Estratégias infalíveis para dar a volta ao chefe


Toda a gente sabe a lista das qualidades do patrão ideal: ter autoconfiança, saber comunicar a sua visão inspiradora, promover a confiança mútua, importar-se com os seus liderados, estender-lhe lenços de papel quando o seu concubino a trocou pela vizinha do 5.º esquerdo, e trazer pastéis de nata para toda a gente à sexta feira. Se não é o vivo retrato do seu, anime-se porque não está sozinha. Segundo os estudos mais recentes do outro lado do Atlântico, 85% dos americanos não só não vai muito com a cara do chefe, como expressou um ódio profundo e sincero ao seu superior mais directo. Até já há um site dedicado exclusivamente ao assunto, chamado www.mybosssucks.com/ (qualquer coisa como o meu patrão é uma porcaria)



Se alguém perguntar a mesma coisa aos portugueses, teme-se que a resposta seja parecida. Para já, porque os tempos estão mais difíceis também para os chefes, e depois porque odiar o patrão é quase um dado adquirido, é o que decorre naturalmente de odiar a tia Augusta aos 3 anos, a professora de matemática aos 13 e o pai aos 16. Em adultos, só nos resta odiar o chefe.



Depois, claro, há os chefes verdadeiramente odiáveis. Os que nos ensombram os dias e amargam as noites. Graças a eles, a nossa imaginação voa: planeamos o crime perfeito, ouvimos claramente ouvido a porta a bater, sonhamos com o dia em que lhe entramos no gabinete e lhe dizemos tudo tintim por tintim o que tínhamos entalado no gasganete estes anos todos. Tristemente, nunca o fazemos. Ou quase nunca. Mesmo quando nos despedimos de facto, saímos como nos aconselham todos os manuais: com um aperto de mão civilizado e um cerrar de dentes heróico. Afinal, nunca se sabe as voltas que o mundo dá e se o voltamos a encontrar noutra altura da nossa vida depois de lhe termos chamado tudo de traste para cima (ou para baixo, conforme o ponto de vista).

Mas antes de fazer as malas e sair porta fora, há muito que se pode fazer para conseguir transformar o chefe, se não no seu amigo e confidente, pelo menos em alguém com quem se possa trabalhar em paz.







Quando o superior é inferior

Se leu a última linha e já está a dizer: "Pois pois. É porque nunca aturaram o que eu aturo," relaxe. Se calhar é verdade. Mas vejamos o que dizem os especialistas. Comecemos pelo princípio: afinal, por que é que tanta gente detesta o chefe? "As pessoas detestam os chefes porque os chefes não as sabem conquistar," resume Soledade Carvalho Duarte headhunter da Invesco TranSearch. "Por conquistar quero dizer: primeiro conhecer as pessoas da sua equipa, depois perceber qual o potencial que têm e desenvolvê-las, ensiná-las a trabalhar em equipa dando e recebendo muito feedback, fixando objectivos e apoiando a sua execução e finalmente projectar as pessoas dentro da organização para que possam continuar o seu desenvolvimento em outras áreas da empresa."



Continua a não ser o vivo retrato do seu? Talvez o reconheça no retrato-robô do mau chefe: "O que faz um mau chefe é, basicamente, a insegurança, o sentimento de ameaça, o sentimento de poder, e, sobretudo, o não terem tido eles próprios chefes que os ensinassem e inspirassem." Embora haja milhares de tipos de maus chefes, há defeitos comuns a todos eles: "Não comunicam, não são consistentes, não são coerentes, não sabem ouvir, não fixam objectivos."



Digamos que ainda não tem, nem querem vir a ter, um exemplo destes a transtornar-lhe a existência. É coisa que se possa detectar numa entrevista de emprego? Um mau chefe tem ‘Atenção: Mau Chefe!’ escrito na testa? Talvez não, mas Soledade Duarte afirma que não é difícil descobrir ao primeiro contacto se aquela pessoa nos vai fazer a vida negra ou não. "Aqui ficam algumas dicas: usa muito o discurso na primeira pessoa. Não consegue comunicar com clareza quais os objectivos da área e em que é que você vai contribuir para eles. Não lhe diz quais são os critérios pelos quais vai ser avaliada. Fala mais do que ouve."



Anote, que ainda lhe pode vir a ser útil.





O que fazer antes de explodir

Agora imagine que, por azar, não detectou o espécime a tempo e se vê de repente a braços com um manipulador inseguro que dá o dito por não dito, lhe atira trabalho extra para os braços à espera que não o consiga fazer, e lhe deita olhares de ódio da secretária de cada vez que você cumpre um prazo. Calma, não vale a pena encher-se de calmantes. Pelo menos, antes de tentar algumas medidas que são muitas vezes eficazes, e que só não experimentamos porque, compreensivelmente, entramos logo em pânico.



