Atualmente, é raro encontrar quem não esteja inserido em pelo menos um grupo de troca de mensagens de texto enter amigos. Um espaço supostamente de interação, convívio, mas que, diz a psicóloga Mariana Bockarova, também pode dar origem a comportamentos tóxicos.
“Ainda que as amizades e os vínculos de grupo possam oferecer um sentimento de pertença por meio de valores e interesses compartilhados, também podem evoluir para algo mais profundo, fomentando, em vez disso, sentimentos de solidão e negligência”, diz a especialista.
A análise de Bockarova tem como base um meme que se tornou viral nas redes sociais. Nele, surge uma imagem do Rato Mickey acompanhada com a frase “Quando envio uma mensagem para o grupo e de repente todos perdem a capacidade de responder”.
Segundo a especialista, este meme “mostra agressão interna – apesar de uma aparência externa amigável – que surge de um sentimento de dor de não haver ninguém numa conversa de grupo a responder. Estão refletidos sentimentos internos de conflito que resultam da negligência. Usa-se uma máscara de amizade, necessária para o comportamento em grupo, enquanto se sente aborrecimento e a frustração causados pela rejeição que foi percebida”.
Estamos então perante um paradoxo: se os grupos de amizade deviam fomentar a união e o contacto, por que motivo tantas pessoas se sentem negligenciadas?
“Nas amizades de apenas duas pessoas, a proximidade é nítida e os conflitos são mais fáceis de administrar. Mas à medida que uma terceira pessoa é adicionada e um grupo é formado, a complexidade aumenta, o que faz multiplicar a dinâmica de proximidade nas relações diretas e indiretas e torna mais difícil avaliar se somos valorizados e se valorizamos as amizades em troca. Cada pessoa adicional que se junta ao grupo complica ainda mais isso e pode causar a criação de subgrupos, o que muda ainda mais o modo como os indivíduos interagem pela forma como a dinâmica do grupo funciona”.
“O meme resume as complexidades da dinâmica de grupo e as frustrações e turbulências que podem acompanhá-la: Apesar de sentir descontentamento com os amigos, manter um sorriso e um comportamento externo amigável, assim como o Mickey, permite que alguém se adapte às expectativas tácitas do grupo, e renuncie, assim, ao isolamento social. Embora isto possa diferir muito de um diálogo interno de agressão resultante de sentimentos internos de negligência, não expressar descontentamento significa ser potencialmente inautêntico consigo próprio, o que pode diminuir a auto-estima. Mas expressar o descontentamento significa ter conversas difíceis dentro do grupo e arriscar o ostracismo”, resume a especialista.
A recomendação é criar um equilíbrio entre o que acontece no grupo de mensagens de texto e a vivência com os amigos in loco. Caso sinta que a dinâmica já é tóxica, pondere a hipótese de sair do grupo.