Piloto Elisabete Jacinto satisfeita com os resultados obtidos.jpg

Jorge Cunha

– Como começou a paixão pelos ralis? O que sonhava ser quando fosse criança?

Em criança não me lembro de ter nenhum sonho que fosse muito marcante. Queria ser médica, enfermeira, cabeleireira… e o desejo ia mudando a cada dia. A paixão pelo todo-o-terreno começou já muito tarde, depois de ter tirado a carta de moto e de ter experimentado um passeio na Serra da Lousã, a “Ronda dos Castelos”. Instalou-se verdadeiramente depois de ter feito a minha primeira prova de competição, o Grândola 300, em 1992.

– Lembra-se da primeira prova em que participou? O que sentiu nesse momento?

Lembro-me como se fosse hoje. Achava que não ia ser capaz de fazer 300 quilómetros aos saltos em cima de uma moto, já que só o facto de fazer a mesma distância entre Lisboa e o Algarve por estrada me deixava bastante cansada. A adrenalina subiu a níveis muito altos! Lembro-me de sentir tantas dores musculares que, a partir de certa altura, o sofrimento começou a ser muito grande. Caí num rio e a moto não trabalhou mais porque entrou água para o motor. Faltavam apenas 30 quilómetros para terminar a prova e, apesar de não ter atingido o objectivo, estava felicíssima. Tinha-me superado e percebi que, com treino, poderia vir a fazer melhor. Tinha descoberto uma verdadeira paixão.

– Já se sentiu discriminada por ser mulher? Pode partilhar connosco alguns desses momentos?

É impossível para uma mulher praticar uma modalidade considerada masculina sem que nunca se tenha sentido discriminada. Essa impossibilidade é uma característica da nossa sociedade e eu aprendi a viver com ela… A minha opção foi sempre a de tentar ser inteligente e não me deixar abater por situações menos simpáticas. Lembro-me, por exemplo, de um jornalista marroquino ter perguntado ao meu marido se o facto de eu ter bons resultados nas provas não contribuía para desvalorizar a modalidade! Confesso até que o sentimento de irritação que daí resulta me serve de impulso para conseguir fazer melhor!

– Qual é o segredo para estar neste ‘ramo’ há tantos anos?

Penso que são vários os segredos… O primeiro talvez seja gostar muito desta modalidade e ter uma meta muito definida que ainda não atingi e que quero atingir. O segundo passa por tentar fazer bem as coisas, ser responsável, correcta, boa profissional. O terceiro resulta de ter uma excelente equipa ao meu lado.

– Já pensou em desistir? O que se via a fazer caso o fizesse?

Nunca penso na hipótese de abandonar a competição mas, se em alguma circunstância sou obrigada a pensar no assunto, sinto um nó apertado na garganta e chego sempre à conclusão que ainda não chegou o momento. Não consigo vislumbrar nada no horizonte que me realize tanto como a competição, o todo-o-terreno, a condução… a organização que tudo isto implica.

– Provas mistas ou só para mulheres… Quais os principais aliciantes e pontos negativos de cada uma delas?

Nas provas em que participo, apenas o Rallye Aicha des Gazelles é exclusivo a mulheres. Todas as outras provas são mistas e as mulheres estão em minoria. Nestas dá muito gozo ter uma boa classificação, principalmente porque sabemos que, para muitos homens, as mulheres estão ali a mais. Nas provas só de mulheres as relações humanas tornam-se mais difíceis.

– Qual foi o maior desafio com que se confrontou ao longo destes anos?

Terminar o Dakar de moto foi, sem dúvida, o maior de todos os desafios. Exigiu muito de mim e pôs à prova todas as minhas capacidades. Esta experiência deu-me a bagagem necessária para enfrentar todos os desafios, ou seja, senti-me com a força necessária para fazer tudo o que eu quisesse na minha vida.

– Quando não está em provas, como ocupa os seus dias? Faz alguma preparação especial?

Quando não estou em prova passo os dias a preparar as provas. Começo o dia a fazer preparação física. Faço-a ao longo de todo o ano, cerca de duas horas por dia. Para além deste há todo o trabalho de oficina para acompanhar e todo o trabalho de secretariado que esta actividade envolve. Depois tenho um grande conjunto de solicitações a que tenho de dar resposta, quer da parte dos patrocinadores ou da sociedade. Ando a correr de manhã á noite e não me sobra tempo para outras coisas.