"A melhor maneira de lidar com um mau chefe é, principalmente, ajudando-o," afirma Soledade Duarte. "Fazendo perguntas, desafiando, pedindo que lhes sejam dados objectivos de trabalho, validando com o chefe se os objectivos estão ou não a ser cumpridos, de que forma se podem exceder as expectativas, etc." Ou seja, tentar trabalhar com o chefe e não contra ele, embora muitas vezes não apeteça…



Uma voltinha na Internet mostra que vários investigadores concordam com este, em bom português, ‘approach’. Em www.careerconsultants.co.uk/, aconselha-se o empregado angustiado a perguntar a si próprio: o que é que o patrão quer de mim? Soa um bocado Estado Novo, mas não se trata de lamber botas, é mostrar-se disponível para ajudar. Se continuar presa à angústia, só vai andar às voltas sem encontrar uma solução. Ser ameaçadora, mesmo inconscientemente, é um erro. O mais comum é que os chefes ajam mal porque se sentem ameaçados. Portanto, desactive a competição e diga qualquer coisa como: "fizemos aqui um bom trabalho."



Se não ficou com muita vontade de seguir estes preciosos conselhos, investigámos outros. Em, por exemplo, www.businessknowhow.com/, começam pelo básico de quem quer dar-se bem com as ‘alturas’: conheça o seu patrão e saiba o que o põe furioso (em princípio para o evitar, presume-se). Dão outra dica que os portugueses raramente sabem usar: veja o que funciona com os que se dão bem com ‘as alturas’. Isto não quer dizer ficar exactamente igual, mas ser objectiva. Claro que o problema pode ser quando ninguém se dá bem com ‘as alturas’, mas aí entram outras estratégias. Depois vem o conselho clássico: não dizer mal do chefe em público. Se possível, nunca, mas como geralmente não é humanamente possível, pelo menos não o faça num sítio onde podem estar mais três ou quatro pessoas que conhecem o chefe.



E como empregado prevenido vale por dois, guarde todas as provas de todos os ‘crimes’, mesmo os mais insignificantes. Nunca se sabe quando vão ser precisas. E finalmente, previna-se: mesmo que não esteja a pensar sair amanhã, não faz mal procurar quem o possa ajudar. Depois disto tudo, o seu patrão pode continuar um idiota: mas se calhar, é mais fácil trabalhar com ele.





Não se torne um mau empregado

Ou seja: o importante mesmo é não cair na armadilha de reduzir a sua produtividade. Não deixe que um idiota comprometa o seu trabalho, e não se deixe cegar pelo desespero: nunca reaja acaloradamente. Os ingleses têm um sábio ditado que diz: "Concorde com os seus inimigos: calam-se mais depressa." Sempre que não estiver a sua honra em jogo, concorde em vez de alimentar a discussão. Eles calam-se mesmo mais depressa e você poupa nos neurónios, que são preciosos.



Se gosta do sítio onde está e só o chefe é que estraga a paisagem, tente arranje outra pessoa que o apoie, por exemplo. Mas nunca passe por cima do chefe directo para ir ao patrão do patrão, salvo em situação extrema. Regra geral, o patrão do patrão não quer ser incomodado, torna a passar a bola ao patrão abaixo, e você é que fica a arder.



E por último, salte do barco. É uma medida de última instância, mas se esse trabalho está mesmo a dar cabo da sua sanidade mental, mais vale procurar outro emprego.



O que quer que faça, tem de ter a certeza de que o ódio ao patrão não lhe prejudica o trabalho: negue-o, abafe-o, desabafe-o, neutralize-o, faça o que quiser menos deixar que a prejudique. E console-se com uma coisa: os maus chefes podem ser impossíveis de aturar mas dão-nos preciosas lições de vida: acima de tudo, ficamos com uma capacidade de sobrevivência à prova de bala. Um mau chefe é como uma doença: pode tornar-nos piores ou melhores, e o importante é que nos torne melhores. Se não conseguir destruir-nos, ele dá-nos aquilo que nos quis tirar: força, segurança e resistência.









Palavras-chave

Relacionados

Mais no portal

Mais Notícias

Bling Energy: A startup que pretende tornar a energia solar acessível a todos

Bling Energy: A startup que pretende tornar a energia solar acessível a todos

Vídeo:

Vídeo: "Como encontrar 'o' livro"

Desfile de famosas na gala LACMA em Los Angeles

Desfile de famosas na gala LACMA em Los Angeles

VOLT Live: a proposta de um novo modelo para a rede de carregamento, o Alpine A290 e o que é o V2L

VOLT Live: a proposta de um novo modelo para a rede de carregamento, o Alpine A290 e o que é o V2L

Mantas: tons e texturas que aconchegam

Mantas: tons e texturas que aconchegam

Cidade de Um só Planeta

Cidade de Um só Planeta

Matilde Mourinho e Danny Graham continuam em lua de mel

Matilde Mourinho e Danny Graham continuam em lua de mel

Última Hora: Diogo Alexandre recebe avião surpresa e Voz toma atitude no “Secret Story”

Última Hora: Diogo Alexandre recebe avião surpresa e Voz toma atitude no “Secret Story”

