço de Arcos de transportes, desafio que veio a dar-lhe água pela barba. Foram 30 dias por vezes difíceis, com muita contestação (e gargalhadas) à mistura, agora aqui relatados numa espécie de desabafo público.

Aqui fica o testemunho da nossa subeditora. O próximo episódio sai daqui a uma semana.

Gisela Henriques
Desafio: um mês sem açúcar

“Primeiro que tudo tenho de confessar que sou gulosa. Quando vou a um restaurante, a primeira coisa que vejo é a lista das sobremesas, sobretudo quando são de gastronomias de outras paragens. Felizmente, sou esquisita e não sou fã de doces conventuais nem de bolos cheios de creme. Valha-me isso, porque os quilos já chegam e sobram. Quando aqui na redação decidimos fazer este desafio dos 30 dias, não hesitei em optar por dizer adeus ao açúcar. Não porque ande a comer bolos todos os dias, mas porque, entretanto, comecei a ter uma obsessão que me irrita muito: drageias coloridas, que são só açúcar e corantes artificiais. ‘Então porque compravas?’, pois, boa pergunta. Porque era mais forte que eu. Passou a ser a muleta que me acompanhava quando estava a escrever artigos e a minha versão ‘pipocas’ a ver Netflix ou HBO. Sempre que passava pelo supermercado, lá ia um pacotinho, depois uma embalagem de 3… e ultimamente 2 embalagens. No final, ficava maldisposta e incrédula, ‘por que raio estava a comer aquela porcaria?’.

Mas para que o corte do açúcar puro fosse total, teve de ir além das drageias coloridas, obrigou-me a ver todos os rótulos daquilo que tinha na despensa e… muita coisa foi excluída: desde iogurtes açucarados a bolachas, ao pão e à mistura de aveia (tinha açúcar de coco lá pelo meio da lista de ingredientes) que punha no iogurte do pequeno almoço. Além disso, o resto da família foi avisado da tolerância zero aos doces lá em casa e nem a minha mãe escapou à vaga estalinista antiaçúcar, estando proibida de trazer os seus belos bolos para os almoços domingueiros. Devo dizer que eles também cumpriram as regras, ou então foram muito discretos porque não dei por nada.

O primeiro dia correu superbem, comecei por ter de triturar aveia para pôr no iogurte natural sem açúcar. No início estranhei o sabor mais amargo do iogurte, mas como disse o poeta, depois entranhei e ao fim de uma semana já me deliciava (e os meus gatos também). As refeições SOS de sanduíche foram feitas com pão do bom, nada de açúcares na lista dos ingredientes. Check!

À noite é que as coisas não foram tão fáceis. Fazia-me falta estar ‘entretida’. Não era fome, mas vontade de mastigar alguma coisa.

Depois de dias a beber refrigerantes (sem açúcar), encontrei um substituto: amendoins, com casca. O prazer que me dava descascar aquilo! Foram vários dias a recorrer aos amendoins a ver séries italianas, até que tive de acabar com a brincadeira porque comecei a ter problemas de estômago, o meu calcanhar de Aquiles. Risca da lista. O tempo foi passando e eu resistindo com mais ou menos esforço, mas nada de arrancar cabelos. Nem as idas ao restaurante me fizeram grande mossa. Estava à espera que fosse mais dramático mas aguentei estoicamente sem pedir sobremesa. (É claro que recusei ir a restaurantes que iria ter dificuldade em resistir, como ao sírio e a sua baclava com gelado de menta, e ao italiano com um tiramisu de cair para a banda). Truques para evitar sofrimento.

Mas nem tudo foram rosas, nos primeiros dias acordei cheia de dores de cabeça (ressaca do açúcar?) e tive de recorrer a litradas de refrigerante sem açúcar para compensar. Apesar disso, foi mais fácil do que eu estava à espera (felizmente) e nem o stresse profissional me fez mergulhar em pastéis de Belém. Nunca prevariquei? Ah, pois, prevariquei, uma vez por engano (tirei do frigorífico um iogurte natural açucarado) e outra por opção (bolo de aniversário do hubby). E se na primeira fiquei enjoada com a doçura, na segunda foi mesmo drástica a consequência, digamos que deu a volta à barriga e mais não digo. 

Esta experiência deu para me aperceber da minha verdadeira dependência: refrigerante, porque quando faltou fiquei muito muito zangada e com vontade de sair porta fora e ir comprar. Próximo desafio (além de reduzir o consumo de plástico): acabar com o refrigerante. Felizmente este não será partilhado, senão haveria muitos #$%* e ?&%$#* a expressar o meu desespero.”

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