Se nesta casa existisse uma daquelas placas que costumam estar junto ao portão, com ditos como ‘O cantinho do amor’, ler-se-ia, certamente, “projeto inacabado” ou work in progress. E bastaria entrar para se perceber o porquê de qualquer uma daquelas frases, ali à entrada em jeito de introdução. Fagundes vê a sua casa como uma espécie de superfície nua – que veste, despe e torna a vestir, que ornamenta com as coisas mais improváveis. Todas as áreas são palcos de experimentação, onde cada interveniente tem uma história para contar, ou porque foi resgatado da arrecadação de um amigo, ou porque foi concebido por Fagundes, ou porque foi regateado numa sala de leilão. Comprar determinado objeto, pensando, à partida, qual será o seu lugar, questionando qual a sua verdadeira utilidade, não é um exercício de rotina. Os critérios de seleção são bem mais simples: “Ou gosto, ou não gosto”, explica. Encara e manipula da mesma forma as peças utilitárias, as decorativas e a própria estrutura da casa, que, de origem, trazia as paredes todas vestidinhas de estuque. Picou algumas das superfícies com o mesmo desprendimento com que colou tecido nas portas, pintou cadeiras, forrou móveis a folha dourada. Com a mesma irreverência com que transformou um roupeiro em guarda-livros, sem portas nem costas. “É que se não gostar do resultado, logo se inventa outra coisa qualquer.” Por isso, o processo de criação é, nesta casa, um fim em si mesmo.
Impensável comprar móveis?
Veja como é possível reinventar a decoração da casa com móveis reciclados e pintura. Um exemplo que vem do Funchal.