Porto recebe fórum de inovação na sustentabilidade

Porto recebe fórum de inovação na sustentabilidade

Os livros da VISÃO Júnior: Ideias para ler nas tarde de outono

Os livros da VISÃO Júnior: Ideias para ler nas tarde de outono

Um novo estúdio em Lisboa para jantares, showcookings, apresentações de marcas, todo decorado em português

Um novo estúdio em Lisboa para jantares, showcookings, apresentações de marcas, todo decorado em português

12 ideias para celebrar o São Martinho, de norte a sul

12 ideias para celebrar o São Martinho, de norte a sul

Nos Prémios Princesa das Astúrias, Leonor surpreendeu num fato estilo

Nos Prémios Princesa das Astúrias, Leonor surpreendeu num fato estilo "smoking"

Bruna Lombardi visita Portugal com a família: “É um país lindo, poético!”

Bruna Lombardi visita Portugal com a família: “É um país lindo, poético!”

Pepetela - Angola, tradição e modernidade

Pepetela - Angola, tradição e modernidade

Helder Macedo homenageado pelo King's College em dezembro

Helder Macedo homenageado pelo King's College em dezembro

Halloween, famosos protagonizam alguns dos melhores disfarces do ano

Halloween, famosos protagonizam alguns dos melhores disfarces do ano

VISÃO Se7e: Os melhores sítios para jogar snooker

VISÃO Se7e: Os melhores sítios para jogar snooker

Diogo Alexandre em lágrimas ao receber presente da mãe no “Secret Story”

Diogo Alexandre em lágrimas ao receber presente da mãe no “Secret Story”

Fibromialgia: Um mistério psicossomático?

Fibromialgia: Um mistério psicossomático?

Eleições nos EUA fizeram aumentar stress e ritmo cardíaco nas pessoas, revela a Oura

Eleições nos EUA fizeram aumentar stress e ritmo cardíaco nas pessoas, revela a Oura

Peugeot domina segmento automóvel (total e elétrico) em Portugal

Peugeot domina segmento automóvel (total e elétrico) em Portugal

Um viva aos curiosos! David Fonseca na capa da PRIMA

Um viva aos curiosos! David Fonseca na capa da PRIMA

Cinco minutos de exercício físico por dia são suficientes para baixar os níveis de pressão arterial

Cinco minutos de exercício físico por dia são suficientes para baixar os níveis de pressão arterial

Nuno Gama apresenta coleção no Museu do Design

Nuno Gama apresenta coleção no Museu do Design

O futuro começou esta noite. Como foi preparado o 25 de Abril

O futuro começou esta noite. Como foi preparado o 25 de Abril

Força Espacial dos EUA alerta para aumento

Força Espacial dos EUA alerta para aumento "desconcertante" das capacidades da China

Quem tinha mais poderes antes do 25 de Abril: o Presidente da República ou o Presidente do Conselho?

Quem tinha mais poderes antes do 25 de Abril: o Presidente da República ou o Presidente do Conselho?

Em “A Promessa”: António reencontra Miguel e pede-lhe perdão

Em “A Promessa”: António reencontra Miguel e pede-lhe perdão

Max (antiga HBO) prepara-se para combater contas partilhadas

Max (antiga HBO) prepara-se para combater contas partilhadas

"Estamos muito mais próximos da natureza hoje do que há uns anos." Como os maiores produtores de vinho de Portugal e Espanha estão a revolucionar o setor

25 peças para receber a primavera em casa

25 peças para receber a primavera em casa

Há uma nova loja de decoração em Lisboa, a Kenay Home

Há uma nova loja de decoração em Lisboa, a Kenay Home

Escapadinha em Toledo, a cidade das três culturas

Escapadinha em Toledo, a cidade das três culturas

Alojamento: 5 sugestões de hotéis para ficar à lareira

Alojamento: 5 sugestões de hotéis para ficar à lareira

Como atuar perante uma hipoglicemia

Como atuar perante uma hipoglicemia

Donald Trump é o novo presidente dos Estados Unidos da América

Donald Trump é o novo presidente dos Estados Unidos da América

As melhores imagens do Fórum Futuro do Trabalho 2024

As melhores imagens do Fórum Futuro do Trabalho 2024

O impacto imparável da IA no E-commerce

O impacto imparável da IA no E-commerce

Primeiro táxi aéreo da Toyota já voa no Japão

Primeiro táxi aéreo da Toyota já voa no Japão

Está aí 'Miúdos a Votos' 2024-25

Está aí 'Miúdos a Votos' 2024-25

Google lança (inadvertidamente) o superassistente de IA Jarvis

Google lança (inadvertidamente) o superassistente de IA Jarvis

Salgueiro Maia, o herói a contragosto

Salgueiro Maia, o herói a contragosto

A importância da Poupança e do Investimento

A importância da Poupança e do Investimento

Festival Impacto:

Festival Impacto: "Um lugar de reflexão e debate, onde há tempo para compreender e apreender"

Parceria TIN/Público

A Trust in News e o Público estabeleceram uma parceria para partilha de conteúdos informativos nos respetivos sites