– Como é a Elisabete a conduzir no dia-a-dia?

Sou uma condutora tranquila, segura e muito defensiva. Sou despachada e desenrascada sem ser acelera. Não me “pico” com os outros condutores e raramente me irrito com as atitudes pouco correctas que habitualmente se vêm na estrada. Enfim… tento evitar todo o tipo de problemas que se podem ter na estrada.

– Ausências longas, dedicação e uma profissão tida ainda como masculina… Como se mantém uma relação de tantos anos fora de uma vida dita ‘normal’?

Pode não ser fácil manter uma relação mas quando o amor existe todos as dificuldades de relacionamento se superam. Eu e o Jorge temos personalidades muito diferentes e, no passado, tivemos necessidade de fazer alguns acertos. Depois tudo se tornou mais fácil. Há que lutar por uma relação quando esta vale a pena e, por vezes, é preciso fazer concessões… Temos que nos adaptar ao outro, que nunca é aquilo que nós queremos que seja! No meu caso, porque trabalhamos em conjunto, passamos todo o tempo juntos, o que poderia acarretar algum desgaste. Contudo, aprendemos a respeitar-nos e a dar ao outro o espaço necessário. Não nos massacramos.

– Quando está em prova, o que faz para combater a solidão?

É raro sentir-me só quando estou em prova. O ritmo é sempre muito acelerado e o cansaço elimina os tempos mortos. Quando as coisas começam a correr mal e os problemas me fazem sentir com uma grande falta de ar, ponho os headphones, escolho as músicas que mais se adequam ao meu estado de espirito e entrego-me a reflexões profundíssimas sobre a razão das coisas e, nesses momentos, quase sempre acabo por tomar decisões importantes.

– Que rali ainda lhe falta fazer?

São vários os ralis que gostava de fazer e não tenho possibilidade…Por exemplo o Silk Way Rally, China Grand Rally….mas tenho consciência de que sou uma sortuda por ter a possibilidade de participar em ralis como o Africa Eco Race ou o Rallye Oilibya du Maroc pois são provas onde a navegação e a condução se completam.

Mais no portal

Mais Notícias

Dyson Car+Boat em teste: Aspirador de mão potente para as limpezas de primavera

Dyson Car+Boat em teste: Aspirador de mão potente para as limpezas de primavera

Niu KQi 100P em teste: Sofisticação a bom preço

Niu KQi 100P em teste: Sofisticação a bom preço

Caras conhecidas à procura de um verão com estilo

Caras conhecidas à procura de um verão com estilo

Ben Gonthier - Pensar Lisboa através dos seus artistas

Ben Gonthier - Pensar Lisboa através dos seus artistas

Fármaco para atrasar défice cognitivo em doentes com Alzheimer com luz verde na UE mas

Fármaco para atrasar défice cognitivo em doentes com Alzheimer com luz verde na UE mas "sob condições restritas"

A importância do envolvimento dos colaboradores

A importância do envolvimento dos colaboradores

As imagens da terceira cirurgia plástica de Fanny Rodrigues

As imagens da terceira cirurgia plástica de Fanny Rodrigues

Clima: como o Alentejo Litoral se prepara para a “guerra”

Clima: como o Alentejo Litoral se prepara para a “guerra”

Esta semana na CARAS, dossiê de moda

Esta semana na CARAS, dossiê de moda

Salão do Móvel: design e inovação em Milão

Salão do Móvel: design e inovação em Milão

Vencedores e vencidos do 25 de Abril na VISÃO História

Vencedores e vencidos do 25 de Abril na VISÃO História

Passatempo: ganha convites duplos para a antestreia de 'Super Charlie'

Passatempo: ganha convites duplos para a antestreia de 'Super Charlie'

Clima, risco, banca e crédito: o preço da (in)sustentabilidade

Clima, risco, banca e crédito: o preço da (in)sustentabilidade

45 anos de Jornal de Letras

45 anos de Jornal de Letras

Novo restaurante em Lisboa conquista caras conhecidas

Novo restaurante em Lisboa conquista caras conhecidas

Pigmentarium: perfumaria de nicho inspirada na herança cultural da República Checa

