A presença ou ausência da figura paterna é um fator determinante no desenvolvimento infantil, influenciando diversos aspetos emocionais, cognitivos e sociais. Isto porque essa interação e envolvimento do pai (ou cuidador) desempenham um papel fundamental na formação da identidade e no bem-estar da criança.
A propósito do Dia do Pai, assinalado anualmente a 19 de março, exploramos os impactos da presença e ausência da figura paterna no desenvolvimento infantil.
Presença do pai
As crianças que têm pais ativos e envolvidos durante a infância e a adolescência têm vários benefícios. Isto segundo o The Fatherhood Project, um programa sem fins lucrativos, que estudou os impactos específicos da relação pai-filhos em diferentes fases de desenvolvimento. Eis o que os especialistas descobriram:
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Pais e bebés podem ser tão apegados quanto mães e bebés. Quando os dois pais estão envolvidos, os bebés ficam apegados a ambos desde o início da vida.
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O envolvimento do pai está relacionado com resultados positivos para a saúde infantil dos bebés, tais como maior ganho de peso em bebés prematuros e melhores taxas de amamentação.
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O envolvimento do pai por meio de uma paternidade autoritária (amorosa e com limites e expectativas claras) leva a melhores resultados emocionais, académicos, sociais e comportamentais para os filhos.
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As crianças que sentem proximidade com o pai têm: duas vezes mais probabilidade de entrar na faculdade ou de encontrar um emprego estável após a escola secundária; 75% menos probabilidade de ter um filho na adolescência; 80% menos probabilidade de passar algum tempo na prisão; e metade da probabilidade de apresentar múltiplos sintomas de depressão.
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Os pais têm um papel crítico no desenvolvimento infantil. A ausência do pai prejudica o desenvolvimento desde a primeira infância, passando pela infância, até a idade adulta. O dano psicológico da ausência paterna vivido durante a infância persiste ao longo da vida.
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A qualidade da relação pai-filho é mais importante do que a quantidade específica de horas que passam juntos. Os pais que não vivem no lar da família podem ter efeitos positivos no bem-estar social e emocional das crianças, bem como no seu desempenho académico e na adaptação comportamental.
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Altos níveis de envolvimento do pai estão correlacionados com níveis mais elevados de sociabilidade, confiança e autocontrolo nas crianças. Crianças com pais envolvidos têm menos probabilidade de portar-se mal na escola ou de se envolverem em comportamentos de risco na adolescência.
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As crianças com pais ativamente envolvidos têm: 43% mais probabilidade de boas notas na escola e 33% menos probabilidade de repetir o ano.
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O envolvimento do pai reduz a frequência de problemas comportamentais nos rapazes, ao mesmo tempo que diminui a delinquência e as desvantagens económicas nas famílias de baixos rendimentos.
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O envolvimento do pai reduz problemas psicológicos e taxas de depressão em mulheres jovens.
Ausência do pai
Assim como há muitos aspetos positivos no envolvimento paterno, os efeitos da ausência dessa figura também podem ser prejudiciais. Aliás, segundo a revista “Psychology Today”, os resultados são desastrosos em várias dimensões:
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Auto-conceito diminuído e segurança física e emocional comprometida
As crianças relatam consistentemente que se sentem abandonadas quando os seus pais não estão envolvidos nas suas vidas, debatendo-se com as próprias emoções e episódiosde auto-aversão. -
Problemas comportamentais
Crianças órfãs têm mais dificuldades de ajustamento social, sendo mais propensas a relatar problemas com amizades e a manifestar problemas de comportamento; muitas desenvolvem uma personalidade arrogante e intimidante na tentativa de disfarçar medos, ressentimentos, ansiedades e infelicidades subjacentes. -
Evasão escolar e fraco desempenho académico:
As crianças com pai ausente têm mais problemas académicos, obtendo notas baixas em testes de leitura, matemática e habilidades de raciocínio. Além disso, têm maior probabilidade de faltar, ser excluídas e abandonar a escola. Por fim, têm menor probabilidade de obter qualificações académicas e profissionais na idade adulta. -
Delinquência e criminalidade juvenil, incluindo crimes violentos
As crianças com pai ausente têm maior probabilidade de cometer crimes e ir para a prisão quando adultas. -
Promiscuidade e gravidez na adolescência
As crianças com pai ausente têm maior probabilidade de ter problemas de saúde sexual, incluindo iniciar a vida sexual antes dos 16 anos; não usar contraceção durante a primeira relação sexual; tornarem-se pais adolescentes; e contraírem doenças sexualmente transmissíveis. Muitas meninas, ao encararem a perda emocional dos pais como uma rejeição, podem tornar-se suscetíveis à exploração por parte de homens adultos. -
Abuso de drogas e álcool
As crianças com pai ausente têm maior probabilidade de fumar, beber álcool e abusar de drogas na infância e na idade adulta. -
Situação de sem-abrigo
Noventa por cento das crianças que fogem de casa têm um pai ausente. -
Exploração e abuso
As crianças com pai ausente correm maior risco de sofrer abusos físicos, emocionais e sexuais, sendo cinco vezes mais propensas a terem sofrido maus-tratos físicos emocionais, com um risco cem vezes maior de abuso fatal. Um estudo recente relatou que crianças em idade pré-escolar que não moram com os pais biológicos têm 40 vezes mais probabilidade de sofrer abuso sexual. -
Problemas de saúde física
As crianças órfãs relatam significativamente mais sintomas de saúde e doenças psicossomáticas, como dores agudas e crónicas, asma, dores de cabeça e dores de estômago. -
Distúrbios de saúde mental
As crianças com pai ausente estão consistentemente sobrerrepresentadas numa ampla gama de problemas de saúde mental, particularmente ansiedade, depressão e suicídio. -
Oportunidades de vida
Quando adultas, as crianças com pai ausente têm maior probabilidade de ficar desempregadas, de ter baixos rendimentos, de continuarem a receber assistência social e de viverem em situação de sem-abrigo. -
Relações futuras
As crianças com pai ausente tendem a iniciar relações mais cedo; são mais propensas a divorciar-se ou a dissolver as suas uniões de facto; e são mais propensas a ter filhos fora do casamento ou fora de qualquer parceria romântica. -
Mortalidade
As crianças com pai ausente têm maior probabilidade de morrer na infância e vivem, em média, menos quatro anos do que aquelas que têm um pai presente.