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Há quem garanta que, com crise ou sem ela, com emprego ou sem ele – sobretudo sem ele -, rir continua a ser o melhor remédio. Palavra de Ana Banana! Não se deixe enganar pelo nome apalhaçado, Joanne Gribler, ou Ana Banana como escolheu chamar-se profissionalmente, é a fundadora do Yoga do Riso em Portugal e há mais de 10 anos que ensina as pessoas a rir de forma terapêutica. A primeira cobaia foi ela própria quando passou por uma depressão há dez anos.

“Tive problemas articulares em consequência de muitos anos de trabalho no circo, fui-me abaixo. A tristeza é uma emoção normal, mas quando ficamos presos a ela  pode transformar-se em depressão e isso já é doença. Foi o riso que me ajudou a dar a volta, e hoje até já consigo correr e saltar de novo”, conta. Espanhola de ascendência inglesa, Joanne ou Ana Banana, trabalhou vários anos em companhias de circo e na Associação Nariz Vermelho – Palhaços para Crianças Hospitalizadas. Fazer rir fazia parte do seu dia-a-dia, mas o que descobriu com o Yoga do Riso foi que, mais do que uma manifestação de boa disposição, o riso tem o potencial de libertar tensões e emoções reprimidas, algumas guardadas há muito tempo.

“O riso não é só uma manifestação de alegria. Pode ajudar a alterar o nosso estado emocional seja qual for. Quando as pessoas riem na montanha russa ou a ver um filme de terror, por exemplo, o riso está a funcionar como catarse ”, explica. Mas para o yoga do riso,  mais do que rir de alguma coisa, o verdadeiro poder do riso é quando nos rimos… de nada.


“Os portugueses são coletivamente pessimistas mas individualmente otimistas”. Joanne Gribler, fundadora da Escola do Riso (na foto ao centro).

 

 

 

 

LIGUE A IGNIÇÃO!
O yoga do riso não recorre a comédias, nem anedotas, nem palhaçada, nada. Então? Rimo-nos do quê? “De nada”. Não é preciso um motivo, garante Ana Banana, basta ‘ligar o riso’,  como num motor de um carro que uma vez ligado trabalha por si. É o que fazem as crianças, mas para os adultos não é fácil rir sem razão. Nestes, o riso está ligado ao humor e ao intelecto, o que significa que antes de rir pensamos ‘acho isto é engraçado?’ ‘É boa ideia rir neste local?’ ‘É politicamente correto?’ E só então rimos, se ainda houver vontade…

No yoga do riso tudo começa com um sorriso de hiena, durante 15 a 20 minutos ri-se de forma assumidamente artificial, sem medo. Tolo? O certo é que uns minutos bastam para o riso falso se converter em verdadeiro. Invariavelmente dá-se um fenómeno de contágio, o riso de uns sustentado pelo dos outros, num crescendo vibrante quase incontrolável. A casa não vai abaixo, mas é quase certo que se dá a implosão de todo o stresse.

Pelo menos é o que garante Ana Banana ao telefone da sua casa em Vila Nova de Poiares, convertida em quartel general da Escola do Riso de Portugal. “Não acredita, vamos experimentar ligar a ignição, tem de me ajudar…”, avisa enquanto começa a rir alto do outro lado da linha. Depois de uns segundos de incredulidade rio timidamente. Felizmente estou numa sala longe da redação e de porta fechada. Ana Banana responde ao meu riso com gargalhadas convincentes e não há como não me rir da situação, hilária, pelo que acabo a rir-me à séria. Resulta.


Há um Dia Mundial do Riso – 6 de Maio – e uma Escola do Riso, em Vila Nova de Poiares, fundada por Joanne Gribler e o marido, Jorg Helms, para quem queira fazer do riso profissão.

 

 

 

 

UMA GARGALHADA POR DIA AFASTA O MÉDICO DE CASA
Apesar das investigações indicarem que não somos o único mamífero que ri (os primatas e os ratos emitem sons similares ao riso quando estão a brincar) é inegável que o sentido de humor humano é altamente sofisticado. Existe até uma Escala Multidimensional do Sentido de Humor e parece que níveis altos correspondem a baixos índices de depressão e a maior longevidade. Não é que precisássemos da ciência para saber que quando rimos o mundo deixa de parecer tão negro, mas nada como ter provas científicas. Rir torna-se, assim, um assunto cada vez mais sério.

Um dos estudos sobre a bioquímica do riso, da autoria dos britânicos Heidi Beckam, Nathan Regier, Judy L. Young, conclui que o riso trabalha o sistema músculo-esquelético e cardiovascular tem efeitos no sistema imunológico e neuroendocrinológico e influencia o estado emocional. Isto acontece porque há libertação de endorfinas (as hormonas do bem-estar) e serotonina, a tensão arterial equilibra-se, diminui o stresse e o corpo fica com mais energia.

Daqui até alguém se lembrar de fazer do riso uma terapia foi um passo, ou melhor, uma gargalhada. O mérito é do médico indiano Madan Kataria que se lembrou de criar um Clube do Riso, em Mumbai, em 1995. Foi um sucesso tal que três anos depois se organizava uma mega manifestação com mais de 12 mil pessoas a rir à maluca. O riso é contagioso o conceito rapidamente se espalhou além-fronteiras. Neste momento há cerca de 6 mil clubes de yoga do riso em 60 países. Existe até uma Fundação Internacional do Yoga do Riso.

