Como é que começou a sua relação com os cães?

Sempre fui maluco por animais e sempre tive uma relação muito próxima com os cães. Cresci numa família sem posses. Era mesmo aquilo a que se pode chamar um puto pobre. Tive o primeiro cão com 7 anos. Às vezes como não havia comida em casa, iamos procurar comida aos caixotes do lixo. Deixei muitas vezes de comer para lhe dar a ele. Isto parece uma história do 3º mundo mas passou-se em Portugal há 40 anos.

O que é que tem o seu treino de especial?

Sempre centrei o treino primeiro no dono e só depois no cão, porque um cão herda muitos dos nossos comportamentos e inseguranças. Por isso trabalho sempre em conjunto com ele, no seu ambiente. Mas quando me chamam para resolver um problema, primeiro olho para o cão. Porque os cães não falam mas comunicam connosco. Olho para um cão que tem um problema e ele diz-me: preciso que digas aos meus donos o que hão-de fazer. Sou uma espécie de tradutor entre cães e donos.

Que qualidades deve ter quem lida com animais?

É importante a a experiência, a intuição e a sensibilidade. Quando um cão tem problemas, ele pede ajuda com o olhar. Isto não é fácil de explicar por palavras, mas é fácil de perceber. Os cães precisam de sentir proteção da nossa parte, mas muitas vezes não lhes passamos essa energia.

Hoje em dia, esquecemos essa intuição que nos leva a perceber os animais. Cortámos esse elo de comunicação. Quando há um problema, corremos para a Internet em busca de soluções em vez de olharmos para o animal que temos à nossa frente.

Quais são os principais problemas que lhe aparecem?

O ser humano sempre foi acompanhado pelos cães, mas agora somos muito complicadinhos. Imagine um cão com ansiedade de separação. Nós viramo-nos para ele e dizemos: – Ó Bobi, tu agora ficas aqui sossegadinho enquanto a mãe vai ali trabalhar e já vem, mas tu vê lá não faças asneiras blá blá blá (risos), ora isto confunde um animal. Se lhe der uma orientação curta, tipo ‘Quieto, fica’, é muito mais provável que funcione. Ou seja, muitas vezes nós é que criamos ansiedade nos nossos animais.

Então como é que resolve estes problemas?

O que eu faço é obrigar os donos a serem donos. A terem postura, a terem autoridade. Porque é que temos tanta dificuldade em ‘liderar a matilha’? Porque perdemos o norte. Lá está. Perdemos a intuição. Temos informação a mais e não fazemos aquilo que seria natural.

E porque é que já não o fazemos?

A liderança é uma coisa positiva mas temos medo de liderar. As pessoas confundem tudo e acham que ter autoridade é bater a um animal. Nunca bati a um animal, sou absolutamente contra. Consegue-se tudo só com um tom de voz assertivo. Você se estiver numa empresa, precisa de um bom líder ou a empresa vai à falência. Tal como um professor ou um pai. Um cão também precisa de ser orientado. Ora nenhum professor bate num aluno, mas também não vai lá só à base de biscoitos (risos).

Temos de reaprender a ser donos, é isso?

Temos. Temos de (re)aprender a ser donos, tal como estamos a (re)aprender a ser pais, porque também aí perdemos a segurança que tinhamos. Conheci uma mãe com uma filha de 3 anos a quem deixou de dar comida para alimentar o cão, um buldogue francês que ela gostava de exibir… Por isso veja até que ponto vai a paranóia das pessoas. Um cão é um cão. Apesar de estar domesticado, tem instinto selvagem, e nós temos de o controlar. Um cão não é uma criança, e até uma criança se vira contra nós, se tiver razões para isso. Por isso, não podemos ser totalmente permissivos.

Quais são os piores donos?

Os que desistem. Há pessoas que vão buscar cães a associações, pedem-me ajuda, e depois devolvem o cão porque não querem ter trabalho.

O que é que se tem de ter em conta antes de adotar um cão?

Perceber se tem condições para isso. Há muitos outros animais que pode ter: um coelho, um hamster (risos). Um cão vai dar trabalho. Mas devia haver outras formas de fazer adoções, como por exemplo: eu fazia a integração do cão na casa, faziamos passeios na cidade e davamos estímulos ao animal, porque um animal não pode ser reativo, virar-se ao dono ou destruir a casa. E a pessoa podia experimentar 3 ou 4 cães, porque às vezes o cão que achávamos que queríamos não é o melhor para nós, ou não é o cão do momento, porque, por exemplo, se tenho uma vida ocupada não vou ter um cão bebé que não possa acompanhar e educar, mas se calhar até posso ter um cmão mais velho e menos enérgico.

Idealizamos os cães, não é?

Sim. Mesmo quando as pessoas adotam cães mais velhos, que já sofreram, têm tanta pena que o deixam fazer absolutamente tudo, inclusive destruir a casa. Se calhar, se houvesse novas formas de lidar com o animal desde o início, a vida era mais fácil para todos. Um cão é um mundo. São todos diferentes.

E para terminar, uma pergunta metafísica: um cão pressente mesmo terramotos?

Eu tenho 3, e no último terramoto estavam todos a dormir (risos). Por isso, depende.

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