Perceba – As velhinhas boas maneiras são hoje vistas por muita gente como inúteis. Para que é que vou ensinar o meu filho a segurar a porta à vizinha do 4.º andar se a vizinha do 4.º andar nunca segura a porta a ninguém? Mas as tradicionais boas maneiras estão muito longe da etiqueta presumida dos salões de chá das nossas avós: continuam uma essencial lição de boa vontade e simpatia que importa passar às crianças.
Explique – As boas maneiras levantam hoje em dia algumas questões filosóficas: por exemplo, passamos a vida a ensinar às crianças que se deve ser honesto e dizer o que se pensa, e de repente não é boa ideia dizer à avó Lúcia que se odiou a camisola que nos deu nos anos? O que é que estamos a ensinar, então? A hipocrisia? Não exactamente. Uma coisa é mentir para atingir um fim, outra é ser suficientemente sensível para não magoar os sentimentos dos outros. Qualquer criança percebe que ela própria também não gostaria de ouvir: “Mas que desenho horroso que tu me deste!”
Ensine a simpatia – Não tem de ensinar a ser hipócrita. Pode ensinar que, mesmo nas piores ocasiões, há sempre um lado positivo: “Esta camisola parece mesmo quentinha!” Além de delicadeza, estará a ensinar o optimismo e a boa vontade, que lhe serão valiosos durante toda a vida.
Fixe-se nos básicos – Como toda a gente sabe, as mães já não passam 24 horas em casa e já não podem corrigir as crianças a toda a hora, portanto decida aquilo que é de facto importante para si, e esqueça os acessórios.
Reveja a matéria – Há coisas que se usavam no tempo das nossas avós e que continuam a fazer sentido ainda hoje (sim, a trilogia ‘por favor’, ‘desculpe’ e ‘obrigado’) e outras que já não fazem muito sentido (passar uma refeição inteira sem falar, por exemplo, ou ensiná-lo a beijar a mão a uma senhora). E depois, sejamos realistas, há outras que já não pegam. Se se prepara para exigir à sua criança um quarto arrumadinho, prepare-se para uma longa batalha. Talvez seja melhor esquecer que existe aquela parte da casa e escolher outras guerras…
Crie empatia – Habitue-o a pensar nas outras pessoas. Claro que isto não se faz como no tempo das nossas avós: “Olha aquele menino tão educadinho, não é como tu, seu mandrião, que tens tudo e és um ingrato!” Seja simpática com ele e ele aprenderá a ser simpático com os outros.
Faça notar os retroactivos – Quer dizer, mostre-lhe como as pessoas ficam contentes quando somos delicados com elas. Faça notar como aquela senhora lhe fez um enorme sorriso quando ele lhe abriu a porta (se ela não fez, pode sempre concordar com ele que aquela senhora tinha um ar mesmo antipático, e que algumas pessoas são assim mesmo) ou como a vizinha do 4º lhe agradeceu quando ele lhe levou um dos sacos de compras. Mas não obrigue. Se o obrigar, perde-se a lição principal das boas maneiras, que é a da boa vontade espontânea para com o mundo.
Dê o exemplo – Comece por lhe fazer a ele o que gostaria que ele fizesse aos outros: falar-lhe com bons termos, não lhe gritar, dizer-lhe ‘por favor’ e ‘desculpe’, agradecer. Interromper uma conversa deles com outra pessoa, empurrá-los, falar mal deles na presença de outras pessoas, ralhar-lhes em público (tudo isto, obviamente, sem pedir desculpa) são má educação. Se não os tolera no seu filho, comece por não os tolerar em si própria.
Ria – Como toda a gente já reparou, é muito mais fácil ser simpático e bem educado quando a vida nos corre bem, portanto, embora a vida nem sempre lhe corra bem, tente sorrir e andar alegre sempre que puder. E vá ensinando que mesmo que o dia nos tenha corrido pior que mal as outras pessoas não têm culpa nenhuma disso…
Não se culpabilize – Se você é uma mãe extremosa, bem-educada e simpática até para o pitbull do vizinho, e o seu filho fala como o capitão Haddock (companheiro de aventuras de Tintin) nos seus piores dias, a culpa não é sua. Segundo parece, eles apanham estas coisas muito mais dos amigos, com quem passam o dia todo em plena selva e por quem querem ser aceites. O que não significa que deva aceitar isso na sua frente.
Recompense – Primeiro que tudo, temos de perceber que a cabeça de uma criança não é a cabeça de um adulto. Eles não percebem porque é que uma coisa não imediata (pedir ‘por favor’, por exemplo) deve ser dita. Afinal, não é uma palavra mágica… Muitos devem ter vontade de fazer como uma Ritinha, de 3 anos, que gritava “Com licença!” em frente de uma cadeira, à espera que a cadeira se mexesse do sítio… Portanto, em primeiro lugar explique a razão da ‘palavra mágica’. Em segundo lugar, recompense: um sorriso às vezes já basta.
Experimente o luxo – Sim, leu bem, é mesmo o luxo. Não tem de os levar a jantar ao Gambrinus, mas em vez do hamburger sobre o tabuleiro de plástico com três guardanapos de papel amarfanhados em cada mão, experimente servir às suas crianças um jantar a sério: com velas, toalha de festa e o serviço mais bonito que tiver.
O BÁSICO E MAIS ALGUMAS PRENDAS
Dizer ‘se faz favor’ e ‘obrigado’.
Não gritar, a não ser que se precise de ajuda.
Nos transportes públicos, oferecer o lugar a quem precisar dele.
Não chocar com as outras pessoas (muito comum na praia.).
Não interromper conversas.
Não fazer comentários desagradáveis sobre os outros.
Não falar de boca cheia e não encher a boca de comida.
Bater à porta antes de entrar.
Emprestar os brinquedos.
Numa conversa, não excluir ninguém e falar com toda a gente.
No elevador ou em qualquer sítio, tentar fazer conversa em vez de grunhir e colar os olhos no chão. Aos mais velhos ajuda se lhe der alguns temas universais para fazer conversa com quem não se tem conversa, como os clássicos “Que calor que está!”, “Como vai o seu neto/cão?”.
Não deitar lixo para o chão.
Tentar ajudar quem precise.