Afinal, somos todos ‘haters’? A pergunta desafiante é feita pela psicóloga americana Laura Matocci, no artigo com o mesmo título (‘Are we all haters?’) publicado na ‘Psuchology Today’. E dá-nos que pensar. Criticamos a Maria porque é racista, o João porque é um cuscuvilheiro, o Manel porque está sempre a dizer mal de tudo, e o mundo em geral por ser cada vez mais ‘anti-diversidade’, mas quantas vezes não funcionamos no modo ‘contra’ sem sequer nos apercebermos?
Laura começa com uma pergunta: rejeitamos mais do que aceitamos?
Pense em si própria: lembra-se mais depressa de 3 coisas que adora ou 3 coisas que odeia? Ao fim do dia, pensa mais naquilo que lhe correu mal ou no que correu bem? Pensa com mais frequência nas pessoas de quem gosta ou naquelas com quem embirrou solenemente?
É verdade que isto corresponde a um mecanismo de sobrevivência. O cérebro tende a deter-se mais naquilo que lhe é desagradável, visto como uma ameaça de que é preciso defender-se. Ou seja, na maior parte das vezes, rejeitamos por medo, insegurança, revolta e/ou ignorância. Mas quantas vezes, sem nos apercebermos, nos definimos ‘contra’ alguém ou alguma coisa, em vez de nos definirmos ‘a favor’?
A psicologia positiva, tão na moda nos últimos anos, já nos ensinou que definirmo-nos através da crítica e da rejeição é um caminho seguro para a infelicidade. É como se, criticando e rebaixando os outros, se criasse um movimento de boomerangue que reflectisse a infelicidade de volta para nós (o velho pditado português ‘cá se fazem, cá se pagam’). Mas a História também mostrou que a espécie humana, fisicamente tão frágil, vingou por ser a espécie que mais poderosamente soube usar a solidariedade e a empatia para o bem comum.
Claro que depois aparece a ‘tribo inimiga’, quem quer que ela seja. A psicologia evolutiva poderia argumentar que, a partir do momento que vissemos o outro (quem quer que seja, para nós, o outro) como uma ameaça, então a rejeição instala-se.
Problema: a História da Humanidade já provou vezes sem conta que não evoluímos pela rejeição, mas pela união. Mas o que acontece quando o mundo se torna tão complexo que se recorre cada vez mais ao estereótipo para nos dar segurança e balizas? Como afirma Laura Matocci, “Se banalizarmos o pensamento negativo, estaremos a promover a rejeição, a humilhação e o bullying. A nossa cultura afirma-se contra a violência emocional. Mas o que nós vemos cada vez mais é que a retórica política (e pessoal) contraria esse movimento – ou talvez ponha em causa a nossa capacidade evolutiva e neuro-biológica para continuar a defender princípios positivos e inclusivos.”
Portanto, temos aqui muito que pensar. Estamos rodeados de ‘haters’, sim, a todos os níveis e de tudo, desde pessoas que odeiam estrangeiros, imigrantes, homossexuais, até pessoas que parecem ser simplesmente do contra e odiar tudo e todos. Mas o que fazemos e pensamos nós próprios, que nos orgulhamos – enfim, ou devíamos orgulhar-nos – de defender a diversidade, a abertura e a paz? Seremos assim tão abertos e pacíficos? Definimo-nos como pessoas em relação ao que gostamos ou ao que não gostamos?
Pensem nisto.