Quem conhece a zona do Oeste, sabe o quanto o tempo pode ser imprevisível. O mais certo é sairmos de Lisboa com sol e sermos recebidos no destino com um cortejo de nuvens, mais conhecido na gíria como ‘capote’. Talvez por isso os dias bons tenham por lá um sabor especial. Foi assim que aconteceu numa escapadinha de fim de semana à Nazaré, com outubro a mais de meio e a tempestade Bárbara anunciada para a segunda-feira imediatamente a seguir. A previsão meteorológica dava temperatura amena, a rondar os 20 graus, e céu azul polvilhado por nuvens altas, pelo que guardámos os fatos de banho na mala e libertámos todos os níveis de expetativas quanto às crianças experimentarem as piscinas e o parque aquático.
Chegámos sexta-feira ao OHAI Nazaré Camping Resort era já noite cerrada e a zona do Glamping envolta numa penumbra de mistério, algo dramatizado pelos pelos pinheiros altos e imponentes. Se havia calma, deixou de haver com o entusiasmo das crianças: era a primeira vez que acampavam ainda que insistíssemos não se tratar bem de um acampamento. Como prova, as camas ultraconfortáveis, o banho com pressão e quentinho, a kitchenette equipada e o ar condicionado! Mas nem conseguimos chegar às alegações finais, estando eles muito mais interessados em explorar a tenda de luxo e a subir e descer as escadas de madeira que davam para o seu quarto no andar de cima, onde podiam aceder ao YouTube refundidos debaixo do edredon.
Ainda em Lisboa, foi o traçado um plano, mas a minha experiência diz-nos que os planos existem para serem, na maior parte das vezes, ignorados. Foi o que aconteceu. Vimos as ondas da Nazaré? Não. Fomos ao Sítio? Não? Chegámos a sair do OHAI? Não. E, sem saber, era disso que estávamos todos a precisar: passar um fim de semana em família, ao ar livre, com todo o distanciamento que 8 hectares permitem, e sem ter de pegar no carro, nem para ir almoçar ou jantar. E, em tempo de pandemia, não há muito melhor do que isso. As crianças, entre as piscinas e o parque, cumprindo todas as regras de segurança. Os adultos, entre leituras na espreguiçadeira e os campos de padel. As refeições, entre o snack bar ao almoço e o acolhedor restaurante Dasos ao jantar. E em todas as ocasiões, um staff disposto a tornar a nossa experiência a melhor possível.
E ainda deu para ver estrelas! No sentido mais literal, felizmente. A atividade em família proporcionada pelo OHAI esteve a cargo do projeto Dark Sky Alqueva, um autêntico planetário ao ar livre que nos fez ficar a olhar para o céu durante quase uma hora. E vimos Marte, a olho nu, o que só voltará a acontecer daqui a dois anos. Ficámos com muita vontade de ir ao alentejo para repetir a experiência, pois dizem-nos que lá o céu é ainda mais estrelado (tem menos luz a poluir) e o telescópio mais potente.
Ficámos também com muita vontade de voltar ao OHAI (que nesta altura abre apenas aos fins de semana), agora que sabemos que as ‘tendas’ do Glamping estão perfeitamente preparadas para os dias mais frios – e ainda há a possibilidade de ficar nos bungalows e apartamentos. Depois de um fim de semana revigorante e reconciliados com a Natureza, regressámos a casa muito mais capacitados para lidar com o mau temperamento de Bárbara. É que, em tempo de pandemia, convém lembrar que depois da tempestade vem sempre a bonança…