Há 400 anos os habitantes das freguesias de Ginetes e Mosteiros, na ponta noroeste da ilha de S. Miguel, já sabiam de umas águas milagrosas que aliviavam o reumático e outros males do corpo. Bastava descerem até à Ferraria, um lugar de beleza selvagem junto ao mar, entre rochas e falésias, onde durante a maré cheia duas nascentes de água quente termal se misturam com água do mar numa piscina natural.
Chegou a ser criado, em meados do século XX, um centro termal, onde iam micaelenses dos quatro cantos da ilha. O certo, conta António Ferreira Leite, é que os doentes desciam a encosta íngreme aos ombros de outros homens ou de burro e subiam-na a pé, após os 21 banhos receitados pelo hidrologista.
O renascer das águas
O abandono progressivo fechou a casa termal durante décadas. A segunda vida das Termas da Ferraria chegou em Agosto de 2010, depois de um investimento do Governo regional dos Açores e da jovem empresária Vânia Paim se interessar pelo sítio. “Fiquei espantada por saber que nenhum micaelense tinha ainda pegado no projeto e decidi arregaçar as mangas.” Juntou mais três sócios e partiram para a renovação total do edifício.
Hoje, as Termas aliam o conceito termal tradicional – usar água para fins terapêuticos, que, neste caso, incluem as doenças reumáticas, nevrites e problemas de pele – ao de um spa moderno, com o valioso extra da fisioterapia. Para isso contam com uma piscina interior e outra exterior, ambas alimentadas por água termal e água do mar.
Prioridade máxima: relaxar
Para além dos tradicionais tratamentos de spa, que incluem drenagem linfática manual, massagens de relaxamento com óleos essenciais, duche Vichy, e outros, ali encontra também técnicas desenvolvidas nos Açores, como o ‘Floating in (E)motion’. Na piscina termal interior, a uns tépidos 36ºC, deixe-se flutuar de olhos fechados, guiada pelo terapeuta, que vai induzindo o seu corpo a movimentos de flutuação lentos, suaves e ultrarrelaxantes, trabalhando também alguns pontos de acupressão nos seus braços, mãos e pés. É como misturar num só uma massagem, um banho calmante e um ritual de meditação, do qual se sai quase a levitar.
Finalize com uma massagem geral de relaxamento ou uma massagem ‘Quietude’, a duas ou quatro mãos. No final, servem-lhe um chá verde com frutos secos. Existem programas de meio-dia ou dia inteiro, para gozar ao máximo tudo o que as termas têm para oferecer.
Não deixe a Ferraria sem um banho na piscina natural, a uns escassos 100 metros das termas, e sem uma refeição saudável no seu simpático restaurante.
Natureza Mágica
Não foi à toa que os Açores ficaram em segundo lugar na lista das melhores ilhas para ir de férias, publicada em 2007 pela National Geographic Traveler. Basta acordar e olhar pela janela para sermos brindados com azul do Atlântico em contraste com o verde vibrante das paisagens de S. Miguel. Toda a ilha é um convite a passeios intermináveis. Um conselho: vá com tempo, porque vai querer parar em cada um dos incontáveis miradouros com paisagens de cortar a respiração, ou nas piscinas naturais, ribeiros e regatos que correm entre veredas. Meditar, aqui, é fácil; a Natureza ajuda.
A apenas alguns minutos de automóvel fica um dos ex libris micaelenses, a magnífica lagoa das Sete Cidades, com as suas duas lagoas: a verde, que reflete a vegetação luxuriante que a rodeia, e a azul, um espelho do céu.
Se há sítio que prova a intensa atividade vulcânica de S. Miguel, é a zona das Furnas, na ponta este da ilha. Aqui encontra o vulcão das Furnas, um dos três em atividade em S. Miguel, as suas caldeiras, de onde brotam nascentes de água a ferver e lamas medicinais, e as fumarolas. Mundialmente famosas por causa do seu cozido, que desce à terra onde as temperaturas tratam de o confecionar e de lhe dar o seu sabor típico, as Furnas têm ainda como ponto de visita obrigatória a bela lagoa com o mesmo nome.
No coração de S. Miguel fica a lagoa do Fogo, a mais alta das três, situada na caldeira de um vulcão inativo e classificada como reserva natural. Aproveite para um passeio no trilho pedestre que a circunda, passando pela Caldeira Velha, onde encontra cascatas e açudes alimentados por uma ribeira de água quente.
Em Ponta Delgada, recomendam-se as visitas ao Palácio e jardim de Sant’Ana, Igreja Matriz, Forte de S. Brás e Museu Carlos Machado, onde encontra coleções de Etnografia, História Natural e Arte.
S. Miguel é toda uma receita contra o stresse, inspiradora e ideal para recarregar baterias. O único problema é que não apetece sair de lá…