A ausência da figura paterna na vida de uma filha pode ter um impacto profundo no seu desenvolvimento emocional e psicológico. Quem o diz é a psicóloga Kaytee Gillis, que tem bastante experiência neste campo.
“Enquanto terapeuta que trabalha com sobreviventes de trauma relacional, tenho muitos pacientes que experimentadram abandono parental ou a partida de um cuidador”, partilha com a revista “Psychology Today”. “Isto pode acontecer por vários motivos: prisão, morte, separação física. Às vezes, o pai não parte por escolha ou culpa própria. No entanto, qualquer abandono pode ser devastador, especialmente se a criança não tiver as ferramentas necessárias para enfrentar a situação e seguir em frente”.
Segundo Gillis, estas meninas, jovens adultas e mulheres tendem a ter traços de personalidade comuns, resultantes de terem suportado o mesmo tipo de trauma emocional. Conheça oito deles:
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Diminuição da autoestima ou do sentido de identidade.
Quando não têm o apoio e o incentivo de cuidadores saudáveis, durante os anos de desenvolvimento, as adolescentes têm dificuldade em desenvolver uma autoestima saudável e um forte sentido de identidade. Nada diz mais a uma criança que ela não é digna de ser amada do que um pai que a abandona voluntariamente.
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Hipervigilância.
Quando as crianças têm de ser o seu próprio sistema de apoio emocional, como quando são abandonadas pelo pai em tenra idade, muitas vezes, desenvolvem medos e ansiedades irracionais. Elas tendem a relatar uma forte sensação de medo de algo mau acontecer, estando sempre nervosas e tensas. Ser abandonado por um cuidador desestabiliza a própria sensação de segurança da pessoa.
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Comportamento sexual mais precoce ou exagerado.
Muitas vezes, as jovens estão desesperadas por amor e conforto dos outros, mas não sabem como satisfazer esta necessidade. O comportamento sexual precoce também é observado quando as adolescentes tentam procurar a conexão emocional e física que lhes falta com a figura paterna.
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Medo de abandono.
Isto pode assumir a forma de desespero nas relações, ser demasiado apegada ou carente. As jovens também podem levar tudo para o lado pessoal quando os amigos têm outros interesses, uma paixão não retribui o afeto ou não são convidadas para reuniões sociais. Nos anos posteriores, pode manifestar-se como a permanência em relações tóxicas, ou medo de envolver-se com alguém.
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Dificuldade em serem assertivas (ou, inversamente, serem muito agressivas, como mecanismo de defesa).
Quando interiorizamos a mensagem de que não somos dignos de amor e apoio, como fazem muitos indivíduos abandonados por um cuidador, temos dificuldade em sermos assertivos nos momentos em que é necessário. Algumas pessoas compensam esse sentimento negativo ao serem agressivas, para evitar que terceiros as magoem novamente. Outros lutam para se defender, muitas vezes devido ao medo de perturbar alguém.
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Comportamentos desordenados ou aditivos.
Quando as crianças não aprendem comportamentos auto-calmantes para lidar com os sentimentos negativos e desconfortáveis que advêm do abandono (ou de outras experiências angustiantes), podem recorrer à comida ou a outras substâncias como fonte de conforto quando tais sentimentos surgem. Filhas de pais ausentes têm maior probabilidade de ter distúrbios alimentares, serem obesas ou consumirem substâncias viciantes.
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Medo de “perder tudo”.
Este é um sentimento comum entre as pessoas abandonadas num momento crucial, como a adolescência, sendo que muitas têm dificuldade em expressá-lo por palavras. Mais do que o estado de hipervigilância, é uma sensação constante de estar prestes a “perder tudo”; de estar apenas a um mau dia de perder a própria casa; os bens; ou mesmo a família e relações interpessoais.
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Tentativas contínuas de resolver ou superar o trauma.
Estas mulheres podem ter filhos muito cedo para, de alguma forma, “provar” a si mesmas que conseguem ter uma família normal e carinhosa — a relação especial que perderam com a figura paterna. Por outro lado, muitas relatam querer evitar a maternidade para não repetirem os comportamentos que vivenciaram.