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Espanha tem feito manchetes pelos piores motivos. Este é um dos países europeus mais afetados pelo coronavírus, com 223 mil casos confirmados e mais de 26 mil mortos (até ao momento da publicação deste artigo).
André Gomes vive em Alicante, na Comunidade Valenciana, desde 2015. Quando pensa na sua rotina antes do surto pandémico, vêm-lhe à memória momentos felizes, como sair para o chamado “tardeo”, durante as tardes de sábado, em que todos os bares e discotecas estão cheios a partir do meio dia. “É muito animado e uma ótima forma de conhecer pessoas”, revela.
Agora, tudo mudou. A vida social preenchida com almoços e jantares entre amigos, jogos de futebol, corridas de obstáculos e maratonas – ou não fosse o jovem um verdadeiro amante de desporto – deu lugar a oito horas de trabalho remoto, a teleconferências e a treinos através de aplicações. As reuniões com o seu círculo mais próximo continuam a acontecer, mas através de ecrãs. “Sinto falta do contacto com pessoas, dos abraços e dos contacto físico. Mas as novas tecnologias, quando bem utilizadas, fazem com que não nos sintamos sós”.
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Que medidas de distanciamento social estão em vigor em Espanha?
O governo decretou o estado de emergência no dia 15 de março. Isto significa que não podemos sair de casa, a não ser para ir ao supermercado. As multas por incumprimento da lei vão desde os 100 aos 600 mil euros.
Consideras que está a ser feito um bom trabalho no combate ao surto pandémico?
Penso que nenhuma sociedade está verdadeiramente preparada para combater uma pandemia. Podia ter sido melhor, mas também podia ter sido pior. O governo está a implementar medidas para aliviar a sobrecarga do sistema nacional de saúde e, ao mesmo tempo, criou um Expediente Temporário de Regularização Temporário de Emprego [ERTEs, na sigla espanhola], de modo a proteger os empregos e a garantir que não há um colapso da economia. Os funcionários abrangidos por estes programas de layoff serão pagos temporariamente pelo Estado, até que a situação volte ao normal. Uma vez reinseridos nas respetivas empresas, eles não poderão ser despedidos durante alguns meses.
Então, dás nota positiva ao governo?
Em relação às medidas, sim, especialmente tendo em conta que Espanha tem mais de 45 milhões de habitantes, é um dos países com mais turismo do mundo e, ao mesmo tempo, um dos mais envelhecidos.
A única nota negativa deste episódio vai para o sensacionalismo dos meios de comunicação e para a falta de transparência em relação aos dados desta doença. Criou-se um clima de medo e aflição tão grande que as pessoas saíram para comprar papel higiénico em massa. Além disso, os media estão a criar uma crise totalmente especulativa, quando o que existe, de momento, é uma desaceleração sincronizada da economia. A maior parte da população continua a receber salários (pagos pelas empresas, pelo Estado ou pela segurança social).
“Ajudamo-nos entre vizinhos e aplaudimos a polícia. Nos supermercados, as pessoas respeitam a distância de segurança e estão sempre dispostas a ajudar”.
Como é que os espanhóis estão a encarar a situação?
O espírito coletivo é muito forte. Todos os dias, sem exceção, saímos às janelas para pôr música e batemos em panelas, para homenagear os profissionais de saúde.
Para os espanhóis, esta situação é particularmente difícil, porque se trata de um povo muito caloroso e habituado ao convívio. Mas, ao mesmo tempo, são muito unidos e empáticos. Por uma questão de respeito e de consciência de que isto é temporário, as pessoas têm acatado as medidas de distanciamento.
No teu caso, é possível estar em regime de teletrabalho?
No meu caso, como sou consultor e faço a gestão de projetos com clientes, não mudou nada. Continuo a ter reuniões (virtualmente) e a desempenhar as mesmas funções. Nestas circunstâncias, obviamente, os indicadores de sucesso mudam e os prazos também ganham outra proporção.
Como é sair de casa, em Espanha, em tempos de quarentena?
Depende da região. No meu caso, em Alicante, eu só saio para ir ao supermercado e sinto-me como se estivesse na série ‘Walking Dead’: quase ninguém à vista, devido ao tamanho do espaço e porque só é possível entrar um determinado número de pessoas de cada vez.
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Fotografia: André Gomes
Neste momento, do que mais sentes falta?
Tenho saudades da minha família, que vive em Portugal, de correr, das montanhas e das praias, de conviver com amigos e, como não podia deixar de ser, de ter intimidade física.
Que lição está a aprender com o isolamento?
Estou a aprender que não devemos tomar nada por garantido na vida e que a paciência é uma virtude. A nível profissional, existe muito potencial nesta nova forma de trabalhar e sinto-me um privilegiado por estar em casa e poder continuar a fazer aquilo de que gosto.