Pigmentarium: perfumaria de nicho inspirada na herança cultural da República Checa

Andrew Tate não é um monstro

Andrew Tate não é um monstro

CARAS Decoração: 20 estantes e prateleiras para deixar a casa organizada

CARAS Decoração: 20 estantes e prateleiras para deixar a casa organizada

Diz

Diz "obrigado" ao ChatGPT? Boa educação dos utilizadores custa dezenas de milhões de dólares à OpenAI

CARAS Decoração: a obra de Calatrava numa edição de arte limitada

CARAS Decoração: a obra de Calatrava numa edição de arte limitada

Olga Roriz - Há 30 anos a marcar a dança contemporânea

Olga Roriz - Há 30 anos a marcar a dança contemporânea

A Natureza Como Arquiteta do Futuro: Construindo Cidades Resilientes

A Natureza Como Arquiteta do Futuro: Construindo Cidades Resilientes

Doces da Páscoa.

Doces da Páscoa. "Um dia não são dias" ou há um perigo real em comer de uma só vez um pacote de amêndoas ou um ovo dos grandes?

Histórias de mulheres e das suas emoções durante a Guerra Colonial

Histórias de mulheres e das suas emoções durante a Guerra Colonial

Receita de Bolo de família com leite condensado, por Cátia Goarmon

Receita de Bolo de família com leite condensado, por Cátia Goarmon

Ana Bacalhau: “A rádio teve um papel resgatador na minha vida”

Ana Bacalhau: “A rádio teve um papel resgatador na minha vida”

De Zeca Afonso a Adriano Correia de Oliveira. O papel da música de intervenção na revolução de 1974

De Zeca Afonso a Adriano Correia de Oliveira. O papel da música de intervenção na revolução de 1974

Luísa Sobral dá longos passeios no final da gravidez

Luísa Sobral dá longos passeios no final da gravidez

VOLT Live: o novo site com (quase) tudo sobre mobilidade elétrica

VOLT Live: o novo site com (quase) tudo sobre mobilidade elétrica

Adia várias vezes o alarme de manhã? O problema que pode estar por detrás da

Adia várias vezes o alarme de manhã? O problema que pode estar por detrás da "mania"

BYD estreia nova marca na Europa com carro elétrico de 1000 cavalos de potência

BYD estreia nova marca na Europa com carro elétrico de 1000 cavalos de potência

Indústria espacial: Quando o céu já não é o limite para Portugal

Indústria espacial: Quando o céu já não é o limite para Portugal

Bárbara Branco e José Condessa em cenas eróticas em

Bárbara Branco e José Condessa em cenas eróticas em "O Crime do Padre Amaro"

Passatempo: ganha sets LEGO® Minecraft®

Passatempo: ganha sets LEGO® Minecraft®

Que histórias nos contam os painéis de Almada nas gares marítimas?

Que histórias nos contam os painéis de Almada nas gares marítimas?

A desenhar é que a gente se entende

A desenhar é que a gente se entende

Tarifar, retaliar, tarifar... A história (muito antiga) das guerras comerciais

Tarifar, retaliar, tarifar... A história (muito antiga) das guerras comerciais

Pandoland: Produtora de Pokémon desenvolve novo jogo RPG para smartphones

Pandoland: Produtora de Pokémon desenvolve novo jogo RPG para smartphones

A revolução dos robots em Portugal. A reportagem que valeu à VISÃO Saúde Prémio de Jornalismo

A revolução dos robots em Portugal. A reportagem que valeu à VISÃO Saúde Prémio de Jornalismo

Os

Os "looks" na passadeira dos Prémios Play

Filha transgénero de Naomi Watts e Liev Schreiber desfila pela primeira vez em Paris

Filha transgénero de Naomi Watts e Liev Schreiber desfila pela primeira vez em Paris

Um novo estúdio em Lisboa para jantares, showcookings, apresentações de marcas, todo decorado em português

Um novo estúdio em Lisboa para jantares, showcookings, apresentações de marcas, todo decorado em português

Guia de essenciais de viagem para a sua pele

Guia de essenciais de viagem para a sua pele

Salgueiro Maia, o herói a contragosto

Salgueiro Maia, o herói a contragosto

No filme

No filme "Marcello Mio", Chiara Mastroianni transforma-se no seu pai