*artigo publicado originalmente em janeiro de 2015
E se o seu chefe a chantageasse e a obrigasse a trabalhar 16 horas por dia? Ou se lhe prometesse uma promoção, obrigando-a a esforçar-se a dobrar, e depois não cumprisse? E se a chamasse ao gabinete e dissesse: “Tens de despedir todas as pessoas gordas desta empresa” – não ele, que tem essa função, mas você, tornando-a a má da fita de serviço.
Se estes casos parecem saídos de filme… é porque são. Trata-se do enredo de ‘Chefes Intratáveis’, a comédia de 2011 protagonizada por Kevin Spacey, Colin Farrell, Jennifer Aniston, Jason Bateman e Jason Sudeikis, em que três amigos tiranizados pelos seus chefes cedem ao desespero e chegam a pensar em matá-los para poderem ter paz.
Mas isto de ter psicopatas como chefes não sai apenas da imaginação dos argumentistas de Hollywood. Um em cada 25 executivos de empresas demonstra traços de psicopatia, como concluiu uma investigação dos psicólogos clínicos Paul Babiak e Bob Hare. O teste de 111 perguntas que aplicou a CEOs, directores e vice-presidentes de grandes empresas descobriu que 4% demonstravam tendências psicopáticas – contra 1% de propensão na população em geral. Estes senhores não andam por aí com facalhões, atrás de donzelas desprotegidas. Os especialistas chamam-lhes psicopatas funcionais porque se adaptam à vida na sociedade, cumprem as suas regras (pelo menos aparentemente), chegando a posições de liderança.
O PERFIL DO PATRÃO RUFIA
O chefe que lhe faz a vida negra sem razão não é mais do que um upgrade da versão do rufia do recreio da escola, aquele que lhe roubava o almoço e lhe chamava ‘caixa de óculos’ ou ‘badocha’. Mas antes de contratar um assassino a soldo – não se desgrace… – importa aprender a reconhecê-los.
– Há dois tipos de chefes bullies: aquele que intimida, grita, humilha, discrimina, e até assedia continuamente, e aquele que é o Senhor Certinho à segunda-feira e a reencarnação do Átila à terça, diz Lynn Taylor, especialista em relacionamento laboral e autora de ‘Tame Your Terrible Office Tyrant’ (Domine o seu terrível tirano do escritório), citada pela revista ‘Forbes’. Enquanto os primeiros agem de modo descaradamente déspota, sendo mais fácil arranjar provas para uma queixa legal, os segundos são suficientemente espertos para não lhe darem material suficiente para lhes pôr um processo em cima.
– É manipulador e precisa de sentir que está no controlo, como apontam a socióloga Graciela Chiale e a psicóloga Gloria Husmann, autoras de ‘Como fazer frente aos manipuladores’ (Sinais de Fogo). Às vezes porque não tem segurança no seu próprio trabalho e competência, outras vezes porque acha que sabe tudo e faz melhor que os outros.
– Desvaloriza as ações dos outros e culpabiliza os outros de tudo, escrevem ainda as autoras.
– Podem ser muito mauzinhos para os subordinados e uns doces para quem está acima, na hierarquia.
COMO LIDAR COM ELE
– Esteja atenta aos sinais que podem desencadear os ataques de fúria. Se ele reage mal ao stresse, tente minimizar os fatores, aconselha Lynn Taylor. E se alguém o enxovalhou a ele, evite-o sempre que puder: ele vai querer descontar, provavelmente, em quem está abaixo.
– Ponha limites e aprenda a dizer não. De forma educada e assertiva, claro. Não ganha nada em ser mártir e aturar tudo, e a sua empresa também não, diz Taylor.
– Reforce positivamente o comportamento do chefe, sempre que ele não se comportar como um tirano, aconselha Taylor. Os bullies, afinal, são como crianças. Diga-lhe que ele a inspira a trabalhar mais e melhor sempre que for educado e correto.
– Fale com colegas de confiança para perceber se o mesmo se passa com eles. E peça-lhes conselhos, sobretudo se já lidarem com ele há mais tempo.
– Seja sintética na comunicação, aconselham Chiale e Husmann. Use frases curtas – “lembre-se de que tudo o que disser poderá ser usado contra si”. Não se justifique demasiado, também. Isso só lhe dá mais poder.
– Mantenha registos escritos de tudo que lhe foi pedido: peça-lhe sempre indicações em memorando ou email. Registe também todas as situações de má conduta, com datas. Se os colegas puderem servir de testemunhas, melhor ainda.
– Se tudo falhar, fale com os Recursos Humanos da sua empresa. Veja se é possível mudar de departamento. Ou peça aconselhamento legal ao seu sindicato.
QUEM SÃO AS VÍTIMAS DE BULLYING NO TRABALHO?
Este problema é transversal a várias culturas e chega a preocupar algumas aurtoridades e organizações. O Governo do Reino Unido tem uma página sobre bullying no local de trabalho, na qual dá exemplos deste tipo de tratamento:
– Espalhar boatos, denegrir a reputação ou humilhar o outro.
– Ofensas e intimidações, onde se contam ameaças injustificadas à segurança laboral.
– Tratamento discriminatório (retirar-lhe responsabilidades
e atribuir-lhe tarefas que mais ninguém quer fazer).
– Assédio e chantagem sexual.
– Negar oportunidades de formação ou promoção ao funcionário.
– Minar o trabalho de um colaborador competente, sobrecarregando-o, atribuindo-lhe prazos impossíveis
de cumprir e inundando-o de críticas destrutivas.