Se olhou para a fotografia e já está a dizer ‘ai mas que sossegadinhos, os meus não são nada assim’ está cheia de razão: os irmãos (pelo menos em grande parte do seu tempo) não são esta paz e este sossego. Afinal, é com um irmão que primeiro aprendemos as dificuldades da socialização. Magda Gomes Dias, criadora do blog ‘Mum’s the boss’, e do site ‘Parentalidade Positiva’ e autora do livro ‘Para de chatear a tua irmã e deixa o teu irmão em paz’, explicou-nos como separar uma briga (e muito mais).
Os irmãos brigam. E vão brigar sempre. Objetivo para os pais: conseguir que a) se peguem menos e b) aprendam a gerir sozinhos os seus conflitos. Esta odisseia parental torna-se mais fácil se soubermos à partida quatro ‘verdades’, segundo Magda Gomes Dias: as crianças são ótimas a criar conflitos, as crianças não sabem gerir conflitos, nem tudo o que parece conflito é conflito e nem tudo o que parece paz é paz. “Perceba o que está por trás de uma briga: se os miúdos se pegaram sempre, qual é a relação que temos com cada um deles, como é o seu caráter, tudo isso importa. Além disso, é normal que crianças pequenas não tenham as ferramentas necessárias para se darem bem.”
- Vamos então a um conflito básico: “O João está a mexer nos meus legos!”
Partilha forçada, nunca: “Há miúdos que têm imensa dificuldade em partilhar, e quanto mais se força essa partilha, mais eles a sentem como uma violência pessoal”, explica Magda. O ideal é (e isto é muito difícil) trabalhar isso com ele. Como? “Nos dias em que ele consegue partilhar qualquer coisa, elogiá-lo e mostrar-lhe como isso é bom. E partilhar os pais é o mais difícil de tudo. Daí a importância do Dia do Filho Único: tente passar algum tempo a sós com cada um deles. Recentemente fui aos Açores com a minha filha mais velha. E nesses dias descobri imensas coisas que não sabia sobre ela! Porque quando se leva os dois, os irmãos estão constantemente a pegar-se, e não conversam com os pais como quando estão a sós.”
2. “A Maria gritou-me só porque eu desenhei com as canetas dela!” Metemo-nos ou não?
Pois: nim. Não se meta na guerra, não diga quem está certo ou errado, veja o que falta a cada uma das crianças e ensine-lhes competências para precisarem cada vez menos que se meta. “Mas eles vão-se pegar a vida toda, e vão-se pegar com outros”, lembra Magda. Portanto, o objetivo não é impedir o conflito: é que eles aprendam a lidar com ele da melhor forma. “O ideal é eu dizer: ‘Não tenho nada a ver com este assunto, vocês resolvam-se’. Mas há idades e situações em que eles não conseguem fazer isto. Quando se pegam ou chamam nomes, temos de intervir. Afastamo-los e traduzimos o que um quer dizer ao outro. ‘Sabes que a tua irmã não gosta de emprestar as canetas da escola. Há outras canetas com que possas escrever?’ Esta é uma estratégia importante, porque traz para a consciência da criança aquilo que está de facto a acontecer.” E isto pode-se fazer desde bebés. Por exemplo, um bebé quer a chave da mãe: podemos dizer ‘Sei que querias brincar com a chave mas a mãe precisa dela’. E eles percebem? “Claro que percebem. Portanto, eu não escolho odiar o meu irmão, mas posso escolher não lhe bater, por exemplo. Há miúdos que nos desafiam muito, e não é fácil. Mas isto não se resolve de um dia para o outro.”
3. “Ó mãaaaaaaae, ele bateu-me!” Que posso fazer para que os meus filhos sejam amigos?
Em primeiro lugar, não ter essa expectativa. “Porque isso é de uma exigência atroz para os miúdos. Eu não escolhi aquele irmão, porque é que tenho de o amar? Por outro lado é muito frustrante para uma mãe ver os filhos brigar.” Em segundo lugar, identifique de que forma cada um dos seus filhos se sente mais amado. “Por exemplo, o meu filho adora que eu jogue futebol com ele, mas a minha filha odiaria. O ‘pack’ de medidas é: prevenir, fazer dias de filho único, perceber de que forma precisam de ser amados, e promover um ambiente calmo em casa. Porque eles vão-se pegar de qualquer maneira, e se houver menos uma pessoa a gritar, ajuda muito.”
4. “Sai daí, é a minha vez de jogar com o ipad.” E agora?
Chatear o irmão é a maneira mais eficaz de ter atenção. Temos de lhes dizer “‘Eu percebo que estavas a apanhar uma seca, mas quando isso acontecer, vem falar comigo’. Claro que isto é difícil de fazer. E eu não vou dizer isto uma vez: vou dizer isto milhares de vezes.”
5. O João quer ir aos avós. O Manel quer ficar em casa. Os pais cedem ao Manel, porque o João é mais velho. É justo?
“Claro que não. Se eu obrigo sempre um a ceder, como é que depois quero que eles se deem?” Não alimente a rivalidade. Os miúdos nunca se voltam contra os pais, o irmão é que é o alvo a eliminar. Portanto, o papel dos pais é importantíssimo.”
6. “Ligas sempre mais ao António!”
“Nós construímos muita da nossa personalidade em oposição ao nosso irmão”, explica Magda Gomes Dias. “O mais velho por sistema constrói-se à imagem dos pais: é o certinho, o sossegado, o cumpridor. Porque não tem contra quem se posicionar. Há mais velhos rebeldes, mas são poucos. O mais novo, se for certinho e igual, ninguém lhe liga. Como é que vai conquistar o seu espaço? Em oposição. Em princípio, vai ser uma criança mais leve, com mais sentido de humor, mais físico, mais cómico, mais rebelde, mais fora da caixa, para ter a atenção dos pais.”