A lutar contra o cancro colorretal, descoberto em janeiro deste ano, Preta Gil desabafou sobre a doença e o consequente fim do casamento com o personal trainer Rodrigo Godoy,
Em conversa com a edição brasileira da revista “Marie Claire”, a cantora deu detalhes sobre o divórcio, desaconselhado por muitas pessoas que lhe são próximas.
“O meu instinto de sobrevivência fez-me querer a separação, mesmo estando com cancro, porque [o casamento] não me fazia bem”, começou por dizer. “E é machista achar que tenho de ficar casada para cuidarem de mim. Por que o marido é mais importante do que a mãe, o pai, o amigo? Isso é um traço do patriarcado, que dá essa importância tão grande ao homem”.
Separação e divórcio: os ‘efeitos colaterais’ do cancro dos quais pouco se fala
De acordo com um estudo realizado pelas universidades de Stanford e Utah, e pelo Centro de Investigação Seattle Cancer Care Alliance, as mulheres têm um risco seis vezes maior de serem abandonadas pelo marido após o diagnóstico de uma doença grave. Já os especialistas da Sociedade Brasileira de Mastologia dizem que 70% das pacientes diagnosticadas com cancro lidam com a rejeição e o abandono do parceiro durante o tratamento.
A filha de Gilberto Gil foi casada com Godoy durante oito anos e pediu o divórcio em abril passado, após ter descoberto uma infidelidade do marido enquanto estava internada, a receber tratamento oncológico. Quando questionada sobre se fazia parte das estatísticas, não teve dúvidas.
“Infelizmente, faço parte dessas estatísticas, sim, porque, de facto, a relação o acabou. Por mais que não estivesse boa até então, e por mais que eu tenha decidido separar-me (…) A decisão foi minha, mas já estava a acabar”, revelou à “Marie Claire”. “O casamento não superou um tratamento oncológico. Não é tão pragmático. Ficamos a tentar justificar. Existem nuances numa separação tão sofrida como foi a minha. Mas faço parte, sim. Não conseguimos ultrapassar isto”.
A imposição de desafios inesperados na vida a dois
Em declarações à mesma publicação, a psicóloga Flávia Vieira explica que o diagnóstico de cancro abala não só o paciente, mas também toda a família, comprometendo a realidade e os planos para o futuro. “São diversos lutos simbólicos que chegam com o cancro e trazem dor e sofrimento. As viagens, a carreira, a compra da casa, os filhos, a vida social, o lazer, tudo o que pertencia ao desejo de ambos antes da doença precisará de ser repensado. É o luto pelo que talvez não poderá ser vivido da forma que sonharam”.
A perita sublinha que a dinâmica do casal é afetada em várias dimensões, incluindo entre quatro paredes. “A sexualidade passa por desafios importantes, devido aos tratamentos invasivos que alteram a autoimagem, a libido e, consequentemente, a intimidade. A rotina de ambos também muda. São visitas frequentes a clínicas e hospitais, medicações ao longo do dia, alteração nos cuidados com a casa e os filhos. As finanças também sofrem um impacto, pois custear o tratamento oncológico pode levar a dificuldades”.
No entanto, a psicóloga também menciona que, apesar de o número de divórcios e abandonos do lar seja alto, não é o único cenário possível. “Também acompanho mulheres que têm uma base sólida de afeto, segurança e proteção nos seus relacionamentos. Homens que se desafiam no papel de cuidadores e que prezam pela relação, para além da rotina sexual favorável. São grandes suportes, inclusive para os bons resultados do tratamento oncológico. O que vou dizer até pode ser romântico, mas é uma realidade objetiva: o amor é dos remédios mais potentes, seja qual for a doença.”