Portugal seguiu o exemplo em 2004 com a criação da Escola do Riso por Ana Banana. “Já formámos mais de 400 pessoas. Se pensarmos que cada uma põe, em média, 500 ou mil pessoas a rir, não tenho dúvidas que contribuímos para tornar o país mais otimista e saudável”. E claro que na conjuntura atual motivos para rir são bem-vindos. “Os portugueses são coletivamente pessimistas mas individualmente otimistas. Culturalmente há um espírito de queixume mas individualmente o espírito é positivo”. Há esperança.


Ana Castanheira fez o curso de líder no riso na escola de Joanne Gribler (Ana Banana) e dedica-se a fazer sessões de yoga do riso a grupos e empresas.

 

 

 

 

A ACTIVA FOI RIR AO JARDIM DO PARQUE DAS NAÇÕES
Em nome do conhecimento dispusemo-nos a experimentar o yoga do riso arriscando a nossa dignidade em prol dos leitores. Apesar de saber que não é preciso ter vontade de rir, confesso-me descrente em relação à eficácia do riso falso no meu estado de espírito. Vejo figuras ridículas e constrangedoras no meu futuro próximo, não vislumbro a alegria ou o êxtase. Não tenho fé. Não é preciso, garante-me Ana Castanheira, uma animadora cultural de 38 anos convertida em profissional do Yoga do Riso. “Uma das maiores descobertas da ciência recente é a de que o nosso cérebro não distingue entre o riso falso e o verdadeiro. Por isso é que o lema do yoga do riso é ‘finja, finja até que atinja’.

É normal as pessoas não terem vontade de se rir perante uma situação séria, mas é possível modificar isso e a prática demonstra-o. O melhor é que podemos usar isto em milhentas situações. Eu usei nas idas ao dentista, comecei a imaginar essa ida, o percurso e as partes dolorosas rindo: ‘ahahah, vem aí a máquina, ai ai ai, vai doer, ahahaha’ e simulava na minha cabeça e no corpo, esse riso. Das vezes que lá voltei a primeira coisa que tinha vontade de fazer quando me sentava era rir. É uma espécie de autossugestão”.


Uma das sessões da Formação de Líder Certificado de Yoga do Riso, na Escola do Riso.

 

 

 

 

 

COMBATER A SOLIDÃO…A RIR
A história do dentista convence-me, mesmo correndo o risco de parecer lunática na próxima vez que for arranjar um dente. Junto-me a uma sessão de yoga do riso liderada por Ana Castanheira em pleno Jardim do Parque das Nações. É ali que, uma vez por mês, um grupo se reúne para rir no âmbito do programa ‘Viver sem Solidão’, organizado pela delegação de Loures da Cruz Vermelha Portuguesa e pela Associação de Moradores e Comerciantes do Parque das Nações.

São sobretudo reformados moradores do bairro os frequentadores. Advogados, médicos, professores, há de tudo. O presidente da Cruz Vermelha de Loures, António Felgueiras, 70 anos, confessa-se assíduo: “Desde que o meu filho morreu que não ria, posso dizer que aqui recomecei a fazê-lo. O dinheiro não faz ninguém escapar à tragédia, posso morar na Torre de São Rafael do Parque das Nações, mas há muita solidão e desespero nos sítios mais ricos”. Maria Amaral, 69 anos, subscreve: “Podemos vir para aqui deprimidos, chegamos e libertamos toda a carga negativa e fazemos coisas que nunca pensámos”. Como entoar risos de todos os tipos, imitar animais, bater palmas ou desfilar numa passadeira imaginária perante os aplausos gerais.

“Cada um tem a sua biografia, mas aqui a história pessoal fica à porta e transformamo-nos num grupo de pessoas que riem juntas”. Pode parecer pouco, mas Vera Julião, 62, confidencia que para ela que perdeu uma filha há seis anos, é muito. “Nunca fui de rir mas desde essa altura fiquei ainda mais fechada. Isto do riso tem sido extraordinário, uma pessoa sai daqui com um espírito renovado”, partilha.


Uma vez por mês, um grupo reúne-se para rir no Parque das Nações, em Lisboa, no âmbito do Programa ‘Viver sem Solidão’, organizado pela delegação de Loures da Cruz Vermelha e pela Associação de Moradores e Comerciantes do Parque das Nações.

 

 

 

O PODER DA BRINCADEIRA
Brincar é um exercício poderoso, independentemente da idade. “O que fazemos aqui é rir como as crianças, a ideia é voltar a um estado em que nos dispomos a brincar com todas as circunstâncias, mesmo as mais difíceis”, explica Ana Castanheira. “Imaginemos que estamos no meio de um engarramento e damos por nós a ficar irritados.Se fazemos yoga do riso já aprendemos ligar a ignição para começar a rir. Quando rimos o cérebro não consegue pensar, pelo que isto pode ser considerado uma meditação do riso. Produzimos endorfinas e serotonina,  hormonas do bem-estar e do relaxamento. Ainda estamos no engarrafamento mas a irritação desapareceu”.

Dentista ou engarrafamentos são bons exemplos de situações enque uma gargalhada é bem vinda. A mensagem é que ela é sempre bem-vinda. Se quiser experimentar, de norte a sul não faltam locais para aprender esta arte. Se tiver jeito até pode converter o riso em profissão. Há cursos de líderes do riso. Só tem de dirigir-se à Escola do Riso. Escusado será dizer que estamos a falar a sério.

Vídeo: Uma intervenção da Escola do Riso na estação de metro Baixa-Chiado, em Fevereiro, mostra como a alegria e o riso podem contagiar os espíritos mais soturnos, numa segunda-feira de manhã.

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