Tenho um defeito. Conhecem a famosa expressão “não julgues um livro pela capa”? Pois. Para mim, por vezes, é difícil não o fazer. Tomando a frase no sentido literal, quando vou a uma livraria sem saber bem o que quero, é raro pegar num livro cuja capa não me atraia. Não me olhem assim, sei que não sou a única.
Esta semana, voltei a limpar o pó à prateleira de livros cá de casa. O desafio (além da atrocidade que é ter de passar um pano num local cheio de objetos para levantar) foi voltar a pegar naquela obra que eu nunca compraria pela capa, mas que me ensinou uma enorme lição. E, claro, tentar resumi-la aqui.
Chama-se “O Homem em Busca de um Sentido” e conheci-o através do Instagram do Fred Canto e Castro, que criou a Sonder People. Decidi arriscar e, embora o título e capa não fossem o mais apelativos, a história deixou-me curiosa. A premissa é simples: um psicoterapeuta que sobreviveu a Auschwitz explica um método para nos libertarmos do sofrimento.
Após contar a própria história, através do relato detalhado de experiências desumanas num campo de concentração, Viktor E. Frankl passa a explicar a Logoterapia – o nome dado à técnica que desenvolveu para ultrapassar períodos de maior dor. Neste método, “o paciente (…) tem de ouvir coisas que por vezes são muito desagradáveis de ouvir“, começa por explicar.
Frankl diz que a logoterapia, “concentra-se antes no futuro, ou seja, nos significados a serem preenchidos pelo paciente no seu futuro”. E este é um recurso em que a palavra “sentido” é essencial. “De acordo com a logoterapia, este esforço para encontrar um significado na nossa vida é a principal força motivadora do Homem“, garante.
O psicoterapeuta cita um sondagem feita em França que mostrou, entre outros resultados, que: “89 por cento das pessoas questionadas admitiram que os seres humanos precisam de ‘alguma coisa’ por que viver” e que “61 por cento reconheceram que existia alguma coisa, ou alguém, nas suas vidas, por quem estavam mesmo dispostas a morrer“.
Ora, foi precisamente isto que fez com que o autor sobrevivesse a Auschwitz. “A busca de sentido por parte dos seres humanos pode causar tensão interior em vez de equilíbrio“, diz, afirmando que esta tensão é indicativa da saúde mental. Quando estava no campo de concentração, Frankl superava obstáculo atrás de obstáculo com o pensamento de um dia voltar a ver a mulher, bem como de terminar um manuscrito que lhe fora confiscado.
“A saúde mental está fundada num certo grau de tensão, aquela tensão entre o que já realizámos e aquilo que ainda queremos alcançar, ou o espaço entre o que somos e aquilo que pretendemos vir a ser“, escreve.
E como encontrar um sentido para a vida?
Viktor explica que não devemos procurar algo muito geral ou abstrato, já que o sentido de vida varia de pessoa para pessoa e a cada instante. “O que importa, por isso, não é o sentido da vida em geral, mas antes o sentido específico da vida para uma pessoa num dado momento”, continua, acrescentando que “a logoterapia encara a responsabilização como sendo a própria essência da existência humana“.
Perto do fim da obra, o psicoterapeuta revela que há três formas de descobrirmos um sentido para a vida: “1) criando uma obra ou praticando uma façanha; 2) vivendo uma experiência ou encontrando alguém; e 3) por meio da atitude que assumimos ante um sofrimento inevitável“. No caso da segunda, destaca o papel do amor, “a única maneira de compreender outro ser humano no fulcro mais íntimo da sua personalidade“.
Finalmente, Frankl aborda a logoterapia enquanto técnica, relatando, por exemplo, o caso de um médico que se conseguiu libertar da sudação excessiva, ou de um jovem com gaguez grave que conseguiu voltar a falar normalmente. Como? Através da intenção paradoxal.
“O procedimento consiste numa inversão da atitude do paciente, na medida em que o seu medo é substituído por um desejo paradoxal“, explica.
Ou seja, sua muito? Em vez de ficar ansioso, com receio de o fazer, diga para si mesmo “até agora, só suei cerca de um litro, mas agora vou verter pelo menos uns dez!“. Ao desejar o oposto daquilo que realmente pretende que aconteça, consegue um “autodistanciamento inerente ao sentido de humor“. Porque não há nada como sermos capazes de nos rir de nós próprios.
Qual o livro que mais a surpreendeu ou ensinou? Conte-nos tudo, nas redes sociais, utilizando a hashtag #cartabranca, e identificando a ACTIVA. Até quinta!