A conquista de metros quadrados é hoje uma das principais preocupações, sobretudo quando a família cresce… Os preços exacerbados e as áreas diminutas da maior parte dos empreendimentos das grandes cidades reclamam uma redefinição dos espaços que habitamos. Eficácia, engenho e estética funcional para uma casa tridimensional e dinâmica, são as palavras de ordem neste projeto habitacional, onde se recuperam vários rituais: o do descanso, o da limpeza ou o de refeições, convertidos, segundo o arquiteto Héctor Ruiz, e seu proprietário, em “atos repetidos e mecânicos”. No pequeno apartamento, Héctor e o sócio recuperaram espaços perdidos que albergam usos ritualizados, como é o caso do quarto principal. “De igual maneira tratei a cozinha, as casas de banho, a sala e o corredor…”, diz Ruiz. Tendo por base estas premissas, nasceu uma casa em que convivem, rentabilizados até ao último centímetro, toda a área interior (60m²) e o terraço (50m²).
“A vontade da minha mulher e a minha sempre foi viver numa casa absolutamente fluida e com muita luz natural; nenhum de nós gosta de espaços onde nos sentimos encapsulados”, explica o arquiteto. “As casas atuais, aplicadas aos programas de espaço mínimo, converteram-nos em sujeitos culturalmente idênticos; este tipo de programas, vulgares nas grandes cidades, diluiu os rituais de descanso, da limpeza e da alimentação, convertendo-os em atos repetidos, mecânicos e eficazes”.
A casa/sótão do arquiteto e da sua família, em pleno coração de Madrid, exigia, por isso, uma gestão rigorosa e inteligente do pouco espaço disponível. “Tentámos usar cada centímetro de área disponível, combinando a sua eficácia, sensibilidade e filosofia através da estética e da funcionalidade. Se tivéssemos insistido em encaixar todas as suas funções numa área insuficiente, o espaço teria colapsado, ocupado por todo o tipo de objetos inúteis.” Naquela área convivem completamente separadas as zonas de circulação com as áreas privadas. Neste sentido, usaram-se truques cénicos, básicos, como as perspetivas forçadas de modo a obter a sensação de mais amplitude. O eixo dinâmico que emerge desde a entrada da casa faz a separação entre os ditos espaços ‘estáticos’ (cozinha e sala de um lado, quartos e casas de banhos do outro); daí a importância daquela sinuosa parede. O efeito é tão cénico, que o corredor parece desafiar a gravidade e a lógica, alterando a perceção do espaço de acordo com o seu utilizador e o seu movimento ao longo do mesmo. É, por isso, a ‘estrela’ da casa, imprimindo tridimensionalidade a uma zona quase sempre mal aproveitada, convertendo-a no eixo condutor e na zona de impacto. Mais: o seu desenho contrai-se à medida que nos aproximamos da extremidade, forçando a perspetiva. Por questões técnicas, o chão é uma rampa.
Também o branco e a iluminação artificial são ferramentas de design. O branco e as suas múltiplas nuances de sombras criadas pela luz dão a sensação de profundidade e amplitude. “Usámos o preto em certos acessórios e superfícies para imprimir escala e profundidade, dando origem a um contraste melódico e complementar.” Tanto o chão como as paredes e os tetos falsos foram desenhados para criar efeitos – no caso do chão, graças aos desníveis, existem alçapões que servem de arrumação. Tudo é funcional e agradável. A sala, por exemplo, é um espaço aberto à mudança das estações, podendo funcionar como zona envidraçada, no inverno, ou aberta ao exterior, no verão. O espaço rege-se, aliás, por esta premissa: um oásis no meio da cidade ao qual acedemos através de enormes superfícies de vidro deslizantes e, dali, passamos para o quarto principal ou para a cozinha…
A própria decoração é simples e eficaz. Mas continuam a ser, depois da arquitetura de interiores, algumas das soluções e dos materiais usados os pontos-chave desta penthouse familiar. Caso da superfície da bancada da cozinha, em carvalho maciço, que pode ser levantada escondendo um interior em aço inox “para poder trabalhar, e depois de limpo fechar e deixar tudo oculto”, caso do chão de madeira de ipê, com acabamento em branco, do revestimento das casas de banho, em pastilha de vidro, ou dos móveis Stolmen, da Ikea, inteiramente redesenhados pelo arquiteto, albergando loiças e roupa, entre outros, em benefício do layout da casa.