O nosso trabalho, vida social e entretenimento tornaram-se inextricavelmente ligados ao smartphone. E a pandemia piorou as coisas, potenciando o uso excessivo deste tipo de dispositivos. Um comportamento que pode manifestar-se de várias formas, incluindo ficar acordado até tarde, a fazer scroll nas redes sociais, ou ter dificuldade em estar completamente presente no trabalho e relações interpessoais, por conta deste fascínio.
Embora não seja oficialmente reconhecido como um vício, “há um número crescente de especialistas em saúde mental que reconhecem que as pessoas podem ficar viciadas nos seus telemóveis”, diz a Dra. Anna Lembke ao jornal “The New York Times”.
A perita em adição professora de Ciências Psiquiátricas e Comportamentais na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, sublinha que uma adição é parcialmente definida pelos três C’s:
- Controlo: usar uma substância ou realizar um comportamento (como jogos de azar) de maneiras que seriam consideradas fora de controlo, ou mais do que o pretendido;
- Compulsão: estar intensamente preocupado mentalmente e usar uma substância (ou realizar um comportamento) automaticamente, sem decidir ativamente fazê-lo;
- Consequências: uso continuado apesar das consequências sociais, físicas e mentais negativas.
Independentemente da definição, a docente partilha algumas formas de reduzir o tempo passado em frente ao ecrã.
Fazer “jejum”
Uma abordagem que a perita considera ser altamente eficaz é evitar usar quaisquer ecrãs na totalidade, num período que pode ir de um dia a um mês. A estratégia não foi formalmente estudada, mas as evidências relativamente a outros tipos de vícios, como o alcoolismo, sugerem que pode ser bem-sucedida. Como é óbvio, um “jejum” radical pode não ser prático para a maioria das pessoas, seja por razões profissionais ou pessoais, mais o objetivo é chegar o mais perto possível do corte total.
A Dra. Lembke alerta para o facto de muitas pessoas podem notar sintomas de abstinência numa fase inicial como, por exemplo, irritabilidade e insónia, que tendem a melhorar com o passar do tempo. Em 25 anos de prática clínica, reparou que ao fim de um mês de jejum, a maioria dos seus pacientes “relata ter menos ansiedade e depressão; dormir melhor; ter mais energia; completar mais tarefas; e conseguir olhar em retrospetiva e ver de uma maneira mais clara o impacto do uso de smartphones”.
Após a fase de abstenção, a recomendação é refletir sobre como redefinir a relação com estes aparelhos no futuro.
Estabelecer regras
Também é uma boa ideia encontrar outras maneiras menos rigorosas de distanciar-se do telemóvel todos os dias. Isto pode consistir, por exemplo, em designar horas do dia ou da semana em que não usa o telemóvel ou deixar o aparelho noutra divisão da casa, mantendo-o fora do quarto.
Tornar o smartphone menos apelativo
Apagar certas aplicações, especialmente aquelas que tem mais dificuldade em evitar, é outro passo útil. “Use aplicações que enriqueçam a sua vida, acrescentem valor e significado, ou sejam necessárias para o trabalho, e não aquelas que a levam para um labirinto”, diz a Dra. Lembke. E se essas apps forem as mesmas que causam vício, a especialista aconselha criar algum espaço, recorrendo às dicas acima mencionadas.